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Carnavalize

por Beatriz Freire e Léo Antan.

"Do Setor 1 à apoteose" propõe uma viagem completa por um desfile marcante da história carnavalesca, da concentração à Apoteose, passando dos antecedentes, contextos, histórias de bastidores e análise de todos os quesitos. Um verdadeiro desfile de informações sobre a apresentação escolhida.




Em 2010, ano de virada da década, a escola do Borel levou à Sapucaí o enredo "É Segredo", disposto a mexer com os olhos, as reações e a imaginação do público. A linha da história a ser contada passou por grandes segredos do mundo e suas respostas – ou a falta delas, além de vestígios do desconhecido, mágicas, chaves e fórmulas secretas, pergaminhos misteriosos, decifração de questionamentos... enfim, tudo que tentamos desvendar. Numa ilusão de ótica, a Unidos da Tijuca instigou as arquibancadas e fez daquele domingo de carnaval mais uma página riquíssima em seu livro e na história da Marquês de Sapucaí. Hoje, o Carnavalize te conta todos os segredos decifrados – ou não – desse desfile marcante do povo do Borel. 


Cinzas na poeira da memória...


O desfile tijucano de 2009, assinado por Luiz Carlos Bruno.
A azul e amarelo não vinha de um bom resultado do carnaval de 2009. A agremiação amargou um nono lugar após um desfile irregular sobre a relação do homem com o céu. Desde 2006, quando perdeu Paulo Barros, o Pavão conseguiu ficar a frente de seu ex-carnavalesco em 2007 em 2008, com desfiles leves e eficientes assinados por Luiz Carlos Bruno. Barros retornou à escola após uma rápida passagem pela Vila Isabel em 2009, quando se juntou a Alex de Souza já no meio da preparação para o enredo sobre o centenário do Teatro Municipal. 

A volta do casamento criou expectativa no mundo do samba, porém a escola foi sorteada como a terceira de domingo, o que diminuía as chances da briga por boas posições, em tese. No pré-carnaval, um enredo sobre o Cirque Du Soleil chegou a ser ventilado na mídia, mas negado para o anúncio da linha sobre os grandes mistérios da humanidade, sugerido a Paulo Barros por um menino em sua rede social. 



O seu olhar vou iludir!

Como terceira de domingo, a Unidos da Tijuca entrou sem maiores expectativas do grande público, precedida por um desfile da Imperatriz sobre as religiões brasileiras. Entretanto, tudo mudou quando a comissão de frente já iniciou sua exibição no setor 1. O quê? Como? Nossa! Uau! Surpreendendo os espectadores, a comissão realizava trocas de roupas num piscar de olhos. Coreografado por Priscila Mota e Rodrigo Negri, bailarinos do Municipal que davam expediente no Borel desde 2008, o grupo era dividido em dois, que se revezavam nos truques de mágica. Com o apoio de um grande tripé cenográfico, que trazia a figura de um mágico, foi uma das primeiras comissões a trazer componentes escondidos do público que iam e voltavam conforme o andamento da coreografia. Composto por cerca de 30 pessoas, as mulheres realizavam uma passada inteira dos passos marcados e voltavam ao tripé para se arrumarem novamente, enquanto um novo grupo saia e se exibia. O truque da troca rápida de roupa foi importado de um show americano e era feito através de um figurino em várias camadas, que iam aparecendo e desaparecendo conforme a manipulação das bailarinas. 

O espetáculo surpreendeu a todos, marcando um novo período das aberturas das escolas, onde elas se consolidaram como um verdadeiro show de início, abusando dos truques de mágicas e ilusionismo, tendo como missão surpreender o público e deixar o clima lá no alto para o resto da escola. 

Após a histórica abertura, bailava o casal de mestre-sala e porta-bandeira, também uma novidade naquele ano. Marquinhos e Giovanna faziam sua estreia na Tijuca, após brilharem mais de uma década na Mangueira. Eles entraram no lugar da porta-bandeira Lucinha Nobre e do Mestre-Sala Ubirajara, que também se despediram após uma passagem vitoriosa por lá, com direito à várias premiações. O bailado do casal garantiu os 30 pontos válidos, não atingindo a nota máxima em apenas um 9,9 descartado. 


O desconhecido, no tempo perdido


A abertura da escola continuava impactante com o pirotécnico abre-alas criado por Barros para a apresentação. Nele, vinha representada a Biblioteca de Alexandria que se incendiava, queimando muitos segredos e histórias perdidas no tempo. Na frente, grandes esculturas gregas, como a famosa Laocoonte e seus filhos, foram reproduzidas fielmente. Juntos, abre-alas e comissão marcaram uma abertura já apoteótica, que surpreendeu e arrebatou o público, deixando a expectativa e animação nas alturas. 

A escola desfilou com 32 alas, 6 alegorias e 4 tripés, divididos em cinco setores, fora a abertura. O primeiro setor batizado de "Conta a lenda" fazia um passeio por segredos de antigas civilizações, antes da era Cristã. Com três elementos cenográficos que representavam a "Arca Sagrada", as "Minas do Rei Salomão" e o "Cavalo de Troia", este todo construído com pequenos pedaços de madeira de demolição, resultando um lindo trabalho estético. O setor era encerrado com a marcante alegoria que simbolizava os "Jardins Suspensos da Babilônia", onde foi usado um enorme número de plantas de verdade. 

"Vestígios" era o segundo setor, retratando mistérios perdidos no tempo. Um belo tripé chamado de "Onde Jaz a Rainha?", trazia um grupo coreografado como se estivessem puxando o túmulo de Cleópatra. Logo depois, o segundo casal representava os náufragos, com um visual inspirado no filme "Piratas do Caribe". O Egito vinha representado na terceira alegoria, que encerra o setor; "Em busca do tempo perdido" era um grande pergaminho com uma estrutura que girava a partir dos componentes que davam movimento ao carro. 

As seis alegorias criadas por Paulo Barros, mais dois tripés.




