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Carnavalize

A #SérieDécada traça um panorama de tudo que aconteceu nestes últimos anos, com texto novo todas as segundas, quartas e sextas-feiras. A segunda década desse século, iniciada em 2011 e finalizada no carnaval que acabou de terminar em 2020, trouxe muitas reviravoltas e transformações para a folia!  

Além disso, nos dias seguintes às divulgações dos textos - ou seja, terças, quintas e sábados - um podcast especial será lançado com nossos comentários em áudio sobre os desfiles, os bastidores das escolhas, e as nossas divergências de opiniões!

Como é impossível fazer uma seleção que agrade não só às leitoras e aos leitores, como também aos integrantes do Carnavalize de forma unânime, cada categoria também contará com menções honrosas que por pouquíssimo não entraram na listagem principal.

Artes e visual: Vitor Melo.
Texto: Beatriz Freire, com colaboração de Leonardo Antan
Revisão: Felipe Tinoco

Não se constrói um carnaval sem mentes pensantes e muitos agentes que atuam nos bastidores da festa colocando a mão na massa e virando noites em claro para brilharem no grande dia. Se viemos nos últimos textos discutindo os melhores sambas e as apresentações mais marcantes da folia, hoje lembraremos os grandes artistas por trás desses verdadeiros espetáculos, figuras fundamentais para pensar a transformação da festa no período de tempo dessa década.

Passeando pelos mais diversos segmentos e abrangendo o maior número de representantes possíveis, o Carnavalize selecionou 10 personalidades simbólicas dos anos 2011-2020. Na seleção estão presentes carnavalescos experientes, estreantes no período, revolucionários. Também perambulam por aqui um casal tão unido que vale como uma figura única; um intérprete apaixonado e uma porta-bandeira apaixonante; um mestre da bateria e outro das palavras e melodias; um dirigente de uma instituição e outro de uma bateria, o coração de toda escola. 

Se você não está se aguentando de curiosidade, é só rolar a página e se deliciar com os grandes profissionais que marcaram a década nesta debatida lista! (A gente lembra sempre que a lista é escrita SEM ordem hierárquica, disposta de forma livre, e não em forma de ranking.)


Marcos Falcon 
(Presidente da Portela)
Marcos Falcon comandando um ensaio técnico da Portela na avenida. Foto: Leandro Andrade/Facebook da Portela.
Para falar da primeira personalidade desta lista, precisamos fazer o recorte do momento que vivia a Portela no início da década. O carnaval de 2011 foi de lamento para a escola. Após um incêndio na Cidade do Samba que atingiu o barracão da azul e branca – e de mais duas coirmãs – a pouquíssimos dias do carnaval, o desafio era recuperar os prejuízos que destruíram praticamente um ano inteiro de trabalho. Cabem, aqui, parênteses para introduzir ao leitor que nesse mesmo ano Marcos Falcon assumiu o cargo de diretor cultural da agremiação, ainda na gestão de Nilo Figueiredo. 

Apesar de não ter sido julgada naquele ano, o momento sobre o qual a escola atravessara marcou o ápice de uma crise financeira e administrativa em Madureira. Nos carnavais seguintes, mesmo com enredos interessantes e bons sambas, a Portela simplesmente não acontecia dentro da avenida, como reflexo das problemáticas que envolviam a gestão e o barracão. As eleições de 2013 colocaram em apertada disputa as chapas “Portela Nossa Paixão”, representada por Nilo, e “Portela Verdade”, encabeçada pela figura de Serginho Procópio, tendo Marcos Falcon como vice. Estes saíram vitoriosos e a oposição tomou conta da agremiação. É aí que nasce para o carnaval a importância do ofício de Falcon. Inicialmente, trabalhou ao lado do então presidente, Serginho, e foi ganhando protagonismo aos poucos no processo de reconstrução administrativa e, ousa-se dizer, identitária da agremiação.

Falcon foi homenageado na última alegoria do carnaval campeão de 2017. Foto: Vítor Melo/Carnavalize.
Uma instituição do tamanho e da importância da Portela apenas não podia aceitar as dificuldades que vinha enfrentando sem ao menos lutar para mudar e se reerguer. A partir do carnaval de 2014, com um lindo desfile sobre a Avenida Rio Branco e a história do Rio de Janeiro que lá pulsa, acontece o resgate do orgulho e da competitividade portelense, abrindo uma série de bons e ótimos carnavais que voltaram a figurar na parte mais alta da tabela, diretamente na briga pelo título. Nos anos em que isso não aconteceu, como no caso de 2015, quando terminou em 5º lugar com a inesquecível Águia Redentora, ainda havia motivo de sobra para a escola ser feliz pelo trabalho realizado de forma contínua. Todos os passos tinham o dedo de Falcon. Foi ele, inclusive, o responsável pela chegada de Paulo Barros à escola para o carnaval de 2016. Nesse mesmo ano, no mês de setembro, em um de seus comícios para o cargo de vereador, Falcon foi assassinado. O então vice-presidente e ex-diretor cultural da escola Luis Carlos Magalhães assumiu o cargo e levou a Águia para o seu sonhado título, após seu histórico jejum. Ainda que sem a presença física de Falcon, fato é que é impossível falar da Portela que temos hoje, assim como do seu campeonato de 2017, deixando de associar o sucesso da escola à figura do ex-presidente. São esses motivos suficientes para fazê-lo digno de representar os dirigentes da folia enquanto uma das personalidades da década.

Paulo Barros 
(Carnavalesco)
A personalidade no desfile das campeãs em 2019, acima da fênix da Viradouro. Foto: Raphael David/Riotur.
Não há como falar nos dez anos comentados sem pensar em Paulo Barros. A década tem o recorte temporal de 2011 a 2020, mas faremos uma rápida menção ao carnaval de 2010 para relembrar o histórico desfile “É Segredo”. O famoso carnaval do artista deu um título à Unidos da Tijuca 74 anos depois de seu primeiro, e até então único, campeonato. Paulo, portanto, iniciou a década como o carnavalesco campeão do carnaval, sendo o principal nome por trás de grandes mudanças na festa. É dele, inclusive, a responsabilidade pela presença massiva de pessoas como arremates principais nas alegorias e pela pirotecnia de efeitos especiais - com direito até a botar fogo na porta-bandeira em pleno desfile, como fez com Lucinha Nobre, em 2015, na Mocidade. 

Outro ponto muito conhecido de Paulo foi a interferência no trabalho dos coreógrafos de comissão de frente. Depois da parceria com Priscilla e Rodrigo na Unidos da Tijuca, o carnavalesco ficou conhecido por sempre dar uma opinião a mais no trabalho de outros profissionais, chegando a influenciar a contratação de novos nomes para a Portela a vinte dias do carnaval. Aliás, foi ao povo de Madureira que ele deu um título que chegou depois de trinta e três sonhados carnavais, no de 2017. Anos depois, também esteve à frente da retomada da Viradouro, já no Grupo Especial, quando a escola conquistou um surpreendente vice-campeonato vinda da Série A, outro marco histórico. Figura midiática do carnaval, Paulo Barros dá o que falar, mas tem seu público fiel, ainda que os seus efeitos em alegorias não surpreendam tanto quanto no início da década. Não tem como dispensar a importância de um carnavalesco sempre muito comentado, que marcou expediente em cinco escolas diferentes no último decênio e esteve por trás de momentos marcantes e polêmicos.  

Relembre algumas características marcantes do estilo de Paulo Barros na nossa coluna 10 Vezes. Você também pode ouvir uma entrevista com o artista antes do carnaval de 2020 em nosso podcast.

Leandro Vieira 
(Carnavalesco)
O vigor de nossa personalidade do fantástico desfile de 2019 da Mangueira. Foto: Gabriel Nascimento/Riotur.
Leonino e modesto, Leandro Vieira disfarça quando o assunto é protagonismo, importância de seus feitos e marcos na festa. O artista começou os últimos dez anos ainda por trás dos holofotes, como assistente de carnavalescos como Fábio Ricardo e Cahê Rodrigues. Trabalhar em uma escola de samba nunca foi diretamente um objetivo ou sonho, simplesmente aconteceu ao artista. E foi em 2015, nesses acasos, que o jovem carnavalesco foi contratado pela Caprichosos de Pilares para assinar seu primeiro carnaval solo, em um momento financeiramente difícil que era enfrentado pela escola. Após uma apresentação comentada e elogiada sobre o comércio popular, a Mangueira, também em crise e sem condições de arcar com artistas renomados da festa, resolveu apostar as fichas no talentoso e promissor rapaz. E não é que deu certo? 

Em 2016, ano de sua estreia no Grupo Especial e na velha Manga, Leandro rendeu uma homenagem brasileiríssima e com a cara da escola à Maria Bethânia, icônica figura da cultura brasileira. Do encantamento na pista ao grito de campeão na quarta de cinzas, o jovem artista assumiu a ponta do carnavalesco mais comentado e esperado da segunda metade desta década. Em cinco carnavais pela Mangueira, rumo ao sexto, o que se viu foi uma chuva de bons resultados, estética e narrativas expressivas, criando imagens e obras tão icônicas que repercutiram país afora. Leandro não tem papas na língua, nem faz questão de atribuir a si mesmo o título de um grande nome ou de artista fundamental; apenas afirma seguir suas crenças próprias. Expoente da arte brasileira, ele levou o carnaval e sua arte aos museus, com exposições no Paço Imperial e no Museu de Arte do Rio. Queira ele ou não, o Carnavalize faz questão de frisar a importância de um talento incontestável, já dono de um legado na Mangueira e responsável pelo reencontro da Imperatriz consigo mesma após um rebaixamento. No próximo carnaval, mais uma jornada dupla de muita responsabilidade: além da Mangueira, a dura missão de trazer de volta a majestade do Império Serrano para a elite da Sapucaí. Leandro Vieira faz tudo!

Confira nosso artigo que mapeia as referências artísticas do carnavalesco em seus primeiros carnavais na coluna Carnavalizadores de Primeira. Além disso, Leandro também já foi entrevistado na série Processos da Criação. Para o carnaval de 2020, foi o convidado de estreia do nosso podcast.

Squel Jorgea 
(Porta-bandeira)
O desbunde de Squel no desfile campeão de 2016. Foto: Alexandre Macieira/Riotur.
A Squel tá careca! Mas muito mais que isso, a história dessa porta-bandeira se destacou na década em que desabrochou e marcou sua ligação com a mais querida do planeta. Não bastasse carregar o sangue de Xangô da Mangueira, seu avô, Squel é uma porta-bandeira de ponta do carnaval carioca. Apesar dos elos familiares com a Estação Primeira, nossa personalidade solidificou sua carreira em quatorze carnavais portando o pavilhão da Grande Rio, escola frequentada pelo pai, na qual permaneceu até 2012. Depois de uma breve passagem pela Mocidade em 2013, ela chegou no ano seguinte à Mangueira, uma extensão de sua casa, para alçar voos ainda maiores em sua carreira. A estreia na Velha Manga não trouxe os sonhados quarenta pontos, mas a conquista era questão de (pouquíssimo) tempo. Dona de um estilo clássico e muito próprio, Squel se firmou como uma potência do quesito e uma verdadeira referência da arte.

