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Carnavalize

 


Texto por Beatriz Freire e Juliana Yamamoto
Revisão por Luise Campos

A série “Giro Ancestral” está na sua segunda temporada, na qual toda segunda-feira do mês de novembro mergulhamos no universo dos nossos mestres-salas e porta-bandeiras, compreendendo a magia que envolve sua arte. Iniciamos conhecendo algumas porta-bandeiras e mestre-salas históricos do Carnaval carioca e paulistano, esmiuçamos sobre um instrumento de trabalho essencial para as damas e superamos todas as imprevisibilidades de um desfile para traçar o caminho para a nota 10 dos casais. No último texto, conhecemos os estilistas da moda carnavalesca e seus ateliês, que vestem casais para o grande dia. Hoje, encerrando a segunda temporada, elencamos os grandes campeões do Rio e de São Paulo: os caçadores de títulos.

Ainda na primeira temporada, listamos os casais que por maior tempo permaneceram bailando juntos. Hoje, surfando no mesmo mar, mas não na mesma onda, preparamos um ranking especial com os mestres-salas e porta-bandeiras que, juntos, foram o maior número de vezes campeões do Carnaval. Mais do que excelentes guardiões, será que poderíamos chamá-los de amuletos da sorte? Confiram só!

Manuel Bam-Bam-Bam e Dodô (11 campeonatos)

Manuel e Dodô conquistaram juntos nada menos do que 11 títulos pela Portela. Um marco até hoje não superado, mais de oito décadas depois da primeira conquista. Foto: Reprodução/Internet

Os primeiros colocados do Rio de Janeiro colocaram o sarrafo lá no alto logo nos primórdios dos desfiles das escolas de samba. Há mais de oitenta e cinco anos, a jovem Dodô estreou no posto de porta-bandeira da Portela, ao lado de Manoel Bam-Bam-Bam, seu mestre-sala, que poucos anos antes transformaria o bloco "Quem Nos Faz é o Capricho" na "Vai Como Pode". Naquele mesmo ano - em 1935, para ser mais precisa -, os dois já puderam soltar da garganta os gritos de comemoração do campeonato. Aquele seria apenas o primeiro, tanto da carreira do casal quanto da agremiação que representavam, em um curto intervalo de tempo que ajudou a garantir à escola o título de maior campeã até hoje. Quatro carnavais depois, em 1939, o feito se repetiria. Na década de 1940, quando a Portela levou praticamente todos os títulos para Madureira, os dois foram o casal defensor do lendário heptacampeonato. Dos doze anos em que estavam ocupando aquele cargo até então, só não foram campeões em cinco oportunidades. Dodô e Manuel fecharam a posição que lhes consagra até hoje com mais duas conquistas: em 1951 e, por fim, em 1953, ano de supercampeonato.

Claudinho e Selminha Sorriso (10 campeonatos)

Claudinho e Selminha no desfile de 2007, um dos dez campeonatos que conquistaram juntos. Cumplicidade e excelência os ajudaram a faturar tantos títulos. Foto: Fábio Rossi/O Globo.

Maravilhosos e soberanos, eles formam o casal com maior potencial da atualidade para romper os feitos de Dodô e Manuel. Inconfundíveis, Claudinho e Selminha Sorriso traçaram uma trajetória de, aproximadamente, trinta carnavais de união, que resultou em dez títulos para suas carreiras até o momento. Apesar de serem conhecidos por defenderem o azul e branco da Beija-Flor de Nilópolis, a formação da dupla como primeiro casal aconteceu na Estácio de Sá, no ano de 1992, quando também foram campeões logo de cara, no desfile "Paulicéia Desvairada", o primeiro título deles. Permaneceram na escola por mais três carnavais, mas nenhum outro título foi conquistado. Em 1996, o jovem casal chegou, enfim, à Deusa da Passarela para defender as suas cores. Foram dois carnavais de boas posições - terceiro e quarto lugares, respectivamente, até que conquistassem o primeiro campeonato pela Beija-Flor, em 1997. Com dois títulos, dali pra frente decolaram: muitos vices-campeonatos, estandartes de ouro e a consolidação como exemplos de mestre-sala e porta-bandeira pavimentaram o caminho de Claudinho e Selminha - diminutivos apenas nos apelidos - rumo a outros oito títulos junto à Beija-Flor, com um tricampeonato de 2003 a 2005.

