Carnaval RJ: Análise do primeiro dia de desfiles na Sapucaí

Por Redação Carnavalize

De volta ao Grupo Especial do Rio de Janeiro após 11 anos, a Porto da Pedra abriu o Carnaval da Sapucaí em 2024. O criativo enredo do tigre de São Gonçalo explorou as influências do “Lunário Perpétuo” na cultura popular nordestina, contando com bom desenvolvimento, que se materializou visualmente em um ótimo trabalho cromático e de fantasias. O sonho da agremiação em permanecer no grupo ficou, entretanto, comprometido por alegorias que passaram danificadas e problemas de evolução, principalmente gerados pela dificuldade da escola em colocar o seu último carro na Avenida, o que propiciou buracos em frente aos primeiros módulos de julgamento.

Segunda a desfilar, a Beija-Flor de Nilópolis homenageou Maceió, tendo a figura de Rás Gonguila como fio condutor do enredo, que, apesar de se propor um delírio, deixou a desejar no desenvolvimento dos seus setores. Faltou coesão entre os elementos, nas passagens de tempo e reinos visitados. O personagem principal não sustentou tão bem a narrativa como deveria. O trabalho visual de João Vitor Araújo impactou com momentos e carros belíssimos, mas, infelizmente, faltou melhor amarração do conjunto. O chão da escola se destacou positivamente, mostrando a força da comunidade nilopolitana. A sintonia entre o ritmo da bateria e a nova iluminação do Sambódromo chamou a atenção do público e empolgou.

O Salgueiro foi o terceiro a pisar na Sapucaí, trazendo um manifesto de resistência do povo Yanomami. Com um elogiado e forte samba-enredo, o salgueirense ostentou um canto poderoso e uma emoção visível. Todavia, não ocorreu uma catarse e o desfile foi mais morno do que o esperado. O que talvez possa ser explicado pelo desenvolvimento visual e narrativo burocrático, que acabou não surpreendendo.

Quarta escola da noite, a Grande Rio escolheu a onça como enredo enquanto símbolo de narrativas míticas indígenas brasileiras. Impecável visualmente, a escola de Caxias foi a que mais apostou nos efeitos da iluminação da Sapucaí. O jogo de luzes valorizou o conjunto alegórico da agremiação, que foi o mais consistente e coeso do domingo. As baianas se destacaram ao vestirem uma fantasia com mantos tupinambás, uma peça mística e dos mais belos exemplos da arte plumária dos povos indígenas. O penúltimo setor da Grande Rio louvou, com primor, as onças foliãs dos carnavalescos Rosa Magalhães e Fernando Pinto, com reverência aos desfiles de 2002 e 1987 dos artistas. A bateria teve excelente desempenho e Evandro Malandro esteve muito bem na condução do samba-enredo, que não empolgou tanto, mas foi abraçado pela comunidade.

Penúltima a desfilar, a Unidos da Tijuca passeou pela história e pelas lendas de Portugal, em uma narrativa bastante burocrática. O cortejo tijucano não enfrentou relevantes problemas técnicos, mas não “pegou”, seja pela abordagem pouco inovadora do tema, seja pelo trabalho visual similar ao já visto na Avenida em diversas oportunidades anteriores. O samba-enredo não contagiou e o desfile foi morno. A posição de desfile da Tijuca, no meio de duas escolas que passaram quentes, não favoreceu. Contudo, a escola ostenta quesitos fortes, como bateria, que foi, mais uma vez, um destaque do Borel. 

Fechando com chave de ouro o primeiro dia de desfiles, a Imperatriz uniu uma beleza estética primorosa a um grande desempenho musical na Sapucaí. A bateria de mestre Lolo garantiu um cortejo agradável e irretocável em termos de andamento. O carro de som ostentou uma competência merecedora de todos os aplausos. Um desfile para desfrutar. O que se notou do começo ao fim foi uma escola leve, evoluindo bem e cantando o excelente samba-enredo a plenos pulmões. As bossas da bateria valorizaram o grande trabalho de canto. O desenvolvimento do enredo se mostrou direto e claro, com cada setor explorando uma temática de maneira óbvia, se traduzindo em mais uma grande obra visual de Leandro Vieira. O destaque negativo, porém, ficou por conta da terceira alegoria da Rainha de Ramos, que destoou do conjunto e comprometeu um pouco a regularidade em termos plásticos. Mesmo assim, a Imperatriz se colocou, pelas suas diversas qualidades, como favorita à conquista do bicampeonato, ao lado da coirmã de Caxias.

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