A partir de 2015, quando foi vencedora do Estandarte de Ouro, a porta-bandeira não perdeu nenhum décimo das notas atribuídas pelo júri, nem mesmo contando as que foram descartadas… até 2020, quando a tradição de só notas 10 se quebrou, mas não diminuiu em nada os méritos e o brilho da bailarina. Vale retroceder nesses carnavais mangueirenses que preenchem a segunda metade da década para exaltar o desfile campeão que homenageou Maria Bethânia, em 2016, quando Squel fez uma das apresentações mais fortes da sua carreira. Careca, ela veio lindamente vestida de iaô, uma imagem marcante das páginas da folia. Em 2017, ela ganhou a parceria de Matheus Olivério, seu tio, filho de Xangô, para ser seu mestre-sala. Mais do que uma ligação sanguínea, os dois se mostram um casal cada vez mais entrosado e exímios defensores de seus papeis enquanto mestre-sala e porta-bandeira. Ah, e como tanto talento é digno de reverências, Squel faturou, além do título com a Mangueira, o Estandarte de Ouro de melhor porta-bandeira pela segunda vez em 2019. Merece ou não merece um lugar especial no nosso TOP10 essa nossa divindade verde e rosa?


Priscilla Mota e Rodrigo Negri 
(Coréografos de comissão de frente)

A dupla que aqui contamos como uma só pessoa no vitorioso desfile das campeãs de 2019. Foto: Widger Frota

Essas personalidades são tão grandes, que são dois em um! O casal mostrou que a parceria fez sucesso no amor e também no carnaval. Priscilla e Rodrigo começaram a década surfando na euforia do sucesso que foi a comissão de frente comandada por eles em 2010, quando seus bailarinos trocavam de roupa em plena avenida, em um piscar de olhos. Um marco absoluto que influenciaria todos os anos seguintes, não só dos próprios trabalhos, mas como do decisivo quesito que capitaneiam. Em 2011, fizeram a Sapucaí perder a cabeça com um efeito de pescoços que caíam pelos corpos dos integrantes em uma comissão que tinha um toque de terror bem humorado. Na passagem pela Unidos da Tijuca, colecionaram prêmios e notas dez, sempre garantindo os trinta pontos até o ano de 2017, já em outra escola.

Depois de um desgaste artístico na amarela e azul, os dois ganharam uma nova casa e assumiram a comissão da Grande Rio. Por lá, fizeram mais história, com destaque para o excelente trabalho logo em seu primeiro ano pela tricolor, em 2015, com o enredo “A Grande Rio é do baralho”. No município de Caxias, afirmaram seu talento e deram sequência a um trabalho de excelência, mostrando uma combinação rara de competência, profissionalismo e criatividade. Em 2017, também foram os responsáveis pela famosa comissão que teve como integrante a ilustríssima Ivete Sangalo, no ano em que a própria cantora era a homenageada da escola. Desta parceria, chegaram a coreografar apresentações da cantora, com destaque para o Rock in Rio. Hoje, os dois estão vivendo um momento de amor com a Mangueira, escola que defendem desde o carnaval de 2019, na qual apresentam trabalhos mais enxutos e com menos efeitos tecnológicos ou ilusórios. Excelentes bailarinos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Priscilla e Rodrigo revolucionaram o quesito, mostrando que são ótimos diretores e produtores dentro e fora das pistas. Será que eles revelam o segredo de um trabalho tão consolidado e de constante excelência?

Para saber mais do trabalho da dupla, confira nossa entrevista com eles na série Processos da Criação. 

Tinga 
(Intérprete)
A personalidade comandando o carro de som da Vila Isabel no desfile de 2019. Foto: Eduardo Hollanda.
Solta o biiiiiiiicho! Quando Tinga tá na pista, ninguém segura a fera. Dono de uma famosa voz da folia, o intérprete coleciona excelentes carnavais na bagagem e muita experiência, apesar dos modestos 46 anos de idade vividos com a vitalidade de um garoto. A história na folia começou no carro de som da Vila Isabel como apoio do inesquecível Jorge Tropical. Sua primeira apresentação solo à frente do microfone principal da agremiação veio em 2004. Dois carnavais depois, Tinga experimentou o gosto de ser intérprete campeão do Grupo Especial com “Soy loco por tí, América: a Vila canta a latinidade”, em 2006, um trabalho pra lá de elogiado do cantor. Apesar de defender excelentes sambas na avenida, principalmente nos anos de 2012 e 2013, com os famosos “Angola” e “Festa no Arraiá”, obras aclamadas pelo público e pela crítica, o intérprete nunca foi agraciado com a premiação do Estandarte de Ouro nos últimos anos. Esse intrigante fato não diminui, de forma alguma, a potência e a qualidade de seu trabalho. 

Em 2014, Tinga chegou na Unidos da Tijuca abrilhantando sambas de nível mediano. Aliás, foi nesse ano que fez sua dobradinha de campeão por dois carnavais consecutivos em agremiações diferentes. Foi ele também o grande incentivador da escola no trágico ano de 2017, quando houve o desabamento do teto de uma alegoria da agremiação que ocasionou o ferimento de componentes. Diante do caos e de momentos de tensão, sem que o desfile fosse interrompido, Tinga puxou a escola com palavras de incentivo e amor, naquele cenário de aflição e dor e, visivelmente emocionado, cantou até a dispersão. Naquele momento, protagonizou um dos símbolos mais fortes de entrega ao ofício. O carnaval seguinte foi o último do intérprete na escola tijucana, garantindo cinco desfiles de uma ótima parceria entre os dois. Fora da pista, tornou-se um dos mais requisitados nomes para defender sambas durante as disputas. As grandes parcerias sempre têm Tinga, craque e pé-quente, como foco. Em um único ano, ele já chegou a ser o defensor de mais de seis sambas campeões. Como o coração e as oportunidades falaram mais alto, Tinga retornou à Vila Isabel em 2019, sua escola de origem – fato que não faz nenhuma questão de esconder – na qual continua como voz oficial. Cabe destacar aqui o ótimo trabalho que fez na faixa da escola no CD de 2020. Com tantas passagens marcantes e sempre humilde, ninguém duvida que Tinga, duas vezes campeão na década, é uma das nossas grandes estrelas.

Claudio Russo
(Compositor)
Nossa personalidade compôs o samba do maior desfile da história do Tuiuti. Foto: Alba Valéria Mendonça/G1.
Talvez uma das figuras mais desconhecidas do grande público nesta lista, Claudio Russo foi o escolhido para representar os compositores que revolucionaram o gênero nessa década, como vimos no nosso Top 10 de sambas-enredo. Longe de ser um novato da festa, quem olha para o renomado poeta mal imagina que suas mãos trabalham em prol do samba-enredo há trinta e um anos. Ainda jovem, compôs os primeiros sambas e pegou a manha do ofício na Portela. Lá chegou na década de 1990. Nos anos 2000, marcou de vez sua importância ao criar obras musicais que embalaram os títulos da Beija-Flor em 2004, 2007 e 2008.

Durante a década, Claudio passeou pelas mais diversas agremiações entre diferentes estados e grupos. E movimentou a polêmica discussão sobre a encomenda de samba, modelo que despontou na década como resposta a custosas e por vezes problemáticas disputas de samba. Defensor desta ferramenta e um dos compositores mais requisitados pelas escolas, o artista já criou obras inesquecíveis para agremiações como Renascer de Jacarepaguá, Paraíso do Tuiuti, Inocentes de Belford Roxo. Ao todo, os sambas campeões de Claudio figuraram em mais de 21 escolas de samba diferentes, entre grupos principais e de acesso, Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades. Claudio carrega e faz do samba mais do que uma singular bandeira. Dentre os registros da internet, estima-se que apenas nessa década ele assinou pelo menos trinta e seis obras ganhadoras - sem levar em consideração as parcerias que perderam disputas de samba ou ganhadoras que por ventura não tenham seu nome. É ou não é um poeta de mão cheia? 

Casagrande 
(Mestre de bateria)
A grande figura da bateria da Tijuca beijando seu pavilhão. Foto: Reprodução Facebook.
É o meeeeestre! Mas se engana quem acha que vamos falar de Fernando Pamplona. Nosso homenageado é grande até no nome; o Casão, ou Casagrande para os menos íntimos. Quem representa muito bem o coração de uma escola de samba, uma bateria. Dos componentes em atuação mais antigos de Unidos da Tijuca – ele chegou à escola há quarenta anos –, Casagrande foi aprendiz do inesquecível mestre Marçal. À primeira vista ele tem cara de bravo, mas receptividade e bom humor não faltam ao comandante da Pura Cadência. Luiz Calixto, nome de batismo do nosso mestre, fora do carnaval é taxista. Dentro da Sapucaí, ele orquestra uma das melhores e mais respeitadas baterias das escolas de samba cariocas. 

Em entrevista ao site Carnavalesco, certa vez, revelou que o trabalho de construção da identidade do ritmo tijucano teve início em 1999, momento em que já acompanhava o segmento, mas não como mestre. Desde o carnaval de 2008 é ele o responsável pela bateria tijucana, sempre muito respeitado pelos ritmistas, com uma postura que diz ter herdado ao admirar o comportamento de mestre Marçal. No nosso decênio, Casagrande conquistou nada menos do que dois títulos, um Estandarte de Ouro em 2015 e uma chuva de notas dez. Assim como Tinga, seu trabalho foi o impulso que fez a escola terminar de cruzar a avenida no desfile de 2017. Visivelmente emocionado e cabisbaixo, Casão se apresentou sem nenhuma alegria para o júri, mas seguiu digno e firme ao comandar seus ritmistas, igualmente abalados. Mesmo não sendo dos mais ousados, o músico sempre apresenta um trabalho de excelência e forte continuidade nesses anos de Sapucaí, possuindo ainda uma identificação marcante com a azul e amarelo do Borel. Dá um show, Tijuca!

Jack Vasconcelos 
(Carnavalesco)
Com microfone em punho, Jack é dos principais comunicadores dos desfiles das escolas. Foto: Eduardo Hollanda.
Mais um carnavalesco a integrar a lista, Jack Vasconcelos não foi um nome que começou a década sob os holofotes como Paulo Barros. O artista bateu ponto na Série A nos primeiros anos, mas uma virada de chave fundamental aconteceu a partir de 2015, em um carnaval pra lá de surpreendente no Paraíso do Tuiuti. Naquela apresentação, revelou o auge de sua maturidade como um artista da festa ao apresentar um grande trabalho plástico e narrativo. Logo em seguida, Jack faturou o campeonato do grupo com a escola em 2016, citado na nossa lista dos dez desfiles mais marcantes da Série A, e voltou ao Grupo Especial em 2017. 