Depois dos reinos antigos, "A identidade secreta" era o tema do 3 setor da agremiação, explorando o universo de super heróis e da cultura pop. A bateria vinha vestida de Máfia, além das alas da Liga da Justiça e do Fantasma da Ópera levavam a alegoria "Na calada da noite, sempre alerta", que trazia uma grande rampa, onde ora subiam homens-aranhas e ora desciam batmans de esquis, numa coreografia que levantava o público. A "Investigação" era a proposta do próximo quadro, que trazia fantasias divertidas como a "Um triângulo de bermudas" e "Tem ET na área?", a mística Área 51 foi representada no quinta carro da escola tijucana. Com um formato quadrado, a alegoria ficou marcada ao trazer um sósia de Michael Jackson. 

A última alegoria da apresentação.
Para finalizar, a grande apresentação, o setor "A tentação é descobrir" brincava com elementos da natureza. A sexta e última alegoria, "O seu olhar vou iludir", buscava hipnotizar o público com sombrinhas que giravam em espiral. A grande massa de componentes também formava o pavão, símbolo da escola, na alegoria mais fraca daquele desfile. No mapa de notas, o Borel faturou 50 em fantasias e alegorias, enquanto no quesito enredo foram 4 notas máximas e apenas um 9,9 descartado. As alegorias se destacaram pelo acabamento bem realizado, muito diferentes do que Barros havia apresentado anteriormente. A proximidade com Alex de Souza na Vila, no ano anterior, deu ao carnavalesco pop mais requinte na criação dos adereços. 


Unidos da Tijuca, não é segredo eu amar você!

O samba composto Julio Alves, Marcelo e Totonho, foi entoado por Bruno Ribas em seu segundo ano pela escola tijucana, e tinha uma letra fácil, com um verdadeiro "refrão chiclete". A simplicidade da letra e a melodia básica, porém agradável, conquistou o público e cumpriu seu papel principal de animar as arquibancadas e garantir o canto constante dos desfilantes. Mais embalados pelo alvoroço do que propriamente pela estrutura da composição, o quesito samba-enredo perdeu apenas um décimo no dia de julgamento. O samba de "É Segredo" virou mais um daqueles fáceis e inesquecíveis que todo simpatizante da folia tem na pontinha da língua.

A bateria, por sua vez, ficou sob o comando do Mestre Casagrande. Honrando o apelido, a Pura
Cadência manteve um bom andamento e teve até paradinha especial para que os ritmistas "mafiosos" da bateria, reinada por Adriane Galisteu, pudessem passar junto a um elemento alegórico que simbolizava um carro antigo. A escola perdeu, desconsiderando a nota 9,7 do descarte, um décimo no quesito, resultado bem melhor que o ano interior. 

Em harmonia, conjunto e evolução, o Pavão também faturou ótimas notas, iniciando um processo de profissionalização da agremiação, que a transformaria numa escola técnica e defensora de quesitos, bem no modelo que a Imperatriz e, logo depois, a Beija-Flor consagrariam. Vale destacar, nesse sentindo, o trabalho sempre competente de Ricardo Fernandes, que foi um dos responsáveis pela organização desses quesitos na Imperatriz e repetiu a fórmula no Borel. 

Cuidado, o que se vê pode não ser... Será?

Mesmo depois de mais nove escolas desfilarem, a Unidos da Tijuca se fixou no imaginário do público. Depois do show de animação, era grande a expectativa por uma boa colocação entre as seis melhores. A quarta de cinzas trouxe, então, momentos de muita felicidade. Gabaritou quesitos como samba-enredo, harmonia, conjunto, evolução, mestre-sala e porta-bandeira, fantasias, comissão de frente, alegorias e adereços e enredo; para resumo: com os descartes, a escola do Borel perdeu apenas um décimo no quesito bateria, justamente o que lhe separou de fazer o tão sonhado desfile "tecnicamente perfeito", mas não lhe separou do tão sonhado campeonato. Após 76 anos sem vencer, a escola tijucana conquista seu segundo título da história, quebrando o enorme jejum e ressurgindo com força, ocupando sempre o papel de uma das protagonistas da folia.

Nas premiações, a agremiação faturou dois Estandartes de Ouro, um de melhor escola e outro de comissão de frente. Ganhou ainda diferentes troféus de desfile, comissão, carnavalesco e intérprete, em diferentes premiações, como Estrela do Carnaval, Tupi Carnaval Total, S@mba-Net, Tamborim de Ouro e Plumas e Paetês. Consolidando um desfile histórico da nossa folia, vivo até hoje na memória e responsável pela aproximação de várias gerações ao carnaval.

A tentação é descobrir! 

Além de uma análise completa da apresentação, o Carnavalize busca pessoas que viveram e presenciaram o desfile abordado para narrar sua experiência vivida. Convidamos uma integrante da icônica comissão daquele ano para contar como foi fazer parte desse momento histórico. Alessandra do Valle é bailarina do Municipal e realizou as rápidas trocas de roupas diante do público. Confira:
Alessandra do Valle fantasiada pra participar do desfile de 2010.


"Eu já tinha desfilado antes em carros coreografados então pra mim a sensação de pisar na avenida como comissão de frente seria mais ou menos a mesma. Só que não rs foi bem diferente! Primeiro porque tinha toda aquela tensão da troca dos vestidos. A gente ensaiou muito, mas na hora é tudo bem diferente, né. Quando eu cheguei na avenida e me deparei com aquela multidão de gente eu fiquei meio que em choque. Que energia boa que vem daquele lugar! 

Alessandra descreveu a sensação de ver o público reagir às coreografias:

Quando fizemos nossa apresentação no setor 1 foi uma das sensações mais incríveis que eu já vivi. As pessoas estavam perplexas querendo saber como a gente tinha feito aquilo. Saímos do setor 1 com os gritos de é campeã! Eu ria e chorava de emoção ao mesmo tempo! Depois do desfile a sensação de de ver cumprido foi mais maravilhosa ainda. Ganhamos todos os prêmios naquele ano, tivemos nota 10 de todos os jurados e continuamos fazendo  apresentações durante o ano todo. Participar dessa comissão de frente foi uma das maiores emoções que eu já vivi. É sempre muito bom trabalhar com pessoas alto astral e tão queridas como a Pri  e o Rodri. Amo todos os amigos que fiz lá. Foi muito maravilhoso fazer parte dessa família! 

Sou Tijuca, vou além...