Chiquinho e Maria Helena (6 campeonatos)

Chiquinho e Maria Helena, filho e mãe, entraram para a história do Carnaval como um dos mais famosos e talentosos casais já formados.No caminho que traçaram juntos, conquistaram seis títulos, todos defendendo as cores da Imperatriz Leopoldinense. Foto: Wigder Frota.

É praticamente impossível não conhecer a parceria de vida de Chiquinho e Maria Helena, tanto determinada pelo laço sanguíneo e afetivo de mãe e filho, quanto a de entrosamento na Avenida. Ela, que a duras penas batalhou por emprego, moradia e comida para criar o filho Chiquinho e, mais tarde, Elizangela, se encantou com o bailado da porta-bandeira ao ver Neide dançar ao lado de Delegado em uma noite de ensaios na quadra da Mangueira. Juntos, os dois fizeram história na Imperatriz Leopoldinense: primeiro a mãe, que já tinha alguma experiência na dança. Chiquinho era o segundo mestre-sala da agremiação quando Bagdá, parceiro de Maria Helena no posto oficial, saiu da escola. Em 1983, mãe e filho passaram juntos, então, a integrar o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação. O primeiro título veio seis anos mais tarde, no Carnaval de 1989, com o famoso desfile “Liberdade, liberdade! Abre as asas sobre nós”. Pouco tempo depois da chegada de Rosa Magalhães à escola, parecia estar formado o verdadeiro time dos sonhos. Dito e feito. Nos oito carnavais realizados entre 1994 e 2001, o casal foi campeão até com uma nota 9,5, e só não levantou o caneco em três oportunidades (1996, 1997 e 1998). 

Delegado e Neide (5 campeonatos)


Neide e Delegado são considerados por muitos um dos maiores casais de mestre-sala e porta-bandeira existentes no Carnaval carioca. Juntos, estiveram presentes em cinco títulos da Estação Primeira de Mangueira. Foto: Amicucci Gallo

Delegado já era mestre-sala da escola há dez anos quando Neide passou a ocupar o posto de porta-bandeira ao seu lado, em 1954. A entrega e paixão dos dois pela dança, traduzidos em tanta elegância, criaram um bailado único e muito enamorado. Delegado nunca tirou nota menor que dez e assumiu também cargos como diretor de bateria, harmonia e ritmista na escola. O primeiro campeonato, como se observa mais uma vez nesta lista, veio logo no primeiro ano de parceria. E muito mais estaria por vir. Apesar dos dezoito carnavais ininterruptos juntos, sequenciados por mais três que viriam após a separação da dupla, Neide e Delegado ostentaram notas máximas, mas não exatamente a mesma proporção de campeonatos. Foram novamente campeões com a Mangueira durante a década de 1960 (60, 61, 67 e 68). Depois da volta da dupla, que se separou nos primeiros anos da década de 1970 e retornou para o Carnaval de 1978, Neide já estava debilitada pelo câncer - mas não se entregava - e a Mangueira bebericava as primeiras posições, mas não saciava a sede do caneco. 

Renatinho e Fabíola (5 campeonatos)

Renatinho e Fabíola possuem juntos 5 campeonatos. (Foto: Rota do Samba)

Agora desembarcamos na Terra da Garoa para conhecer os casais de mestre-sala e porta-bandeira que mais foram campeões em sua carreira. Para iniciarmos a lista, começamos com um dos mais tradicionais do Carnaval paulistano: Renatinho e Fabíola. Os irmãos iniciaram na dança em 1992 através da escola de MSPB “Pé Rachado”, comandada por Ednei Mariano e Sidnei Amaral. Em 1993, tornaram-se o primeiro casal do Brinco da Marquesa e, no mesmo ano, entraram para o quadro de casais do Vai-Vai, uma das principais agremiações de São Paulo. Começaram a crescer dentro da escola e ganhar notoriedade pelo excelente bailado, assumindo assim o pavilhão oficial da alvinegra a partir do Carnaval de 1998, na qual foram campeões. Permaneceram na Saracura até o Carnaval de 2005 e juntos conquistaram nada menos do que quatro títulos (1998, 1999, 2000 e 2001). Entretanto, a história vitoriosa de Renatinho e Fabíola não parou aí. Após uma passagem marcante pela escola do Bexiga, a dupla foi mostrar o seu inegável talento para arte na Caçula do Samba, o Império de Casa Verde. Permaneceram na agremiação até 2010, onde conquistaram mais um campeonato em 2006. Juntos, os irmãos possuem 5 títulos em sua trajetória.