Depois do último lugar neste carnaval em razão de um trágico acidente no desfile sobre a Tropicália, quando não houve rebaixamento, o carnavalesco usou o enredo – um dos seus grandes trunfos – a seu favor em 2018 e faturou um surpreendente vice-campeonato ao falar sobre os 130 anos da Lei Áurea. Afirmado para o mundo carnavalesco como um dos nomes mais promissores dos últimos anos, Jack deu um grande passo de um movimento de primazia pelo enredo, de valorização da narrativa como foco principal dos seus desfiles. Não é por acaso que o artista foi muito premiado com troféus do quesito, inclusive faturando o Estandarte de Ouro de melhor enredo em 2019, com “O Salvador da Pátria”. Em tempos de discursos vazios e histórias distorcidas no momento político e social do país (temas que aparecem nos desfiles do artista), assistir um carnaval de Jack é a certeza de ser ouvinte de uma boa história a ser contada, sem deixar faltar muito bom humor.

Confira como Jack marca um novo diálogo entre a academia das Escolas de Belas Artes com o carnaval neste artigo da nossa Série Carnavalescos. Ouça também a entrevista que fizemos com o artista em nosso podcast.


Milton Cunha
(Comentarista e apresentador)
O divinérrimo no desfile das campeãs de 2020. Foto: Andre Melo Andrade/MyPhoto Press.
Um acontecimento (no superlativo, se for possível, amadíssimos!). Milton Cunha é figurinha brilhante da folia brasileira. Nosso carnavalesco carrega muitos desfiles de sua autoria na bagagem com passagens por escolas como Beija-Flor, Unidos da Tijuca, União da Ilha e São Clemente. Porém, não foi qualquer trabalho propriamente assinado pelo artista dentro de um barracão, ou posto na avenida, que fez Milton ser um integrante ilustre da nossa lista. Durante a década, o serviço de Milton ao carnaval transcendeu os desenhos, desenvolvimentos de enredo e defesa de quesitos. Foi com seu conhecimento (e que conhecimento! Basta dar um Google no currículo da nossa querida personalidade para ver que não estamos mentindo) sobre materiais, narrativas, profissionais e todas as dinâmicas que envolvem a arte em sua expressão mais ampla e popular, a das escolas de samba, que seu carisma conquistou a todos nós. 

Em 2013, o paraense ganhou um lugar todo especial para comentar os desfiles da Série A e do Grupo Especial no Carnaval Globeleza, com presença cativa todos os anos desde então. Cheio de pontuações, observações e reações cada vez mais ricas e muitas vezes inesperadas, Milton faz jus ao título de grande conhecedor da festa. Além disso, ele é presença mais do que especial em todo e qualquer evento carnavalesco que frequenta. A exuberância na roupa e no jeito de falar e chegar do pós-doutor não ofusca a pessoa apaixonada pelo ofício e carregada de carisma. Durante todo o pré-carnaval, o “Enredo e Samba”, quadro do jornal local da TV Globo, é uma atração sempre aguardada pelos telespectadores e pelos componentes das agremiações. Sua fama transborda as escolas de samba e chegou até a um aplicativo de rotas e destinos, ao qual emprestou sua voz para guiar os condutores. Para dizer o que Milton é, mais fácil falar o que não é! Tá pra nascer quem não ame este homem! 


Menções honrosas 

Eita missão difícil escolher apenas dez profissionais que deram um show de competência nessa década! Por isso, confira também as menções honrosas de personalidades que brilharam no período em suas áreas por diversos fatores; por se reinventarem, tentarem propor novidades para festa, ou ainda pelo desabrochar de seu talento e  de sua afirmação. São figuras que se destacaram no enredo que estamos propondo contar com a #SérieDécada. Personalidades que também contaram os anos e ajudaram a desenhar os rumos do que foi os carnavais de 2011 a 2020 - e por pouco não entraram na lista principal.

Ambas as listas não possuem ordem hierárquica.

Phelipe Lemos (mestre-sala)

Marcella Alves (porta-bandeira)

Evelyn Bastos (rainha de bateria)

Rosa Magalhães (carnavalesca)

Laíla (diretor de carnaval)

Patrick Carvalho (coreógrafo)

Ito Melodia (intérprete)

André Diniz (compositor)

Ciça (mestre de bateria)

Marcelinho Calil (dirigente)

O Carnavalize, a partir de seus critérios, fez essa seleção, estimulando a pensarmos quais foram as principais personalidades em diversos segmentos. Fique à vontade para fazer sua lista e enviar para nós nas nossas redes sociais! Qual o seu #TOP10 de artistas do Rio de Janeiro dessa década?! Queremos saber!

Além dos textos com as listas, o #PodcastDoCarnavalize também retorna trazendo os bastidores de cada escolha, das decisões, do que discordamos e concordamos, um dia após a liberação de cada #TOP10! Os membros do Carnavalize, de quarentena, reviram vários desfiles e votaram pelos 10 destaques de sambas, desfiles, comissões de frente, personalidades… É óbvio que não faltou debate! É conteúdo pra ler e ouvir! Se liiiga e carnavalize conosco!
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A mente brilhante de Raul Seixas já projetava os dias atuais. Sua música hoje é fonte de inspiração para o nosso carnaval. Apesar de todas as adversidades, estamos aqui! Prontos para encarar todo e qualquer desafio! Prontos para fazer mais um grande carnaval! Viva o recomeço! Viva o carnaval 2021 da Dragões !

Renato Remondini – Presidente Tomate

Texto- Inspiração do Carnaval 2021 – “O dia que a Terra parou”

O vai e vem da metrópole silenciou. Os semáforos já não faziam mais sentido. A orquestra de freios e buzinas já não estava mais ali. As cidades, sempre céleres, pararam. A rua esvaziou. Foi de súbito. Não foi combinado. Naquele dia, a Terra parou.

Pela primeira vez, em muito tempo, foi possível ouvir o barulho ensurdecedor do silêncio. O sopro do vento percorrendo os arranha-céus. Sem o intenso deslocamento, era possível ver cores antes escondidas pela pressa do dia a dia. 

Sem ônibus lotados, sem carros amontoados pelas pistas: só a paz se impunha. O céu começou a revelar seu azul mais límpido, suave e brilhante. Da selva de pedra alucinante, brota a natureza valente. Ela sempre esteve ali: rompendo as frestas do asfalto, se esgueirando entre os canteiros. Agora é a sua vez. Ela ressurge nos ensinando que estamos ocupando a sua casa, e não o contrário. Ela nos ensina uma forte lição de resiliência e perseverança. A frieza do concreto se curva então à generosidade e ao acalanto do bosque, retomando seu lugar passo a passo: nas ruas e em nossos corações.

Ao olhar as arvores florescendo pelas janelas de nossos castelos de ferro e vidro, é possível perceber a força de suas raízes. É preciso, então, fortalecer as nossas próprias. Com as mãos, alcanço um antigo livro na prateleira da sala. A poeira do tempo revela que a rotina louca da civilização não nos permite o sabor da viagem que um livro pode nos proporcionar. A leitura é a grande oportunidade da vida de revirar as memórias impressas pelos grandes mestres e colher seus ensinamentos. A educação ganha uma nova dimensão e relevância. Cada capa de livro guarda dentro de si um universo infinito de possibilidades.  O conhecimento partilhado por cada obra nos permite conhecer novos mundos. Ao caminhar por essas estradas imaginadas por cada autor, acabamos conhecendo um pouco mais de nós mesmos. E para isso acontecer, foi preciso a Terra parar: só assim nos permitimos olhar para dentro de nossas almas e viver novas vidas através das linhas deixadas por eles. 

Nessa viagem de autoconhecimento, temos a chance de nos percebermos melhor. Sentir a alma e o corpo. 

Reconhecer a nossa natureza interna, seja ela física ou mental. A calma vista pela janela começa a inundar nossas vidas. A fé ecoa em meio aos corações. A busca pela espiritualidade nos conecta à essência do que significa ser humano. A mãe Terra ensina todos os dias a importância de buscarmos mais qualidade, de darmos o tempo certo ao nosso corpo e de buscarmos a saúde permanente, num estilo de vida novo. 

E diante desta pausa, a mente se sente livre para perceber o mundo de forma mais sensível. O coração se torna leve e finalmente temos o tempo certo para reconhecer a arte de viver. É ela – a arte – que enche de brilho a alma. Quando o ponteiro do relógio parou, tivemos então a oportunidade de nos emocionarmos com as melodias. Só assim conseguimos ouvir os acordes do violino, chorar diante da força de um monólogo; perceber as cores da tela. É através da contemplação da arte que alimentamos a esperança de um futuro mais harmônico. 

E a harmonia aprendida com os mestres da arte nos leva a mais importante lição: não há paz de verdade se ela é restrita. Não há felicidade plena, se ela não é plenamente dividida com nossos iguais. O mundo parou, mas o amor não pode parar. É preciso fazer chegar esse bom sentimento a todos aqueles que precisam dessa chama em seus corações. Foi preciso silenciar o ronco dos motores para que pudéssemos perceber que tem alguém que mora na esquina da sua vida, na frieza de uma calçada. É preciso espalhar as boas lições aprendidas com esse momento. Mas não bastam os bons sentimentos. 

A vida ensina que todo esse aprendizado só tem valor se ele se transforma em atitude concreta. O grande ensinamento é a solidariedade. Nós aceleramos o mundo: com isso, tornamos ele muito desigual para aqueles que não conseguem acompanhar o ritmo frenético da nossa época, pois só nós podemos estender a mão para erguer todos aqueles que precisam. 
No dia em que a Terra parou, nós pudemos respirar fundo. Aprendemos lições profundas. Fazer diferente daqui para frente, é com a gente mesmo.
No dia em que a Terra parou, o mundo, então, se tornou um lugar de gente feliz. 

Jorge Luiz Silveira
Carnavalesco
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Foto: Ritout/Gabriel Nascimento | Arte: Vítor Melo.
Por Bernardo Pilotto:

Em meados de 2015, o cenário em uma das mais conhecidas escolas de samba do Rio de Janeiro era desanimador. Vinda de alguns desfiles ruins, ficando fora do Sábado das Campeãs seguidamente, cheia de dívidas, a Mangueira estava desacreditada. Nos carnavais precedentes, em 2008, a verde e rosa tinha optado por uma tentativa de enredo patrocinado ao invés de homenagear o centenário de Cartola; em 2007, tirou Beth Carvalho, uma das suas principais componentes, do desfile e perdeu a mais marcante voz da Sapucaí, depois que Jamelão (intérprete entre 1949 e 2006) teve um AVC.

Alguns anos depois, o cenário é totalmente diferente. Campeã duas vezes nesse período (em 2016 e 2019), a Mangueira voltou a ser protagonista dos desfiles desde então. E não só pelos títulos: com o carnavalesco Leandro Vieira, a escola aliou uma excelente estética com ótimos sambas e um discurso político potente. Juntou tradição e ousadia. Deu certo. Uma mudança que honra os mais de 90 anos de história da agremiação.


Duas das bandeiras que encerraram o desfile inesquecível da Mangueira em 2019. Na imagem, Marielle e Jamelão em verde e rosa. Foto: Erica Modesto.


"Habitada por gente simples e tão pobre

Que só tem o sol que a todos cobre
 

Como podes, mangueira, cantar?”