"É Segredo!" marca o principal trabalho de Paulo Barros na Sapucaí, ao articular truques de mágica e figuras do imaginário pop, o carnavalesco estabeleceu uma relação direta com o público, com surpresas e truques inesperados. A Comissão de Frente se tornou uma das mais emblemáticas da folia, sendo ponto de virada para um novo momento do gênero dos desfiles atualmente, para o bem e para o mal. Apaixonando um público amplo, a agremiação Tijuca se tornou uma escola jovem e de novos torcedores, abrindo terreno para seus próximos títulos e fixando como uma das principais agremiações do século XXI.



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por Guilherme Peixoto



Estariam medicina e samba tão conectados assim? Gustavo Clarão, compositor e ex-presidente da Viradouro, largou a profissão para se dedicar exclusivamente ao samba. Hiram Araújo, 87, outro ícone da cultura carnavalesca, também tinha a área da saúde como atividade profissional. Falecido nesta sexta-feira, Hiram era historiador da folia e teve papel fundamental no processo de expansão das escolas de samba.

A dedicação de Hiram (centro) ao carnaval, rendeu ao médico o título de professor honoris causa em 2006.
(Foto: Reprodução/LIESA)

Além de atuar na seção cultural da Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA), Hiram também teve participação na pesquisa e elaboração de incontáveis enredos. Um grande exemplo“Terra da vida”, popularmente conhecido como “Ilu Ayê”, feito na Portela, em 1972.

O historiador foi mentor do primeiro departamento cultural de uma agremiação, criado em 1967, na Imperatriz Leopoldinense. “Hiram viveu o carnaval de perto, meteu a mão na massa, e também o pensou historicamente, a partir dos departamentos culturais”, conta o jornalista Fábio Fabato.  A ideia implantada por Hiram fez tanto sucesso, que até hoje é seguida por escolas de várias partes do país. “[Hiram] Foi um dos pioneiros a mostrar para as próximas gerações que a festa não é mera diversão, mas discurso de Brasil”, completa o jornalista.



Em 2012, Hiram Araújo foi homenageado na Intendente Magalhães. À época no Grupo E, o Arame de Ricardo apresentou o enredo “Com prazer... Hiram Araújo!”. O pesquisador de carnaval também chegou a dar expediente como comentarista das apresentações na Marquês de Sapucaí.  A vida de Hiram é resumida em uma frase por Fábio Fabato: “Viveu a Portela, não temeu as críticas, e tem lugar entre os melhores apaixonados pela festa". 




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Justificativa
A Unidos de Vila Maria mergulha em um mundo mágico e enigmático, onde a alegria, as cores, os sabores e a energia paradisíaca encantam quem o conhece: MÉXICO
O México em toda a sua exuberância, com personalidades que enchem o mundo de beleza e felicidade.
Em foco, Roberto Bolaños (o criador do Chaves) que, com seu humor inocente, faz a todos rirem muito. Esse talento mexicano é o grande condutor dessa viagem fantástica a um dos recantos culturais mais belos da Terra!
Portanto, mergulharemos na terra dos Astecas e Maias ao longo da História e essa viagem será contada por Bolanõs, idealizada e apresentada pela nossa escola.
Arriba, muchachos e muchachas! A comunidade da Vila vem com tudo e promete fazer um grande espetáculo para o público do Anhembi e do mundo inteiro!
Certo que difundir e promover o entretenimento, o conhecimento, a cultura e o amor são sempre a nossa maior missão...

Introdução
Com a energia e o encanto de um verdadeiro paraíso na Terra, a Unidos de Vila Maria traz em seu carnaval a magia e a alegria, em uma verdadeira festa multicor: as belezas do México!
Berço de Roberto Bolaños, filho dessa majestosa região de variados contrastes, artes e culturas, que se misturam ao humor inocente e ao mesmo tempo fabuloso do Chaves e de toda a sua turma. Figuras que levam até hoje a magia da felicidade, entre sorrisos e gargalhadas.
E é nesse clima festeiro que a escola mostra o seu carnaval, o recanto povos pré-hispânicos que tinham uma evolução fora do comum e nos deixaram um grande legado. Colonizados por ávidos conquistadores espanhóis os quais, com a miscigenação, fizeram nascer, o mexicano, com as bênçãos de Nossa Senhora de Guadalupe, originando assim um povo de rara originalidade e com uma contribuição magnífica para o mundo, seja na culinária, no artesanato, no cinema e na cultura geral.
É recanto de Frida Kahlo e de fabulosos festejos de muito misticismo, que marcam a essência e a vivacidade do mexicano, como a festa dos mortos, que celebra a vida de um jeito bem diferente e enigmático para nós.
E com todo esse poder de força, fé, belezas e alegrias, que a agremiação da zona norte paulistana vem mostrar seu espetáculo e prestigiar o grande público com uma história vigorosa, esbanjando emoção. Arriba Vila!

Sinopse

“Sigam-me os bons!”
Contado pelo pequeno Shakespeare (Chespirito), Roberto Bolaños, um dos filhos mais ilustres dessa terra, idealizado e apresentado pela nossa Unidos de Vila Maria, exaltaremos o México, com seus vários contrastes, cores, sabores, arte e cultura, que deu vida aos seus personagens a partir da ótica do coração.
“Quem poderá nos defender?” Ele, o Chapolin Colorado! Mas “foi sem querer querendo” que nasceram Chaves e sua turma. Sendo assim cantaremos iluminados pela batida do coração de personagens com humor inocente e irreverente; sambaremos com esse elo de ligação de Maias e Astecas na construção de suas pirâmides, que tinham como objetivo chegar o mais próximo possível do coração dos deuses.
Eis um caso de amor Brasil - México, onde inicialmente encontramos o esplendor das civilizações mesoamericanas. Podemos ver, ainda hoje, a pirâmide Chichen Itza, as serpentes emplumadas, as pirâmides do Sol e da Lua, e belezas naturais e exuberantes, “aproveitam-se da minha nobreza!” “Suspeitei desde o princípio” da chegada dos desbravadores, sua expedição com a busca de informação e riquezas, e que, ao olhar o tão maravilhoso cenário, não sabiam se o que estava diante de si, era real.
Assim ficou marcada a descoberta e a conquista do México, em um encontro entre Cortez e Montezuma II. Um dos momentos mais célebres da história do México e da historia universal no plano simbólico, foi o encontro entre o velho e o novo mundo, entre duas civilizações com valores e crenças distintas, uma movida pelo poder temporal e a outra submetida à vontade dos deuses.
Desta junção entre duas culturas surge a miscigenação. ​ Nasceu o mestiço (o povo mexicano), logo vieram os Mariachis e as belas mexicanas sob as bênçãos da virgem de Guadalupe, originando assim um povo, de rara beleza, com a dança e malemolência a flor da pele. Não há como não se encantar com este povo, que de forma magnífica contribuiu com o mundo inteiro.
“Vocês vão ver, eu vou contar pra minha mãe!”, esse reencontro de grandes ícones da arte, cultura, culinária, cinema, televisão, como Roberto Gomes Bolaños, intérprete e criador de personagens de alcance mundial e grandiosidade, tal como fez Frida Kahlo nas artes plásticas.
Logo começamos os festejos, cercados de muito misticismo e simbolismo, que marcam a essência e a vivacidade dos mexicanos com as festas religiosas e a principal, a dos mortos, que celebra a vida de um jeito bem diferente e enigmático. Uma beleza multicor!
“É que me escapuliu”. A nossa Unidos de Vila Maria, escola da zona norte paulistana vai transformar cultura em arte, humor em alegria.