(“Sala de Recepção” - Cartola)


Fundada em 28 de abril de 1928, a G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira ganhou esse nome por estar localizada junto à estação que se seguia à Central do Brasil, de onde partiam os trens para o subúrbio carioca. Localizado, portanto, próximo ao centro da cidade, o Morro da Mangueira era local de moradia de muitos trabalhadores ex-escravos, que mantinham por ali manifestações culturais típicas das culturas da diáspora africana.


O surgimento da Estação Primeira é fruto da junção de vários blocos e manifestações carnavalescas que já existiam no Morro, sendo o Bloco dos Arengueiros o principal. Desse bloco participavam alguns dos fundadores da escola, como Carlos Cachaça, Saturnino Gonçalves e Maçu da Mangueira.


A escola participa das competições do carnaval desde os primórdios, no começo da década de 1930, tendo sido a primeira campeã, feito que se repetiu em mais 19 ocasiões. A Mangueira foi fundamental para a fundação e consolidação de várias agremiações, como o Acadêmicos do Salgueiro, que já homenageou a madrinha em um desfile só pra ela.


Ao longo de sua história, a verde e rosa se tornou uma instituição cultural das mais importantes do país, tanto pelos nomes que de lá surgiram para o cenário nacional, como Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Dona Neuma, Dona Zica, Padeirinho, Hélio Turco, Delegado, Tantinho, Nelson Sargento, Xangô da Mangueira, quanto pelos mangueirenses ilustres, como Chico Buarque, Milton Gonçalves, Moacyr Luz, Alcione e Beth Carvalho.

Em muitas carnavais, a Mangueira acabou homenageando grandes nomes da cultura brasileira, como Braguinha (1984), Chiquinha Gonzaga (1985), Dorival Caymmi (1986), Carlos Drummond de Andrade (1987), Tom Jobim (1992), Os Doces Bárbaros (1994), Chico Buarque (1998), Nelson Cavaquinho (2011) e Maria Bethânia (2016).


Essas homenagens acabaram gerando importantes frutos, com a gravação dos álbuns “No Tom da Mangueira” (de 1993), “Chico Buarque de Mangueira” (de 1997) e “Mangueira - A Menina dos Meus Olhos” (de 2019). Em 1978 a comissão de frente da escola tinha, entre outros, Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça e Juvenal. Já em 87, à frente da escola desfilaram Chico Buarque, João Nogueira, Aldir Blanc, Hermínio Bello de Carvalho... A Mangueira foi se firmando ao longo do tempo como um polo de encontro.


Cartola, dos maiores compositores brasileiros, à frente da Mangueira no desfile de 1978. Foto: Ricardo Beliel.

“Quando ouvir essa batida

Foi Mangueira quem chegou
 

A escola que dá diploma ao sambista
 

A escola que envaidece o artista
 

As cabrochas mangueirando nas cadeiras
 

Abre ala Iaiá, quem chegou foi Mangueira”
 

(“Mangueira Chegou” - Zé Ramos)
 


Mas não são apenas seus membros, os desfiles ou suas cores que fazem a Mangueira uma escola única. Criada por Lúcio Pato, China e Baiano, a batida de surdo da verde e rosa tem características muito particulares, o que é lembrado em vários dos seus sambas. Diferentemente das demais escolas, que possuem um surdo de resposta, a Mangueira conta apenas com o “surdo um” para a marcação. E, fazendo uma função similar ao surdo de terceira das outras baterias, a verde e rosa conta com o “surdo mor”, que tem um tamanho menor e uma batida mais seca.


Essa diferença tem impactos importantes para a escola, em questões de harmonia e também em relação ao seus sambas-enredo, que precisam ter uma melodia que encaixe com essa forma de tocar os surdos.


A bateria pode ser vista como um dos símbolos do peso da tradição na escola. Ela foi, por exemplo, uma das últimas a aceitar mulheres entre seus membros e é conhecida por não fazer muitas inovações nos desfiles.


Mas essa pegada tradicional não impediu a Mangueira de trazer inovações em vários momentos. Foi assim com os enredos biográficos, com o primeiro samba-enredo gravado (em 1967) e, mais recentemente, com os enredos críticos e bem brasileiros. Foi assim que a escola conquistou 8 títulos desde a criação do Sambódromo (em 1984), sendo uma das maiores vencedoras desse período. Para o carnaval de 2020, a agremiação também trouxe inovações na forma de escolha do samba-enredo, com um mecanismo mais democrático.


Dessa forma, a escola tem conseguido equilibrar bem a sensível balança entre a necessidade de ser sofisticada e a demanda por se manter firme em suas raízes. Jovem e experiente, a Mangueira é peça fundamental para o complexo cultural do carnaval brasileiro.
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O Carnavalize está de volta a pleno vapor! Após um breve descanso e uma diminuição de ritmo, nossa produção de conteúdo retorna com um quadro que estávamos super ansiosos para fazer: a #SérieDécada! A segunda década desse século, iniciada em 2011 e finalizada no carnaval que acabou de terminar em 2020, trouxe muitas reviravoltas e transformações para a folia! Para traçar um panorama de tudo que aconteceu nestes últimos anos, tem texto novo todas as segundas, quartas e sextas-feiras.

Além disso, nos dias seguintes às divulgações dos textos - ou seja, terças, quintas e sábados - um podcast especial será lançado com nossos comentários em áudio sobre os desfiles, os bastidores das escolhas, e as nossas divergências de opiniões!

Como é impossível fazer uma seleção que agrade não só às leitoras e aos leitores, como também aos integrantes do Carnavalize de forma unânime, cada categoria também contará com menções honrosas que por pouquíssimo não entraram no ranking principal.

Arte e visual: Vítor Melo/Carnavalize | Foto: G1/Globo.com
                                                                                                           Por Juliana Yamamoto e Leonardo Antan
                                                                                                          Revisão: Felipe Tinoco

Essa foi sem dúvidas uma década e tanto para o carnaval de São Paulo. Além de se mostrar cada vez mais competitivo, os desfiles do Anhembi cresceram também em importância no cenário nacional, ganhando cada vez mais destaque e repercussão e revelando talentos que se projetaram pelo país afora. Esteticamente e estruturalmente, a folia paulistana também cresceu e muito com o aumento de investimento e de apoio de infraestrutura dos governantes locais. Prova disso foi a inauguração da Fábrica do Samba, na qual se reúnem os barracões das agremiações do Grupo Especial. Com uma disputa cada vez mais equilibrada, surgiram ainda um número expressivo de três campeãs inéditas nesses últimos anos: Tatuapé em 2017, Mancha Verde em 2019 e Águia de Ouro em 2020. 

Essas informações reiteram que, ainda que se preservem algumas polêmicas na apuração e críticas à folia da cidade, o carnaval da Terra da Garoa está entre os maiores do Brasil E é assim, nesses 10 anos de folia, que o Sambódromo do Anhembi foi presenteado com inesquecíveis e marcantes apresentações. A seleção abaixo apresenta algumas campeãs, outras não - mas todos são desfiles que se destacaram por sua força, com a colaboração de um grande samba-enredo e também a competência de profissionais nos quesitos. 

Chega de papo e venha conferir os 10 desfiles que elencamos como os mais marcantes do Grupo Especial do Sambódromo do Anhembi na década de 2011 a 2020! (A gente lembra sempre que a lista é escrita SEM ordem hierárquica, disposta de forma livre, e não em forma de ranking.)


Vai-Vai 2011 
(A Música Venceu)

Feliz da vida, lá vem o Bixiga! O som de doces violinos se juntou à batida ancestral da bateria Pegada de Macaco para louvar um dos maiores nomes da música clássica brasileira. Mostrando que "A música venceu" em seu enredo, a escola do povo levou para a Avenida a história de vida e de superação do maestro João Carlos Martins. Embalada por um dos melhores e mais emocionantes sambas-enredos da década, a Saracura foi a penúltima a desfilar na sexta-feira, com o sol já raiando. A obra musical misturava todo o lirismo que o enredo pedia com a garra característica do exemplo de comunidade da Bela Vista. Ambos os aspectos deram o tom para arrebatar o Anhembi.

Detalhes do abre-alas do Vai-Vai que possuía mais de 70 metros. Foto: G1 (Globo)
Na parte plástica, a batuta ficou por conta do experiente carnavalesco Alexandre Louzada em sua estreia na folia paulistana. Por isso, não faltaram grandiosas alegorias no cortejo: só o abre-alas possuía mais de 70 metros. Apesar do carro ter sofrido uma pequena avaria na lateral ao entrar no Sambódromo, não comprometeu a emocionante apresentação. Outro destaque foi a Comissão de Frente, com elementos que lembravam a obra de Salvador Dalí. Ela trouxe ainda símbolos que marcaram a vida do artista como a música, a política, as mulheres e o futebol. Na parte musical, a bateria comandada pelo Mestre Tadeu também brilhou com seus 300 ritmistas e o samba defendido pelo carro de som comandado pelo intérprete Wander Pires. Eles ajudaram a conduzir a preta e branca para seu 14º título do carnaval de São Paulo.

Mocidade Alegre 2012 
(Ojuobá – No Céu, os Olhos o Rei... Na Terra, a Morada dos Milagres... No Coração, um Obá Muito Amado!)

Tenho sangue guerreiro, sou Mocidade… Não dava para falar dessa década na folia paulista sem lembrar da agremiação que mais faturou títulos por lá. Depois uma apresentação problemática em 2011, a Morada do Samba escolheu um enredo em comemoração ao centenário do escritor Jorge Amado, tendo como fio condutor o livro “Tenda dos Milagres”, de 1969. Mergulhando na cultura baiana, na narrativa proposta não faltaram elementos do candomblé, da capoeira e da luta contra a intolerância religiosa - os quais integram o universo do livro que Jorge mais gosta de ter escrito.

O suntuoso e imponente abre-alas da Morada do Samba. Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP/Veja
Se no Anhembi o que se viu foi uma apresentação inesquecível, poucos se lembram que em janeiro de 2012 um incêndio atingiu o barracão da escola no qual algumas alegorias e esculturas foram danificadas. A diretoria e a comunidade se uniram para terminar o carnaval e mesmo com o contratempo a agremiação do bairro do Limão apresentou um magnífico desfile, evidenciando a força dos seus quesitos e, principalmente, da comunidade. Um dos sambas mais fortes da história da Mocidade Alegre foi a trilha sonora do desfile marcado pela emoção e superação, muito bem embalado pela bateria Ritmo Puro, que ousou com paradinhas que levantaram o público. No visual da apresentação, o trabalho da dupla de carnavalescos Sidnei França e Márcio Gonçalves foi impecável e se destacou pela impactante abertura em tons de vermelhos e alaranjados. Tantas qualidades resultaram não só em um desfile para lá de marcante, como também no incontestável campeonato.

Acadêmicos do Tucuruvi 2013 
(Mazzaropi: o adorável caipira. 100 anos de alegria)

Sai da frente a alegria vai passar! Depois de apresentações mais emocionantes e imponentes, trazemos um pouco de leveza para a lista. Foi com um visual colorido e alegre que o Acadêmicos do Tucuruvi levou para a Avenida uma grande homenagem ao humorista Mazzaropi, que no ano anterior havia comemorado o seu centenário. O desfile marca o belo casamento entre a azul e branco e o carnavalesco Wagner Santos. À época, o artista estava indo para o seu quarto ano na escola, por onde seguiria por mais alguns carnavais.

O abre-alas do Tucuruvi representava o circo, parte importante da vida de Mazzaropi. Foto: Reprodução Jovem Pan.
Contando a história do ator que levou multidões ao cinema brasileiro, o enredo abordou a carreira profissional do artista, suas paixões pessoais e fatos marcantes da sua trajetória. Os carros alegóricos representavam as cinco áreas de atuação sobre as quais o homenageado passeou: o circo, o teatro de rua, o rádio, o programa Rancho Alegre e o cinema. Wagner abusou das cores e apresentou um visual bonito, com a irreverência que fazia jus ao homenageado. Esse tom também foi percebido no excelente samba-enredo de letra descontraída, comprado pela arquibancada e muito bem conduzido pelo intérprete Igor Sorriso, estreante na Terra da Garoa. Foi tanta leveza que o “Zaca” deslizou no sambódromo, divertindo e  encantando o público como se fosse uma obra do Caipira mais amado do Brasil. Pena que o final dessa história não foi tão feliz e os jurados não enxergaram tantas qualidades na comédia estrelada pelo Tucuruvi. A agremiação terminou em um modesto 6º lugar.

Mocidade Alegre 2014 
(Andar com Fé Eu Vou, Que a Fé Não Costuma Falhar)

Depois de 2012, a Mocidade Alegre reaparece na lista com o último título de um tricampeonato que se encerrou em uma emocionante apresentação cujo tema era Fé. Muito inspirada na figura da presidente Solange Bichara, famosa por seus terços nas apurações, a vermelho, verde e branco do Limão falou de todo o tipo de fé no enredo que novamente contou com a assinatura de Sidnei França e Márcio Gonçalves. Abordando as diferentes maneiras de vivenciá-la, a Morada do Samba mostrou a religiosidade de várias partes do mundo e, notadamente, do Brasil.

Detalhes do abre-alas da Mocidade que trouxe elementos que representam a fé. Foto: Flavio Moraes/G1 (Globo)
Um dos destaques foi a comissão de frente comandada pelo coreógrafo Robério Theodoro. Ela representou o poder da sedução, com parte dos bailarinos vendados, guiados apenas pela voz do coreógrafo. Ainda que tenha gerado uma bela imagem, foi outro o grande marco daquele desfile: uma coreografia ousada que envolveu toda a escola, quando os componentes se ajoelhavam em determinados momentos do samba. A bateria do Mestre Sombra abusou novamente de bossas e paradinhas características. Outro destaque ficou com o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emerson e Karina, que conquistou a nota máxima. Apesar de não ser uma unanimidade como 2012, o desfile possuí consistência técnica de sobra que contribuiu para o derradeiro título da escola na década.

Vai-Vai 2015 
(Simplesmente Elis - A fábula de uma voz transversal do tempo)

Carnaval, a Bela Vista está em festa! Depois da bela homenagem ao maestro João Carlos Martins, foi apostando em mais um tributo a um grande nome da música brasileira que a Escola do Povo voltou a fazer uma apresentação para lá de emocionante. A escolhida na ocasião foi ninguém menos que Elis Regina, considera por muitos a maior cantora brasileira e com uma forte ligação com o bairro do Bixiga. Nos anos 70, ela gravou sambas do compositor Adoniran Barbosa, que se tornou o maior símbolo do bairro. O enredo optou por não contar simplesmente a biografia da homenageada, relembrando as grandes e inesquecíveis canções eternizadas na voz da Pimentinha. Se o samba-enredo corria o risco de virar uma colcha de retalhos com tantas citações, a missão foi muito bem cumprida pela parceira vencedora da disputa que ousou ao criar um refrão que lembrava a canção "Maria, Maria", de Milton Nascimento. Sambão garantido, a comunidade do Bixiga fez seu dever de casa mais uma vez e contagiaram o Anhembi sob a brilhante condução do intérprete Gilsinho.

Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Vai-Vai, Pingo e Paulinha. Foto: Alexandre Schneider/UOL
Mais uma vez, a preto e branco não deixou a dever em emoção, como na bela Comissão de Frente da agremiação que contou com a presença de ninguém menos que Maria Rita, filha caçula da homenageada. Além dela, os outros herdeiros da cantora, João Marcelo e Pedro Mariano, também marcaram presença. Se comunicação com o público não faltou tanto pela obra musical quanto pelo enredo de fácil assimilação, a escola deixou a desejar nos quesitos plásticos, principalmente em alegorias. Apesar de problemático, o visual assinado por Alexandre Louzada, que dessa vez assinou com André Marins e Delmo de Moraes, não tirou a escola da disputa com uma apresentação muito mais ilustre nos quesitos musicais e de pista. Desbancando a tricampeã Mocidade Alegre, que também fez um ótimo carnaval, o Vai-Vai acabou conquistando o seu décimo quinto título da escola nos braços de seu povo.


Império de Casa Verde 2016 
(Império dos Mistérios)

Uma nação guerreira, a grande estrela desse carnaval! Parecia que esse verso do samba-enredo do Império de Casa Verde premeditava o que aconteceria naquele ano de 2016. Neste carnaval, a grande estrela da folia paulistana foi o renascimento da agremiação. A escola havia marcado sua identidade com grandiosos e luxuosos desfiles na década anterior, conquistando nada menos que um bicampeonato no período 2005-2006. O espírito opulento do Tigre, que estava adormecido, foi retomado com a chegada do carnavalesco Jorge Freitas à agremiação.

O carnavalesco Jorge Freitas trouxe de volta o luxo característico do Império. Foto: Jefferson Pancieri/ SPTuris
O enredo abordava os grandes mistérios da humanidade, passando pelo lado inexplicável da fé, da vida após a morte e da origem da humanidade. Com carros extremamente luxuosos e impecáveis fantasias, o casamento entre Jorge Freitas e o Império não poderia ter se iniciado de forma mais interessante. O abre-alas imponente possuía nada menos que 75m de comprimento e 15m de altura. Além de apresentar o melhor visual das duas noites, a comunidade da Casa Verde mostrou a sua força. Junta ao excelente desempenho da Barcelona do Samba, o chão colaborou ainda mais para a quebra do jejum que já durava dez anos, garantindo o terceiro título da história da agremiação.


Dragões da Real 2017 
(Dragões canta Asa Branca)

Vem forrozear que o sanfoneiro vai tocar! Mesmo com pouca idade, a Dragões da Real se mostrava destinada a uma trajetória grandiosa na folia paulistana. A agremiação formada pela torcida organizada do time São Paulo se fixou no Grupo Especial logo na primeira metade da década e aos poucos foi conquistando posições e mais destaque. Assim, a competência da tricolor se confirmou com uma das grandes apresentações da década. Após temáticas mais lúdicas, a inspiração veio de um clássico de Luiz Gonzaga e a famosa Asa Branca guiou um enredo que homenageou o Nordeste do Brasil (que segurou o país nas costas nas eleições do ano seguinte).

O abre-alas da Dragões da Real foi um dos grandes destaques do desfile. Foto: Acervo/Reprodução Dragões da Real
Assinada por uma comissão de carnaval formada por Jorge Silveira, Márcio Gonçalves, Dione Leite e Rogério Félix, a agremiação da Vila Anastácio impressionou com suas alegorias e recursos criativos que renderem um belíssimo efeito. Além do visual, a vermelho e branco conquistou o público presente por meio do animado samba-enredo inspirado na música que foi eleita pela Academia Brasileira de Letras como uma das mais marcantes do século 20. A bateria comandada pelo Mestre Tornado ousou em paradinhas e bossas, elevando ainda mais o nível da apresentação. A comissão de frente representando o esforço dos sertanejos para conseguir plantar também causou forte comoção. A Dragões, então, escreveu seu nome na história no Anhembi com um desfile emocionante e valente. Uma pena foi que a alegria se tornou um lamento sertanejo na apuração. Inexplicavelmente, a escola perdeu o título na última nota no quesito samba-enredo para o Acadêmicos do Tatuapé, faturando apenas o vice-campeonato. A colocação não tirou o brilho de um desfile inesquecível da comunidade de gente feliz e arretada.

Acadêmicos do Tatuapé 2018 
(Maranhão: os tambores vão ecoar na terra da encantaria)

A segunda metade da década de 2010 foi marcada pela competência de uma agremiação: Acadêmicos do Tatuapé. A história vitoriosa começou anos antes, em 2016, quando a azul e branco surpreendeu ao conquistar o vice-campeonato homenageando a coirmã carioca Beija-Flor de Nilópolis. No ano seguinte, o esperado primeiro título da história da escola foi conquistado em cima do desfile da Dragões comentado anteriormente. Depois, porém, para quem achava que tinham sido dois acasos, o resultado de 2018 acabou com as dúvidas e firmou o estilo de desfilar mais técnico do bairro da Zona Leste.

Detalhes do abre-alas da escola da Zona Leste. Foto: Reprodução LigaSP
Após uma passagem marcante no Tucuruvi, o carnavalesco Wagner Santos fez sua estreia pela agremiação e levou um Maranhão multicolorido ao público. No desfile foram abordados diversos aspectos da cultura do estado, como suas lendas e sua música. O carnavalesco, que é maranhense, já havia abordado o tema em 2010 pelo Tucuruvi, mas conseguiu apresentar originalidade na apresentação. Além do belo trabalho plástico, uma das principais forças no desfile foi o samba-enredo, considerado um dos melhores da safra. Ele foi onduzido pelo carismático e talentoso Celsinho Melody, uma revelação da década que também brilhou no Sambódromo carioca. A bateria do Mestre Higor se destacou com paradões e bossas ao ritmo de reggae, muito popular no Maranhão. A comunidade novamente deu conta do recado e mostrou que estava confiante em busca do segundo título. No desfile imponente e técnico, o carnaval de São Paulo se deparou com a confirmação de uma nova estrela. 

Gaviões da Fiel 2019 
(A saliva do santo e o veneno da serpente)

“Sou Gavião você pode acreditar”. Os Gaviões da Fiel tentavam voltar aos seus tempos áureos buscando as primeiras posições. Para isso, a escola decidiu apostar em uma reedição do enredo de 1994, que naquele ano os levou ao vice-campeonato. “A saliva do santo e veneno da serpente” foi assinada pelo carnavalesco Sidnei França e encerrou o carnaval de 2019 com um desfile arrebatador. A reedição contou a história, as lendas, os benefícios e malefícios do tabaco. Sidnei recontou o tema apresentado há 25 anos pelo carnavalesco Raul Diniz com seu toque. Algumas adaptações nas alegorias foram feitas, mas a essência do enredo se manteve a mesma.