Arriba Vila, Arriba México!

Canta e encanta Vila Maria!



Histórico
A mais poderosa força do mundo é o amor, que enobrece a alma e faz bater mais forte o coração. Cheios de emoção, repletos de energia e força, nós da Unidos de Vila Maria traremos para o carnaval 2018, um caso de amor ao México, país de variados contrastes e personalidade muito forte, detentor de uma beleza infinita.
A nossa comunidade da Vila Maria, com seu samba, sua raiz, seu pavilhão, nosso bem querer, será guiada por um de seus filhos mais ilustres, Roberto Bolaños. Ator, humorista, diretor, roteirista, publicitário, protagonista e criador de personagens como: Chaves e Chapolin, que transformaram arte em alegria, em sua volúpia de humor.
Começaremos nossa viagem com os primeiros habitantes, os povos pré-colombianos, exímios na sua inteligência, sua grandeza, criatividade. Impérios magnânimos: arquitetos, escultores, pintores, astrônomos surpreenderam o Velho Mundo. Guerreiros que nos deixaram um legado maravilhoso e influenciaram a humanidade com grandes invenções.
Seguiremos em frente nesta jornada fabulosa e nos depararemos com desbravadores espanhóis, ávidos de conhecimento, descobertas, riquezas. Atravessando os mares tenebrosos, descobrem e colonizam as novas terras, o novo paraíso. Fundindo-se aí o Velho e o Novo Mundo. Cortês e Montezuma, o branco e o ameríndio.
Neste instante veremos o surgimento do mestiço. Nasce enfim o mexicano. Gente encantadora, alegre, cantante, forte de sua herança cultural, culinária, artesanato, dança, música e cores.
Mariachis e belas muchachas mexicanas cantam e dançam os encantos desse verdadeiro recanto, cenário magnífico, um dos melhores lugares do mundo, de uma gente inigualável no modo de ser e de viver.
Dessa mistura veremos nascer grandes ícones como Frida Kahlo com sua arte impressionante e a Turma do Chaves (obra de Bolaños), levando entretenimento, gargalhadas e muita felicidade.
Relembraremos ainda pratos deliciosos e apimentados, picantes gostosuras, impossíveis de não serem apreciadas pelo sabor, cheiro e paladar. Sombreiros, maracás, pratos coloridos, inúmeras obras literárias e pinturas. Enfim, uma explosão de estrelas de brilho muito intenso.
Setorização
Honradíssimos com o enredo para o carnaval 2018, nós da Unidos de Vila Maria faremos uma exaltação ao México, apresentando a história contada por Roberto Bolaños, o querido Chaves. E em sua abertura traz toda sua turma com sua Vila de alegria e humor.
Na alegoria um, voltaremos no tempo e falaremos dos primeiros habitantes dessa terra de encantos e belezas, os povos pré-hispânicos, em destaque os Maias e Astecas, civilizações evoluídas que nos deixaram um grande legado: na arquitetura, com palácios- pirâmides, por meio das quais pretendiam chegar ao coração dos deuses; na matemática, com o uso do zero; na astrologia, com o calendário; nas artes, na invenção do chocolate, da roda e da pipoca.
Na segunda alegoria, contaremos a chegada dos conquistadores espanhóis que atravessando os mares tenebrosos em busca de riquezas acabaram colonizando e miscigenando esse solo.
E da junção das culturas européia e ameríndia, surge na terceira alegoria, o mestiço, o povo mexicano de personalidade forte, expressiva na musica, na dança, no místico jeito de ser. Com muita felicidade canta o Mariachi, dança a bela mexicana.
E dessa mistura surgem grandes ícones, que apresentados pelo Chaves, Chiquinha, Dona Florinda, Kiko, Seu Barriga e todos os personagens dessa bem humorada saga e que enchem os nossos corações de amor!
Sombreiros, maracás, pratos coloridos, baús multicores, comidas típicas, pintura de Frida Kahlo, livros de Bolaños, trazem na quarta alegoria uma profusão de cores e sabores.
E por fim, encerramos esse espetáculo a céu aberto, e a quinta alegoria traz a Festa dos Mortos, principal festividade religiosa, que como tantas outras fazem do México um paraíso fascinante.
Uma imensa escultura de Bolaños (hoje um dos lembrados) desfila mostrando a todos a força do coração cheio de emoção. A Vila Maria com toda garra e samba no pé, emocionada em falar desse grande homem e seus grandes feitos numa terra que lutou pela liberdade e que tem muita fé em sua virgem de Guadalupe.

Arriba Vila Maria! Arriba Vila do Chaves! Arriba México!

Fran Sergio - Carnavalesco
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Você se lembra da sua primeira vez no Sambódromo? Seja aqui no Rio, na Marquês, em São Paulo, no Anhembi ou em qualquer outro estado que também cultive um dos nossos maiores patrimônios culturais, o carnaval. Para nós, que amamos essa festa e toda essa atmosfera que a envolve, acredito não existir alguém que não lembre sem um certo tom e ar nostálgicos de sua primeira vez, afinal, diz-se que da primeira vez ninguém se esquece. E, como a voz do povo é a voz de Deus, vamos em busca de descobrir se os personagens da folia lembram de sua primeira vez, não só como artistas da festa, mas também, de quando eles eram como nós, foliões.