O abre-alas do Gaviões representa o medo e a fé. Foto: Marcelo Brandt/G1
A trilha sonora do desfile foi a principal atração. O samba-enredo é até hoje cantado pela torcida do Corinthians nos estádios, construindo sua grande popularidade. “Sarava, saravá, salve o santo guerreiro” foi entoado pela arquibancada no Sambódromo, fortalecendo ainda mais a apresentação. O público vinha abaixo com a escola a cada verso defendido pelo intérprete Ernesto Teixeira. Durante a apresentação, por alguns momentos o cantor dizia: “esse ano vai dar, eu falei”. A bateria do Mestre Ciro foi uma das melhores da noite e recriou as mesmas bossas apresentadas vinte e cinco anos antes. As alegorias, por sua vez, não apresentaram uma regularidade durante o desfile. Entretanto, isso não atrapalhou o espetáculo apresentado pela agremiação alvinegra. Assim, o carnaval de 2019 foi encerrado com uma apresentação estupenda, arrebatando todos que estavam presentes. Pena que a emoção do desfile não foi o suficiente para conquistar integralmente o polêmico júri paulistano, que deu apenas o 9º lugar a Gaviões.

Mocidade Alegre 2020 
(Do Canto das Yabás, Renasce Uma Nova Morada)

Nossa Morada renascerá… Depois de conquistar seu tricampeonato, a Mocidade Alegre patinou entre apresentações que não mostraram a mesma força de antes. Após complicações, a escola pisou no Anhembi em 2020 buscando renascer e, para isso, resolveu apostar novamente em um dito enredo afro. Reforçando o time de carnavalesco da alvirrubra, Edson Pereira se juntou a Márcio Gonçalves e Paulo Brasil na assinatura do cortejo. O enredo “Do canto das Yabás, renasce uma nova Morada” foi responsável por encantar o Anhembi na apresentação plasticamente irretocável e com a força característica e única da Morada do Samba.

“Nas águas de Iemanjá” foi um dos carros que mais chamou a atenção no desfile. Foto: Juliana Yamamoto/Carnavalize
A narrativa exaltava o poder das orixás femininas – as yabás - para reconstruir o planeta. Através do canto das divindades, existia a esperança para que a humanidade melhorasse e retomasse sua conexão com Olorum, o criador do mundo, possibilitando com que a Terra voltasse a ser um paraíso. O samba-enredo forte e muito bem interpretado por Igor Sorriso embalou uma apresentação esteticamente impressionante, com destaques para o Abre-Alas com a Morada de Olorum e o segundo carro "Nas Águas de Iemanjá". Este contou com 5 mil litros de água reutilizada em fontes e bolhas.

Mais uma vez, a Ritmo Puro levantou as arquibancadas e arrepiou o público com várias paradinhas e bossas. A comunidade do bairro do Limão também teve um excelente desempenho na busca pelo campeonato. Uma apresentação irretocável em todos os quesitos mostrou a força da Morada e a força das mulheres, que representavam 70% dos componentes no desfile. A agremiação não foi campeã - terminou na 3º colocação - mas nos presenteou com um espetáculo e com a certeza que a Mocidade Alegre renasceu.

Menções honrosas:

Não faltaram apresentações grandiosas e marcantes no Anhembi na última década e, por isso, a seleção não foi nem um pouco fácil. Procuramos traçar um panorama que mostrasse as transformações e o crescimento da folia paulistana, embaladas pelo investimento e o aperfeiçoamento de sua infraestrutura. Como comentado, esses aspectos contribuíram para o aumento da competitividade da festa, que coroou ainda o surgimento de novas protagonistas. Já que citar apenas dez desfiles era missão difícil, separamos alguns outros espetáculos que também valem ser relembrados como destaques dos últimos anos. 

Rosas de Ouro 2012 (O Reino de Justus)

Águia de Ouro 2013 (Minha missão: O canto do povo, João Nogueira)

Mocidade Alegre 2015 (Nos palcos da vida, uma vida no palco… Marília!)

Acadêmicos do Tatuapé 2017 (Mãe-África conta a sua história: Do berço sagrado da humanidade ao abençoado menino da terra do ouro)

Império de Casa Verde 2018 (O povo, a nobreza real)

Mancha Verde 2019 (Oxalá, salve a princesa! A saga de uma guerreira negra)

Águia de Ouro 2020 (O Poder do Saber – Se saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer)

Dragões da Real 2020 (A Revolução do Riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria).

Para você, qual seria o #TOP10? Qual desfile colocaria ou tiraria da nossa lista principal? Comente com a gente! #CarnavalizeSP.

Além dos textos com as listas, o #PodcastDoCarnavalize também retorna trazendo os bastidores de cada escolha, das decisões, do que discordamos e concordamos, um dia após a liberação de cada #TOP10! Os membros do Carnavalize, de quarentena, reviram vários desfiles e votaram pelos 10 destaques de sambas, desfiles, comissões de frente, personalidades… É óbvio que não faltou debate! É conteúdo pra ler e ouvir durante as próximas três semanas! Se liiiga e carnavalize conosco!
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O Carnavalize está de volta a pleno vapor! Após um breve descanso e uma diminuição de ritmo, nossa produção de conteúdo retorna com um quadro que estávamos super ansiosos para fazer: a #SérieDécada! A segunda década desse século, iniciada em 2011 e finalizada no carnaval que acabou de terminar em 2020, trouxe muitas reviravoltas e transformações para a folia! Para traçar um panorama de tudo que aconteceu nestes últimos anos, tem texto novo todas as segundas, quartas e sextas-feiras.

Além disso, nos dias seguintes às divulgações dos textos - ou seja, terças, quintas e sábados - um podcast especial será lançado com nossos comentários em áudio sobre os desfiles, os bastidores das escolhas, e as nossas divergências de opiniões!

Como é impossível fazer uma seleção que agrade não só às leitoras e aos leitores, como também aos integrantes do Carnavalize de forma unânime, cada categoria também contará com menções honrosas que por pouquíssimo não entraram na lista principal. (A gente lembra sempre que a lista é escrita SEM ordem hierárquica, disposta de forma livre, e não em forma de ranking.)


Por Vitor Melo, com colaboração de Leonardo Antan
Revisão: Felipe Tinoco
Artes e visual: Vitor Melo

Dos nove quesitos avaliados hoje em dia, chegamos ao único deles, que é, desde os primeiros desfiles, submetido a julgamento: o samba-enredo. Mostra-se, portanto, não só o peso histórico do gênero que nomeia e caracteriza as escolas, mas explicita a importância quantitativa intrínseca dos sambas em relação ao espetáculo geral apresentado. Por outro lado, é inegável dizer que o gênero samba-enredo teve sua importância relegada com a supremacia do visual durante bons anos. Esse cenário certamente se relativizou nos últimos anos, quando grandes obras começaram a romper as convenções estabelecidas e intensificar sua comunicação com o grande público. Prova disso foi a dificuldade que nossa equipe teve para entrar em um consenso e listar os 10 melhores sambas e as menções honrosas desta década pelo grande número de inspiradas obras - fato que não talvez não se repetisse em recortes temporais anteriores.

Com a busca interminável pelo “Ita perdido” e a tentativa pela replicação do sucesso salgueirense com o explosivo samba de 1993, o gênero samba-enredo enfrentou uma grave “crise estética” do início dos anos 90 até os primeiros anos desse nosso recorte, como definem Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas no livro “Samba de enredo:  história e arte”. Nessa monotonia criativa, sobraram sambas estruturalmente idênticos e faltaram composições que pudessem furar a bolha carnavalesca e se posicionarem como grandes obras do gênero. Tais características foram subvertidas notoriamente nos últimos anos, o que colocou em discussão não só o estilo das obras, mas todo o seu processo de feitura. Não faltaram debates sobre os prós e contras dos formatos das disputas de samba, o surgimento das encomendas como uma espécie de salvação das agremiações e muito outros pormenores que vêm sendo discutidos ao longo dos últimos anos. Como a missão desse panorama é grande e trabalhosa, vamos cortar o papo e partir já para a lista que falará de tudo isso por si mesma, pois o primeiro integrante pode ser considerado, sem dúvidas, o divisor de águas e a virada de chave desse panorama.

Confira um panorama mais detalhado sobre as transformações do gênero na última década neste ensaio da Série Sambas.

Obs.: Preparamos uma playlist para você se sentir por dentro de cada samba dos listados nesse texto, com exceção ao samba do Império da Tijuca de 2013, que não possuí faixa no Spotify. Clique aqui para ouvir.


 Portela 2012
E o Povo na Rua Cantando é Feito Uma Reza, Um Ritual
Compositores: Luiz Carlos Máximo, Wanderley Monteiro, Toninho Nascimento e Naldo

Que “Madureira sobe o Pelô” - como ficou, de fato, conhecido a obra musical portelense de 2012 - é um divisor de águas para o gênero sambas-enredo, não há dúvidas. Tanto que podemos concordar também que foi quem deu sobrevida e colocou a Portela nos trilhos para que pudesse voltar a ser a escola competitiva como registra os áureos momentos de sua história. Seguindo a cartilha, o carnavalesco recém-contratado Paulo Menezes apresentou uma elogiadíssima sinopse à época e inflou as expectativas para a safra da Majestade do Samba. Querendo esquecer a turbulência administrativa dos últimos carnavais, essas expectativas não precisaram esperar por muito tempo para serem concretizadas. Nas primeiras audições da safra, já havia um samba que se despontava como franco favorito desde o início da disputa e o qual foi coroado como um fenômeno da internet, introduzindo nesta conversa um importante mecanismo de divulgação e consolidação de favoritismo durante o período das disputas de samba.


Concebido com um primor de letra e uma estrutura totalmente inovadora diante do cenário citado na introdução da lista, o samba contava com três refrães e também um fio condutor que, além de cumprir sua função de forma majestosa ao contar o enredo, era genuinamente portelense: Clara Nunes. Tiro e queda! Mesmo que com certa apreensão pelos compositores e pelos fãs da obra por não saberem se a escola optaria por essa quebra ao padrão dos sambas da época, a parceria felizmente se sagrou campeã. Com um pré-carnaval longe do Portelão, que passava por uma reforma, os ensaios de rua da escola causavam grande euforia. Com essa energia, a Portela fez um desfile com garra e com total destaque ao seu chão, cantando, com emoção e a plenos pulmões, o melhor samba daquele ano – uma composição à altura das maiores da safra da azul e branco de Madureira, e como há tempo não se via por lá. A Portela terminou aquele carnaval em 6º lugar, com muitos méritos à qualidade da obra, e afastou de vez a triste memória do incêndio que assolou a agremiação, além de Grande Rio e União da Ilha, no carnaval precedente.



Unidos de Vila Isabel 2012
Você Semba de Lá, Que Eu Sambo de Cá - O Canto Livre de Angola
Compositores: Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Artur das Ferragens


Ainda falando desse essencial ano de reinvenção do gênero, vamos comentar uma obra que já apareceu nesse panorama da década que estamos fazendo, destacando o protagonismo não só dessa composição, mas também do desfile que ela embalou. (“Os 10 desfiles mais marcantes do Grupo Especial Carioca”, clique aqui para ler). A parceria multicampeã de André Diniz, vencedora de sete das dez disputas dessa década da Vila Isabel, contou com a chegada de peso do imperiano Arlindo Cruz naquele ano. O grupo, que tinha a incumbência de contar os laços afetivos que ligam Brasil e Angola, apresentou também, como acima, algo que rompesse estruturalmente com o que se encontrava em voga no quesito. A parceria optou por apenas um refrão clássico, que acertava em cheio ao brincar com o título do enredo, evidenciando forte influência do ritmo semba de Angola no nosso samba, “Semba de lá/Que eu sambo de cá”.