Quando pensamos em rainha de bateria, uma das primeiras coisas que nos vem a cabeça - além do indispensável samba no pé - são as, cada vez mais, trabalhadas fantasias das grandes musas que reinam à frente das nossas queridas baterias; E com a nossa convidada de hoje não seria diferente. O primeiro contato da nossa rainha com carnaval, não com atmosfera dos desfile, mas com o espírito momesco, em si, foram nos "bailinhos" de carnaval, tão comuns antigamente, não tão vistos nos dias de hoje. A minha primeira vez como foliã era geralmente naqueles bailinhos de carnaval, dentro de clubes, eu lembro também que tinha premiação para as fantasias mais bonitinhas, sabe!? Todavia, nem tudo são - ou, pelo menos, eram - flores na vida de uma rainha... Na verdade, eu era criança, novinha, mas coitada de mim, nunca ganhava - rindo. Ainda não dá pra adivinhar, né!? Vou dar uma dica: foi a rainha mais jovem a assumir o cobiçado posto à frente dos ritmistas, com apenas 12 anos. Ficou fácil, hein... Ainda mais com a foto ali em cima, né!? 

É ela, maravilhosa e soberana...

Coroada em 2003, Raissa de Oliveira é a rainha absoluta - e soberana - da Beija-Flor de Nilópolis, mas se engana quem pensa que a jovem rainha já estreou no cargo máximo. A primeira vez de Raissa  no carnaval foi lá pelos anos 90, na Deusa da passarela, obviamente. Minha primeira vez desfilando pela Beija-Flor foi emocionante, inesquecível... Eu lembro que eu saí no carro abre-alas e apareci na televisão - e fiquei toda boba, ficava chorando e tudo mais porque tinha aparecido ao lado da primeira dama, Fabíola de Oliveira. Sempre apaixonada por carnaval, a ligação de Raissa com a festa e com a azul e branco de Nilópolis é inegável. Fã declarada da inexorável Soninha Capeta, rainha da escola de Nilópolis por quase 20 anos , quando criança, não perdia um desfile se quer e ficava ligadinha na tevê, treinando e imitando os passos e tudo mais de quem seria sucessora. 

Então, chegou 2003... Minha primeira vez, de fato, como rainha de bateria, que foi assim uma das experiências, até hoje, dentro do carnaval, mais incríveis e indescritíveis que vivi. Não era pra menos, né!? Desde então, Raissa fincou seus dois pés, ou melhor, seus saltos e - com muito samba no pé - nunca mais saiu do posto. Fazendo 15 à frente da bateria, representando meu pavilhão, meus ritmistas, a ala de passistas. É como eu costumo dizer, a Beija-Flor me deu um presente, toda essa responsabilidade e essa confiança de representar e defender sua comunidade, que levo no coração e no peito, eles são a minha família.


"Ser rainha de bateria não é só você chegar na frente da bateria e sambar..."

De um tempo para cá, cada vez mais, tem se discutido sobre a comercialização do cargo de rainha de bateria. Já tivemos musas globais, cantoras famosas, modelos conhecidas e tudo  mais, todavia, a bandeira da "rainha da comunidade" é defendida por grande parte dos sambista. E pela Raissa também! Para mim, ser rainha de bateria não é só você chegar na frente da bateria e sambar. Ser rainha da bateria é se dedicar à escola, a comunidade... Raissa deixa claro que não concorda também com a rainha meramente figurativa, tem de suar a camisa, ou melhor, a fantasia de acordo com a nossa rainha. É necessário ter afinidade com os ritmistas, conhecer um por um dos seus componentes, que estão sempre torcendo por você. Ajudar a escola de alguma forma, estar ali sempre para somar. Mas depois fica fácil... Quando você aprende a ser a rainha da sua vida, você consegue levar a vida e ser rainha de qualquer coisa!

Estando ali para somar, com muito samba no pé e com um carisma inconfundível, Raissa é adorada pela exigente comunidade nilopolitana. Seu legado, entretanto, não se resume ao bairro da Deusa da passarela, a rainha é uma figurinha carimbada quando se fala em personagens adorados no mundo do samba. E assim foi a primeira vez da Raissa, partindo pro seu décimo-quinto desfile, a rainha azul e branca, continua, assim como a sua escola, soberana e a encantar todos com todo seu gingado e simpatia. Quer saber sobre a primeira vez de alguém especial? Deixe a sua sugestão nos comentários ou em nossas redes sociais, que nós vamos atrás! 

Quer ler o relato do Igor Sorriso sobre a sua primeira vez na coluna anterior? Aqui.


O relato sobre minha primeira vez e como escolhi, pelo resto de minha vida, o meu Torrão Amado, o Acadêmicos do Salgueiro? Aqui.

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por Leonardo Antan e Beatriz Freire


Desde seu surgimento, o carnaval das escolas de samba sempre se relacionou diretamente com o poder público. O Estado e as agremiações travaram relações de diálogo, de controle, mas também de negociações. Como protagonistas de suas próprias histórias, as escolas de samba nem sempre foram apenas controladas, mas de maneira típica da malandragem em que o samba se criou, conseguiram muito bem alcançar seus objetivos. No Dossiê de hoje, o Carnavalize explica um pouco melhor como se deu a ligação entre as escolas de samba e o Estado ao longo de tantos anos.

 Pedro Ernesto e a oficialização

Posse do prefeito Pedro Ernesto.


O surgimento das escolas de samba em 1930 está profundamente ligada a atuação do prefeito do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, de sua época. Pedro Ernesto, aliado do presidente Getúlio Vargas e populista, viu na folia uma fonte de renda para a cidade e de votos para seu mandato. Sua relação com a festa foi íntima, já no primeiro carnaval sobre seu mandato o evento recebeu o tratamento de principal atração turística da cidade. Organizando todos os festejos no calendário da cidade, não houve distinção, tantos as manifestações mais nobres, como os corsos e a grandes sociedades, como as mais populares, como os ranchos, blocos e banhos de mar a fantasia, entraram no calendário. Houve ainda a criação do tradicional baile do Teatro Municipal. 



Se hoje, pode-se achar estranho os desfiles estarem relacionados a pasta do Turismo e não da cultura, essa relação é histórica e iniciada nesse momento. Durante a década de 1930, a prefeitura do Rio de Janeiro não mediu esforços para desenvolver sua política, na tentativa de se aproximar das classes populares cada vez mais, a Municipalidade oficializou o carnaval. Além de apoiar as sociedades carnavalescas, concediam ajuda financeira para a organização das festas. Estabelecendo uma aliança com a imprensa e os sambistas, a prefeitura realizou propagandas em outros países para atrair turistas para a capital do Brasil durante a festa popular. 


A criação da UES e o seu regulamento

Desfile das escolas e samba nos anos 1940.

Com o primeiro desfile realizado em 1932, as escolas rapidamente se organizaram criando sua primeira liga institucionalizada em 1934. Quando surgiria a União das Escolas de Samba (UES), com um regulamento severo que constava a proibição dos instrumentos de sopro e obrigatoriedade da alas das baianas. Os dois itens curiosos garantiam o desejo da escola de samba de aderir o projeto nacional de criação de uma identidade nacional. Neste contexto, as escolas se tornariam as legítimas representantes da cultura nacional, representando o "verdadeiro samba." O primeiro concurso oficial entre escolas de samba ocorreu em 2 de março de 1935, domingo de carnaval, na Praça Onze. A vencedora foi a Portela, ainda chamada de Vai como Pode, com o enredo “O samba dominando o mundo”. 

A primeira verba

A decoração da Praça Onze durante o carnaval de 1959 - Agência O Globo/

A UES buscava manter um bom relacionamento com a prefeitura. Se, por um lado, Pedro Ernesto oficializou os desfiles e distribuiu subsídios às escolas, por outro, a UES, sempre que podia, declarava seu apoio ao prefeito, seja em festas, discursos e até nos desfiles. Além disso, não perdia a chance de agradecer pelo apoio e reconhecimento. À época, a prefeitura liberou dois contos e quinhentos réis para que a UES dividisse entre as 25 escolas de samba inscritas no concurso, que naquele ano foi promovido pelo jornal A Nação. O primeiro carnaval de atuação da UES foi em 1935. No mesmo ano em que foi criada a União das Escolas de Samba, também foram criados o Departamento de Turismo no Distrito Federal e a Comissão de Turismo da prefeitura do Rio de Janeiro. Nesse sentido, o apoio oficial pioneiro dado pela prefeitura ao desfile das escolas de samba, em 1933, fazia parte da estratégia inovadora de mudar a imagem do Estado de repressor a aliado, mas, por outro lado, também tinha um intuito eleitoreiro de curto prazo.

Getúlio Vargas e projeto populista

Desfile militar em prol do governo Vargas.

No braço político, o governo de Getúlio Vargas traria o projeto da construção de uma imagem do "Brasil" a ser exportada. O panorama social da época girava em torno da tentativa de inserção e aceitação sociocultural pelos quais os negros, marginalizados até então, lutavam; do outro lado, havia um Estado de caráter disciplinador, tentando organizar os espaço das ruas e as camadas consideradas provedoras da desordem. A forma achada para a aceitação do batuque, das festividades essencialmente negras e brasileiras, e da voz que o morro queria expor foi a negociação com o Estado. 

As agremiações sempre buscaram os buracos do diálogo, em claros moldes que passeavam entre a concessão e o controle estatal. As temáticas nacionais, por exemplo, provam essa relação durante a Era Vargas; não foram especificamente impostas pelo Estado, mas se alinhavam perfeitamente ao objetivo de exaltação à pátria em um momento que o Nacionalismo era uma característica a ser esculpida e aperfeiçoada no Brasil. A não-obrigatoriedade somado ao fato da realização, ilustram muito bem o encaixe das escolas de samba em situações favoráveis à sua aceitação. Foi a forma encontrada para que os sambistas, majoritariamente negros, conseguissem legitimar, finalmente, a sua herança, mesmo que em uma relação de submissão. Nesse contexto, se destacou a Portela com enredos patrióticos que garantiram a impressionante marca de seu famoso hepta-campeonato. 


Anos de Chumbo: o caso Heróis da Liberdade



Os anos 60, da Revolução de Pamplona no Salgueiro, da estética e das temáticas diferenciadas desde então que o carnaval apresentava, de forma geral, também foi alvo da censura da nuvem que sombreou o Brasil por vinte e um anos. A chegada da Ditadura Militar pelo Golpe de 1964, muito interferiu na festa carnavalesca. O regime se tornava cada vez mais autoritário e a mão da opressão vinha forte na censura; as escolas de samba, já consolidadas, não escapariam do alvo do Regime, já que também eram as vozes da sociedade e do momento político que o Brasil vivia, inclusive de seus descontentamentos com a morte da liberdade em seus variados sentidos. 

Pouquíssimo tempo depois do marcante AI-5, o Império Serrano desafiou a norma vigente da obediência, como foi feito em alguns casos durante o período, e desfilou o enredo Heróis da Liberdade. Em um trecho do antológico samba de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, a Serrinha cantou "Essa brisa que a juventude afaga / Essa chama / Que o ódio não apaga pelo universo/ É a evolução em sua legítima razão". A verdade é que a evolução foi o disfarce. A letra original continha explicitamente em sua letra a palavra "revolução", termo carregado de significância, mais do que o habitual, pro momento à época. Como esperado, a censura exigiu a troca, e aviões sobrevoaram o desfile do Império Serrano naquele ano, numa tentativa de abafar os desfiles. As tentativas, porém, foram falhas para uma escola com chão forte e que gravou sua coragem nas páginas de nossa história. 