O reforço de peso que chegou à ala de compositores da Vila naquele ano, Arlindo Cruz. Foto: Rodrigues/Riotur

O samba incorporava Kizomba, retomando o inesquecível carnaval de 1988 da escola, em uma busca satisfatória de evocar sua comunidade e inflamar o chão da terra de Noel. Outro ponto inventivo da parceria foi propor um falso refrão delicioso, “Reina ginga ê matamba (...)”. Além disso, finalizando os recursos criativos da parceria, os compositores ousaram ao adicionar um contracanto na segunda do samba, iniciado em “Pelos terreiros (Dança, jongo e capoeira)” e finalizado por “A nossa Vila (Agradece com carinho)”, que teve um ótimo funcionamento no desfile, embora arriscado por agregar complexidade a fluidez da harmonia. Se não podemos dizer que esse samba coroou o campeonato da Vila Isabel em 2012, ficando ali no bairro vizinho com a Unidos da Tijuca, pode-se afirmar que, ao menos, ele figura instintivamente as memórias dos sambistas ao relembrar os expoentes do gênero.


Unidos de Vila Isabel 2013
A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo
Compositores: Martinho da Vila, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Tunico da Vila

Vamos de dobradinha! O povo de Noel começou a década com o pé na porta quando o quesito foi fazer samba bom. Dessa vez, com duas modificações na parceria que vencera no ano anterior, saíram Artur das Ferragens e Evandro Bocão e entraram ninguém menos do que Martinho e Tunico da Vila. Traduzindo o enredo da professora Rosa Magalhães, a obra musical é de uma sutileza ímpar e a forma poética como foi composta evidencia a narrativa proposta perfeitamente. Prova disso é a capacidade de nos transportar à rotina e ao cotidiano dos homens do campo. Estruturalmente, a obra não apresenta invenções tão marcadas quanto no ano anterior, mas prima por uma combinação poderosa de letra e melodia excepcionais, reafirmando todo o lirismo possível contido no enredo.


Dito isso, a grande sacada que diferenciou a letra, e deu ares criativos a ela, foi um bacana jogo de palavras, ação-consequência, no refrão principal entre os verbos “plantar/colher”. Se elencar as passagens melódicas inspiradíssimas desse samba ou, até mesmo, citar os brilhantes versos dele é chover no molhado, também é indispensável citar a força que ele adquiriu pela internet. Ao viralizar, sendo assistido e ouvido milhares de vezes no pré-carnaval, figura ainda hoje como um dos mais vídeos mais assistidos do gênero. Toda a repercussão ratifica a grandiosidade dessa obra que não só foi a trilha sonora do campeonato incontestável da Vila Isabel, mas também é o primeiro dessa lista que conseguiu a proeza de furar a bolha do carnaval e se manter ativo após a festa de Momo no imaginário popular. Vale comentar também a força desta canção ao colaborar criativamente e propiciar mudanças no enredo original da professora Rosa Magalhães. A carnavalesca, em algumas entrevistas naquele pré-carnaval, confirmou a mudança em sua ideia inicial, alinhando o desenvolvimento do tema com figuras construídas pelo samba.


Renascer de Jacarepaguá 2015
Candeia! Manifesto ao povo em forma de arte!
Compositores: Moacyr Luz, Teresa Cristina e Cláudio Russo


Muitos consideram a encomenda de samba-enredo maléfica ao gênero em si e ao surgimento de novos sambistas e compositores no geral. Veremos ao decorrer da lista, entretanto, que esse sistema recorrentemente utilizado pelas escolas tem gerado ótimos frutos, mesmo que por um caminho controverso. A escola de Jacarepaguá, a homenagear um dos fundadores da Majestade do Samba, Candeia, precisava de uma composição à altura do nome em questão. Por isso, a Renascer optou por repetir o sistema de encomenda que funcionara no carnaval de 2014, com a inclusão de Teresa Cristina à dupla de compositores Moacyr Luz e Cláudio Russo. Mais do que funcionar, a agremiação desfilou com um dos maiores sambas de sua história.   


Com uma melodia impressionante desde os primeiros versos, a letra se inicia de forma arrebatadora e impecável. Chegando ao primeiro refrão, o inspirado trio de autores optou por uma dupla de curtos versos bisados, evocando o homenageado e iniciando a também belíssima segunda estrofe de forma bastante agradável melodicamente. Com uma levada valente na medida certa, a letra inspiradíssima – com destaque para os versos “Não basta ter inspiração/Pra cantar samba é preciso muito mais/A rima suada pra ganhar o pão/Lamento em louvor aos orixás” – encaminhando de forma valente para o refrão principal de uma obra impecável. Com muitos problemas financeiros durante a preparação para o carnaval, os quesitos musicais da agremiação foram o pilar fundamental para que a escola desfilasse com alegria e garra, impulsionando a apresentação e garantindo um digno 9º lugar e a permanência no grupo de acesso. Teresa Cristina, uma das compositoras do samba, também atuou no carro de som da Renascer. Responsável por emocionar todos os fãs de Candeia e do samba, a música também se emocionou na avenida, gerando uma bela imagem na arrancada da escola.

Unidos do Viradouro 2016
O Alabê de Jerusalém, a saga de Ogundana!
Compositores: Paulo César Feital, Zé Gloria, Felipe Filósofo, Maria Preta, Fabio Borges, William, Zé Augusto e Bertolo

Outro samba dessa lista que nasceu fadado ao sucesso. Com uma repercussão rápida e batendo a casa de milhares de acessos nas primeiras semanas de divulgação, ainda como samba concorrente, dava as caras uma parceria com gongá fixado na MPB e que viria render ótimos frutos pro gênero carnavalesco. O grupo era encabeçado por Paulo César Feital, amigo de Altay Veloso, um dos autores da sinopse que gerou o “Alabê” viradourense daquele carnaval. Eles apresentaram uma obra singular, que já despontava não só para se consagrar como um dos melhores do ano, mas também como destaque da década. A parceria escolheu por iniciar o samba pedindo que o padroeiro da escola, Xangô, sincretizado na letra também como São João Batista, junto a Oxum, guiasse e desbravasse o caminho que viria no enredo e em toda impecável letra do samba.


Com uma variação melódica envolvente ao decorrer da obra, ela realizou com primazia a missão de sintetizar a luta expressa na narrativa épica proposta pelo enredo. A segunda do samba salta aos olhos pelo encantador casamento entre melodia e letra com destaque para os seguintes versos: “Ó, meu Brasil/Cuidado com a intolerância/Tu és a pátria da esperança/À luz do Cruzeiro do Sul/Um país que tem coroa assim tão forte/Não pode abusar da sorte/Que lhe dedicou Olorum”. Eles são  cirurgicamente precisos em narrar o enredo e encaminham o samba para um refrão poderoso, no qual se evocava novamente a dupla divina de orixás da cabeça da letra para o refrão principal, mexendo com o brio do componente. Vale ressaltar ainda na parceria a presença de Felipe Filósofo. Ele também se destacou como compositor inventivo na década e assinou grandes obras na conterrânea da vermelho e branco, a Acadêmicos do Sossego.


Renascer de Jacarepaguá 2017
O Papel e o Mar
Compositores: Claudio Russo, Moacyr Luz e Diego Nicolau


Com a manutenção do sistema de encomendas, e a ratificação do sucesso dessa fórmula, a Renascer aparece pela segunda vez na nossa lista e se consolida como uma das eminentes escolas de sambaços na década. Dessa vez, o samba também é assinado por um dos intérpretes da escola à época: Diego Nicolau. Ao descrever o fictício encontro entre dois guerreiros negros que se encontravam nas trincheiras da mesma causa social, a escritora e catadora de papel Carolina Maria de Jesus e o almirante negro João Cândido, o samba dispensou a sinopse, não divulgada pela escola, e expôs o enredo de forma poética, lírica e ímpar. A parceria optou por iniciar a letra na primeira pessoa, e a escritora dirige-se de forma comovente e poética ao mestre-sala dos mares com esta emocionante sucessão: “Eu fiz dos versos a fortaleza pra morar/Sou a filha da miséria/Você nasceu pra guerrear”.

Os intérpretes da Renascer, Evandro Malandro e Diego Nicolau, que é um dos compositores do samba. Foto: Gabriel Santos/Riotur
Seguindo no desenrolar do enredo, a canção conta com uma dupla de curtos versos bisados, seguidos por um falso refrão de felicidade única, mostrando o caráter criativo da obra e introduzindo a mudança de pessoa fundamental para entender a narrativa proposta. Nos próximos versos, entra em cena João Cândido, narrado em 3ª pessoa, mas igualmente poético à primeira do samba. A composição é de uma felicidade fantástica e parece crescer e crescer a cada verso que se sobrepõe. A obra-prima chega ao ápice no refrão principal, com a retomada da interlocução de Carolina de Jesus e a conversa com João. Em uma pergunta da intelectual, o samba se finaliza de forma fenomenal: “Ó, mestre sala/Quem te ensinou a bailar?/Um marinheiro sabe o balanço do mar/A chibata não estala mais/Quantos sonhos guarda o velho cais”. Os versos fazem referência ao clássico da MPB "O mestre-sala dos mares", compostos por Aldir Blanc e João Bosco, eternizado na voz de Elis Regina. No desfile, a composição cresceu ainda mais graças à atuação entrosada dos intérpretes da vermelho e branco, Diego Nicolau e Evandro Malandro. A ala musical da Renascer garantiu uma boa colocação defronte de uma plástica bem mais modesta. 



Beija-Flor 2017
Iracema, a virgem dos lábios de mel
Compositores: Claudemir, Ronaldo Barcellos, Maurição, Bruno Ribas, Fábio Alemão, Wilson Tatá, Alan Vinicius e Betinho Santos

Se a Beija-Flor não foi uma escola com contínuos destaques de samba-enredo na frutífera década ao carnaval, seu samba de 2017 é uma belíssima exceção. A obra foge completamente ao padrão da escola de melodias pesadas e letras densas de outrora, registrando sua importância. A composição possui ousadias que podiam muito bem não terem funcionado, como um refrão de impressionantes oito linhas e a repetição da palavra "amor" em um mesmo verso. O que poderia soar como pobreza estética, no entanto, ganhou uma cadência melódica envolvente, que ajudou na imprescindível função em não deixar a letra se arrastar. Além disso, em relação ao teor criativo, a parceria optou por um refrão do meio com quatro repetições do mesmo verso (“Pega no amerê, areté, anamá”), outra solução ousada que teve adesão maciça dos fãs do gênero e se tornou uma das marcas características da composição. Ainda bem que arte não precisa seguir regras!