A Beija-Flor e os enredos chapa-brancas



Com o governo ditatorial, as escolas de samba seriam novamente vistas como verdadeiros outdoors políticos. Em 70, o presidente da Associação das Escolas de Samba, Amauri Jório, fez uma viagem à Brasília, com o desejo de conseguir apoio financeiro para as agremiações. Com isso, durante os anos de chumbos, várias agremiações iriam de encontro aos ideais de desenvolvimento do Brasil nos anos 70, com o chamado "milagre econômico". Nesse contexto, a Beija-Flor ficaria marcada por enredos como "Grande decênio" e "Brasil anos 2000", mas ela não seria a única a promover esses tipos de desfiles. O samba da Imperatriz em 1972, sobre "Martin Cererê", também iria de certa forma as desejos do governo: "gigante pra frente, a evoluir". Além de enredos da Caprichosos de Pilares (Brasil, a flor que desabrocha), Império da Tijuca (Brasil, explosão do progresso), entre outras como Manguinhos e Unidos de Lucas. 

A chegada da contravenção 

Famosos bicheiros envolvidos com a folia: Castor de Andrade, Anísio Abraão David e capitão Guimarães.


Os anos 1970 marcariam ainda o estabelecimento definitivo de um novo cenário entre a relação das escolas com poder público. Despontariam nas escolas a figura dos bicheiros que usavam as escolas como forma de lavar dinheiro e de limpar sua imagem perante a sociedade, com liberdade para circular nos dias de folia. Desde Natal da Portela e depois com Osmar Valença no Salgueiro, a relação de algumas escolas com o poder paralelo já era estreita e se intensificou com a chegada de figuras que serviram para alavancar o crescimento das escolas e a lógica do espetáculo. Nesse cenário, as "três irmãs" (Mocidade, Imperatriz e Beija-Flor) que venceram os grupos das "4 grandes" (Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro) que se revezavam no poder, contaram todas com o apoio de seus patronos para contratar os melhores carnavalescos e conseguir bons resultados. No Mocidade, a figura carismática e controversa de Castor de Andrade fez história; na Beija-Flor, se instalou a família Abraão David e na Imperatriz, a Drummond. 

Anos 80: revolucionária e Diretas Já



Dez anos após louvarem o governo ditatorial, o discurso das escolas de samba mudaram junto com o cenário sócio-político. Num raro momento de sua história, as escolas se voltaram contra o poder estabelecido em prol de ecoar na avenida o grito pelas "Diretas-Já" na metade dos anos 1980. Tudo começou no primeiro ano da década, quando Fernando Pinto em sua "Tropicália Maravilha", escreveu "Anisita", aprovada um ano antes, na alegoria que trazia representada o Congresso Nacional em meio as onças e feijões com composições trajadas com as siglas de partidos políticos.



Em 1984, o rei da crítica política carnavalesca, Luiz Fernando Reis, colocaria de vez o pé na porta ao trazer um carro que clamava pelas "Diretas Já". A Caprichosos cantaria a "saudade dos tempos que o povo escolhia diretamente o presidente", junto a ela, a São Clemente também se caracterizaria por levar temas críticos e afiados. As duas foram seguidas pelas demais e o carnaval de 1986 marcaria esse processo. Primeira folia após o fim oficial do regime, as escolas gozaram da maior liberdade temática, quase todas as escolas levariam em seus enredos e sambas alguma menção ao contexto da época. 

Brizola e a construção do Sambódromo



Em tempos da lenta, gradual e segura abertura que o regime militar fazia para os caminhos da redemocratização, o governador Leonel Brizola e seu vice, Darcy Ribeiro, foram nomes importantes para o futuro das escolas de samba. Da parceria surgiu a ideia de construir um lugar próprio para a realização dos desfiles, com a justificativa de que o processo de montar e desmontar as arquibancadas era um processo caro, além de tirar o aspecto popular do carnaval, já que eram cadeiras. A ideia veio aliada a uma proposta educacional de abrigar um complexo educacional sob as arquibancadas ao longo de toda a passarela do samba. Foi a forma que encontrou-se de cuidar de duas questões importantes para a cidade: a educação e os gastos do Carnaval. 

Esquema empresarial e enredos patrocinados

Foto de luxuoso camarote da Sapucaí.

Com a criação da LIESA em 1985, tentaria-se implementar na festa um modelo empresarial que buscava vender o carnaval espetacular, afastando as camadas mais pobres dos desfiles. O quesito passou a mandar, e a Imperatriz passou a conhecer as regras do jogo e garantir vários campeonatos. A lógica foi seguida pela Beija-Flor nos anos 2000, e posteriormente pela Unidos da Tijuca, que ficariam conhecidas como "escolas técnicas." 

O icônico desfile patrocinado da Porto da Pedra em 2012.

Neste sentindo, as escolas de samba também ganharam o caráter de verdadeiros outdoors coloridos na Avenida, servindo como fonte de marketing e propaganda para as mais diversas marcas, produtos e até mesmo locais, cheios de estratégias econômicas e políticas. As divulgações sempre vieram acompanhadas de uma ajuda de custo, um patrocínio com boa quantidade de dinheiro para ajudar as escolas de samba. O problema, no entanto, é que muitas escolas, a exemplo da Unidos da Tijuca, sacrificaram suas notas no quesito enredo em nome da ajuda monetária de empresários. A Sapucaí, apesar de ser palco de grandes ensinamentos extremamente necessários ao nosso intelecto, muitas vezes se confunde com um grande site de anúncio ou com um mapa geográfico. O problema dos patrocínios foi o crescimento mais do que exagerado da festa, atingindo patamares encantadores aos olhos, mas problemáticos em sua estrutura. O que poderia ser uma fuga ao modelo de dependência ao poder público acabou se revelando como um novo e perigoso vilão.

César Maia e a Cidade do Samba

O busto de César Maia na Cidade do Samba.

Quem for à Cidade do Samba, entrando pelo portão principal de frente para o Porto Maravilha, dará de cara com um busto em bronze. Os mais desavisados podem achar, ainda de longe, que se trata a uma homenagem a algum grande sambista ou personalidade do carnaval, mas ao se depará com a placa logo abaixo da estátua verá o nome de César Maia. A homenagem é icônica no sentindo de entender a relação morde e assopra das escolas com o poder público, César Maia foi prefeito do Rio em várias oportunidades entre os anos 90 e 2000. Colocou seu nome na história da folia, ao inaugurar em 2005, a Cidade do Samba. Amplo e multiuso, o prometido espaço dedicado aos barracões da escolas marcaram o fim da peregrinação das agremiações pelos imundos e insalubres barracões improvisados localizados na zona portuária. Seria o reforço da chegada empresarial e industrial das escolas, ao longe de mais de 10 anos de utilização do espaço, ele se tornou sub-aproveitado pelas escolas e sem o aproveitamento do uso possível do lugar.

O prefeito pega no chocalho 



Como todo político, Eduardo Paes teve pontos irregulares e bastantes questionáveis enquanto prefeito do Rio de Janeiro. Porém, sob o ponto de vista cultural, principalmente das escolas de samba, não apresentou grandes problemas, sendo, inclusive, um declarado torcedor da Portela e admirador do festejo. Em 2010, algumas escolas foram bonificadas por uma reforma geral em suas quadras em troca do uso do espaço para eventos e projetos das secretarias da Educação e da Cultura. Em 2012, no âmbito da preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, reformou o Sambódromo da Marquês de Sapucaí com a construção de novos módulos de arquibancada. Bom ou ruim aos julgamentos do povo, a realização do acordo estreitou a relação entre as agremiações e a prefeitura, garantindo, mais uma vez, o papel de instituições importantes para o desenvolvimento da cidade como um todo. Chamaram atenção ainda uma série de enredos em louvor a cidade, muitos feitos pela sua história de coração: a Portela, mas também levado a cabo por escolas como a Estácio de Sá e a União da Ilha. 

A chegada do Bispo 

Os dirigentes de algumas agremiações apoiaram a candidatura de Marcelo Crivella.

As eleições para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro foram calorosas. Como todo político em sua campanha, o candidato Marcelo Crivella, conhecido pela sua ligação mais do que forte com a Igreja Universal do Reino de Deus, também apresentou suas propostas às escolas de samba, parte importante da cultura e, de forma ou outra, da economia do Rio de Janeiro. Sempre questionado por seus gostos particulares e a mistura entre política e religião, Crivella manteve seu discurso habitual de que os assuntos eram pontos distintos e que a subvenção às escolas de samba permaneceria intocada. A questão é que após a negociação da LIESA e das próprias escolas com o Bispo e seus projetos, a palavra que foi dada, infelizmente, não foi cumprida.

Há poucos dias o prefeito anunciou o corte de 50% da subvenção do Grupo Especial e também da Série A, somado ao fato da não disponibilização de estrutura para que seja realizado o carnaval da Intendente Magalhães, onde as escolas dos grupos de acesso desfilam. O argumento utilizado passeou pela necessidade de investimento em creches, o que claramente se revela como uma desculpa de uma manobra que se faz para enfraquecer o carnaval e a subversão que a festa traz. As escolas de samba, encurraladas pela falta de dinheiro e por posturas equivocadas de uma Liga, se veem incapazes de proporcionar ao público o Maior Espetáculo da Terra.

A verdade é que o corte pouco fala sobre a economia e prioridades, mas muito revela sobre um gosto particular de alguém que preza pela moral religiosa e que, aos poucos, a impõe a toda uma cidade que deveria ser plural.

O futuro das escolas é imprevisível. Desde o carnaval marcante negativamente deste ano, com os preocupantes acidentes, urge a necessidade renovação da festa e sua atualização no cenário social. A maioria da população concorda com a decisão do prefeito, é chegada a hora das escolas voltarem ao seu protagonismo e marcar um novo capítulo em sua importante e fundamental história. 


Referências: Os livros "Pra tudo começar na quinta-feira", de Luiz Antônio Simas e Fábio Fabato, e "Livro de ouro do carnaval brasileiro", de Felipe Ferreira. Além dos artigos, "O Carnaval institucionalizado no Rio de Janeiro: Programas de Turismo" e "O Carnaval carioca oficializado: a aliança entre sambistas e prefeitura do Rio", ambos de Paula Cresciulo de Almeida disponíveis onlines.





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G.R.E.S. Portela – Carnaval 2018
“De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá”
Por Rosa Magalhães
II
Minha gente, se prepare
Que essa história vale a pena
Tome assento, se acomode
E vejam que entra em cena
E quem sai, onde se passa
Onde termina, ou começa
De onde vem ou se destina
III
E por mais que cause espanto
Os fatos que ora apresento
Quem achar que isto é mentira
Que vá ao Google e confira
Verifique e ela atento
Pois se ficou no passado
Não foi menos registrado
IV
E assim já lhes adianto
Que tem a ver com exílio
Mudança de domicílio
Com fuga e logo e portanto
Com saudade do lar distante
Vida incerta de imigrante
Mas esperança no horizonte
V
Pra Pernambuco formosa
Rica de açúcar e gente doce
Holandeses cobiçosos
Chegaram como se fosse
Sua própria casa ocupar
Abrindo porta e porteira
Pra quem quisesse trabalhar
VI
De Portugal perseguidos
Judeus lá foram aportar
Fugindo da inquisição
Que lhes proibia praticar
No país sua religião
Deixaram tudo pra trás
Pra poder viver em paz
VII
Anos e anos depois
Portugal reconquistou
A linda terra nordestina
E sem dó logo expulsou
Os judeus de triste sina
Que se dividiram em três
E de lá partiram de vez
VIII
Uns seguiram pra Holanda
Sonhando com o amanhã
Outros foram pro Caribe
Mais perto, tentar a sorte
Outros pra nova Amsterdã
Lá na América do Norte
– E quase encontraram a morte
IX
Esses últimos, coitados
Pelo meio do caminho
Foram cruelmente atacados
´Cê nem imagina por quem:
Um navio de piratas
Do Caribe cobrando prata
E ouro pra tudo acabar bem
X
Muitos anos se passaram
Os ingleses conquistaram
Aquela terra e o povoado
De judeus e brasileiros
Ganhou nome venerando
Famoso no mundo inteiro:
Noviórque, é isso mesmo
XI
Que você tava pensando
E quando, muito mais tarde
A França deu de presente
A Estátua da Liberdade
Em seu pedestal foi gravado
Um poema da descendente
De um daqueles imigrantes
Vindos do Brasil no passado
XII
No poema, tão bonito
É como se a estátua falasse
Com os exilados aflitos
Sofridos, refugiados
E a sua chama os guiasse
Com generosa bondade
Para o belo portão dourado
Da paz e da liberdade
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