A jandaia, de fato, cantou no alto da palmeira e sagrou o samba da parceria de Claudemir, Ronaldo Barcellos, Maurição, Bruno Ribas, Fábio Alemão, Wilson Tatá, Alan Vinicius e Betinho Santos como um dos melhores da década. Diferentemente da ideia inicial proposta pela comissão de carnaval nilopolitana, a parceria foi para outro lado narrativo e abordou termos, episódios e figuras marcantes do livro Iracema, o enredo da Beija-Flor. Os compositores contrabalancearam positivamente a sinopse da escola daquele ano - a qual, por sua vez, tinha um viés mais lúdico e não abordava elementos das linhas de José de Alencar. A melodia que se tornou um pouco mais cadenciada para atender ao estilo do consagrado Neguinho não foi um fator negativo, como alguns esperavam, mas sim um dos pontos altos da apresentação. O andamento do samba na pista se harmonizou de forma satisfatória com o também ousado visual apresentado pela agremiação.


Mocidade Independente de Padre Miguel 2018
Namastê... A Estrela Que Habita em Mim Saúda a Que Existe em Você
Compositores: Altay Veloso, Paulo César Feital, Zé Glória, J. Giovanni, Denilson do Rozário, Carlinhos da Chácara, Alex Saraiça e M. Meiners

O compositor Paulo César Feital, que encabeçou a parceria campeã da Viradouro em 2016, volta à nossa lista em outra composição marcante e que, dessa vez, contou a presença de seu amigo e consagrado músico-compositor Altay Veloso. Com uma ótima sinopse, assinado pelo jornalista e escritor Fábio Fabato, o grupo de compositores apresentou uma eminente obra, que cativava desde a primeira audição o ouvinte de forma rápida e instintiva. A linha melódica fugia ao lugar comum, repetindo a equação do ótimo samba também da Mocidade do ano anterior. A letra elencava e situava juntos símbolos e imagens da Índia e do Brasil, ao mesmo tempo que evocava capítulos e passagens da história da própria Estrela Independente. O único porém dessa composição foi o verso “Deite e Holi”, trocadilho com o festival indiano. Após críticas, a passagem foi trocada a tempo e não comprometeu a primazia dessa obra durante o desfile.


De cara, dá pra perceber que esse samba é coisa séria quando seu primeiro verso inicia com "Khamadenu”. A expressão foi encaixada perfeitamente na composição, em uma construção que não poderia sair de qualquer parceria - afinal, adaptar uma seleção vocabular desse tipo em um samba-enredo exige muita competência. Brincadeira à parte, faz-se necessário a citação dos versos “Do sal à doce liberdade/Há tempo ainda! /Desobedecer pra pacificar/Como um dia fez a Índia!” em uma poética alusão à Marcha do Sal indiana de 1930 e brincando com a sinestesia de uma dualidade de sensações, “Do sal à doce liberdade”. Encaminhando-nos para o fim, vê-se como todo o samba em questão é pensado de forma gradativa até chegar ao clímax do refrão principal, traçando um paralelo entre Nova Déli e Brasil com uma linda imagem entre o céu indiano e o brasileiro: “Bendita seja a Santíssima Trindade!/Em Nova Délhi ou no céu tupiniquim/Ronca na pele do tambor da eternidade/O amor da Mocidade sem início, meio e fim!”. Emocionante, o samba fez a Estrela assinar sua importância no quesito musical na década comentada.


Paraíso do Tuiuti 2018
Meu Deus, Meu Deus! Está extinta a escravidão?
Compositores: Cláudio Russo, Moacyr Luz, Jurandir, Zezé e Aníbal

Próximos de chegar ao fim, falaremos de um dos sambas que mais tiveram repercussão fora da bolha do carnaval nesse passado recente - seja pelo posicionamento pertinente do enredo em relação ao contexto social no qual vivemos, seja pela exuberância poética e pela força melódica presentes nessa composição. Como mais um dos sambas encomendados dessa lista, podemos ratificar a importância e a necessidade da discussão dos caminhos a serem seguidos pela festa no que tange ao gênero que a embala. Além das pratas da casa Jurandir, Zezé e Anibal, a parceria contou com os nomes de peso de Cláudio Russo e Moacyr Luz, e apresenta desde os primeiros versos todo o esforço dos autores para nos entregar algo à ura do tema pedido. E conseguiram fazê-lo em toda composição.


O samba é narrado na primeira pessoa, dando pessoalidade e contornos dramáticos que enriqueceram a narrativa exposta e protagonizaram ainda mais o teor poético da obra. Abordando o aspecto criativo do samba, destaca-se a sucessão de dois refrães (de meio) de quatro versos pujantes, os quais denotam a força de sua letra, propondo novas soluções estruturais. Chegando ao refrão principal, a parceria retoma um trecho do título do enredo e encabeça de forma cirúrgica a mensagem que sintetiza o cheque feito pelo carnavalesco e pela escola em relação às sequelas contemporâneas da abolição da escravidão brasileira: “Liberte o cativeiro social!”.  Esse primor embalou o melhor desfile da trajetória do Paraíso do Tuiuti e levou a escola à melhor posição de sua história, o vice-campeonato do Grupo Especial carioca daquele ano.

Mangueira 2019
História pra Ninar Gente Grande
Compositores: Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Márcio Bola, Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo

“O samba fala das maiorias, e não das minorias. A maioria das pessoas não é príncipe, princesa ou rainha. A maioria são os 'heróis de barracões'”. Dessa forma, a letrista e compositora do samba da Mangueira de 2019, Manu da Cuíca, define um dos principais trunfos desse samba antológico: o autorreconhecimento. Ao abordar heróis à margem da oficialidade que não estão nos retratos tradicionais, a composição assinada por uma parceria considerada azarona da disputa foi ganhando corpo desde o primeiro minuto após o áudio do samba ter sido vazado na rede de mensagens WhatsApp. Tendo como grande aliada a internet, os compositores viram o nascimento de fãs que se sentiam representados por aquele discurso pertinente ao enredo e pelos retratos do cotidiano expostos nas lacunas sociais apontadas pela proposta do carnavalesco, cirurgicamente sintetizadas no samba. Na disputa, o samba contou com uma repercussão orgânica e de contorno monumental, contando com uma torcida de peso formada por comentaristas de carnaval, artistas fora da bolha e políticos. O percurso foi trilhado até que a zebra fosse consagrada o samba da Estação Primeira para o carnaval de 2019.


Um fato interessante desse samba é o caminho inverso que ele percorreu. Como fazia a justa e pertinente menção à Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro brutalmente assassinada, ele captou atenção e furou a bolha carnavalesca antes do desfile ocorrer. Por isso, gerou não só um maior interesse popular pelo desfile da Mangueira, como também certa curiosidade e prévio conhecimento do samba de uma forma intensa como há tempo não se via. Com a sua melodia valente, a letra é precisa ao citar heróis da história “alternativa” brasileira. A adesão popular, predominantemente carente ao samba-enredo, encontrou nessa obra o combo perfeito para exponenciar ainda mais o protagonismo da verde e rosa como uma das principais instituições culturais desse país, além de ratificar essa década como um marco da oxigenação do gênero samba-enredo. Tirou toda a poeira dos porões!


Menções honrosas:

Nunca foi tarefa fácil fazer essa lista, confessamos! Muitas obras importantes e marcantes ficaram de fora, mostrando como foi frutífera a década para o quesito recordado. Para essa seleção, vale destacar, tentamos escolher as composições que aliam qualidade melódica e inovações em sua narrativa. Dessa forma, não necessariamente foram escolhidos os mais populares e marcantes de cada ano.

No debate de obras que propuseram novas estruturas e formatos em letra e melodia, não pode ficar de fora também toda a discussão em torno dos processos de escolhas das obras musicais. Da principal delas, a encomenda é assunto já conhecido, visto que mesma criticada, gerou três obras presentes na lista. Fato é que em 2020 muitas escolas propuseram novas formas de disputa aliadas nesse debate. O que não falta é assunto para muito debate!

É notório, de qualquer forma, a bela renovação do gênero e a quantidade de obras cheias de qualidade. Exatamente por isso, como dez era um número pequeno, separamos uma outra seleção de menções honrosas com mais outras dez obras que por pouco não figuraram entre os escolhidos finais. 


Mangueira 2011: O Filho Fiel, Sempre Mangueira
Compositores: Aílton, Cesinha Maluco, Alemão Xavier, Te e Baiano

Império da Tijuca 2013: Negra, Pérola Mulher
Compositores: Samir Trindade, Serginho Aguiar, Araújo, Walace Menor e Alexandre M

Salgueiro 2014: Gaia - A vida em nossas mãos
Compositores: Xande de Pilares, Dudu Botelho, Miudinho, Betinho de Pilares, Rodrigo Raposo e Jassa

Imperatriz Leopoldinense 2015: Axé Nkenda! Um Ritual de Liberdade
Compositores: Marquinho Lessa, Zé Katimba, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna

Vila Isabel 2016: Memórias de 'Pai Arraia' - um sonho pernambucano, um legado brasileiro!
Compositores: André Diniz, Martinho da Vila, Martinália, Arlindo Cruz e Leonel
Intérprete: Igor Sorriso

Cubango 2017: Versando Nogueira nos cem anos do ritmo que é nó na madeira!
Compositores: Gabriel Martins, Belo, Rafael Coutinho, Robson Ramos, Sergio Careca, Dema Chagas, Tricolor, Vinicius Xavier, Thiago Farias e Duda

Mocidade 2017: As Mil e Uma Noites de uma 'Mocidade' prá lá de Marrakesh
Compositores: Altay Veloso, Paulo César Feital, Zé Glória, J. Giovanni, Dadinho, Zé Paulo Sierra, Gustavo, Fábio Borges, André Baiacú e Thiago Meiners

Unidos de Padre Miguel 2017: Ossain: o poder da cura
Compositores: Samir Trindade, W. Corrêa, Claudio Russo Marquinhos, Alan Santos, Jr. Beija-Flor Carlinhos do Mercadinho e Cabeça do Ajax

Santa Cruz 2019: Ruth de Souza – Senhora liberdade. Abre as asas sobre nós
Compositores: Samir Trindade, Elson Ramires e Júnior Fionda

Grande Rio 2020: Tatalondirá - O Canto Do Caboclo No Quilombo De Caxias
Compositores: Derê, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro e Toni Vietnã

O Carnavalize, a partir de seus critérios, fez essa seleção, estimulando a pensarmos o que foram esses últimos 10 anos no samba-enredo. Fique à vontade para fazer seu ranking e enviar para nós nas nossas redes sociais! Qual o seu #TOP10 dos sambas do Rio de Janeiro dessa década?! Queremos saber!

Além dos textos com as listas, o #PodcastDoCarnavalize também retorna trazendo os bastidores de cada escolha, das decisões, do que discordamos e concordamos, um dia após a liberação de cada #TOP10! Os membros do Carnavalize, de quarentena, reviram vários desfiles e votaram pelos 10 destaques de sambas, desfiles, comissões de frente, personalidades… É óbvio que não faltou debate! É conteúdo pra ler e ouvir durante as próximas três semanas! Se liiiga e carnavalize conosco!
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