Michel e Ildely (7 campeonatos)

Michel e Ildely pelo desfile da Gaviões em 1999. A dupla possui uma linda história pela agremiação. 
(Foto: Realeza do Samba)

O segundo casal da nossa lista representa o amor e a fidelidade a uma única agremiação por 17 anos ininterruptos: Michel e Ildely. A dupla possui o sangue preto e branco dos Gaviões da Fiel correndo em suas veias e já frequentavam a agremiação na época em que ainda era um bloco, acompanhando assim toda sua ascensão no Carnaval paulistano. A história dos dois como defensores oficiais do pavilhão da alvinegra começou em 1990, passando a colecionar títulos, desfiles memoráveis, alguns problemas em suas apresentações, mas sempre com muita superação e amor pela escola que defendiam. O primeiro campeonato da dupla foi em 1991, quando o Gaviões conquistou o Grupo de Acesso. Permaneceram na Torcida que Samba até o Carnaval de 2007, conquistando impressionantes 6 títulos, sendo quatro do Grupo Especial (1995, 1999, 2002 e 2003) e dois no Acesso (2005 e 2007). Apresentações regulares e coleção de notas 10 são a marca registrada do casal que, apesar disso, já sofreu contratempos em suas apresentações, como em 2000, quando o costeiro da Ildely caiu na frente da segunda cabine de jurados, e em 2006, com a quebra do mastro em plena Avenida. Mesmo com imprevistos, nada apaga o brilho e a história de lealdade de um dos casais mais tradicionais do Carnaval e um dos mais importantes da escola da torcida corinthiana.

Jorginho e Rosângela (4 campeonatos)

Jorginho e Rosângela foram um dos principais casais da Roseira. 
(Foto: Desconhecido - Reprodução da Internet)

Desembarcando agora na Freguesia do Ó, um dos casais mais emblemáticos da história da azul e rosa é Jorginho e Rosângela, ou “Nenê”, como muitos gostavam de chamá-la. Até hoje, a dupla é relembrada com muito carinho pela comunidade pelo inegável talento para a arte. Rosângela tinha um bailado muito elegante, além de um sorriso marcante. A dama inspirou muitas porta-bandeiras que surgiram posteriormente, inclusive Isabel Casagrande, a atual defensora do pavilhão da Roseira, que, ao ver a dançarina na quadra, se encantou e decidiu seguir a mesma trajetória. Jorginho foi um dos principais nomes do quesito: seu famoso riscado tornou-se referência e, por ser muito talentoso, ganhou vários admiradores. A dupla esteve presente em quatro campeonatos da azul e rosa: em 1990, 1991, 1992 e 1994, o último pela escola. Jorginho e Nenê encerraram seu ciclo com chave de ouro, colecionando notas máximas e um grande amor pela escola que defenderam.

Emerson Ramires e Adriana Gomes (3 campeonatos)


Emerson e Adriana no Carnaval de 2011. Juntos, a dupla possui 3 campeonatos.
(Foto: Realeza do Samba)

Emerson e Adriana formaram uma parceria duradoura na Mocidade Alegre. Juntos defendendo o pavilhão oficial da verde, vermelho e branco desde 2006, a dupla conquistou três campeonatos: 2007, 2009 e 2012. Emerson é filho de Eneidir Gomes, outro grande nome do quesito e que fez história na própria Morada do Samba e no Vai-Vai. Já Adriana é filha de Maria Gilsa, também referência na arte e que escreveu seu nome na Rosas de Ouro. Antes de iniciarem a parceria vitoriosa pela escola do Limão, Adriana já era primeira porta-bandeira da Morada, porém seu mestre-sala era o Rubens. Com ele, a dama conquistou o título de 2004. A parceria de Emerson e Adriana encerrou após uma fatalidade envolvendo a dançarina no ano de 2012, quando o elevador que estava despencou. Adriana precisou se afastar do Carnaval para se recuperar e, com isso, Emerson começou a dançar com Karina Zamparolli. Juntos, eles conquistaram mais dois campeonatos, em 2013 e 2014, fazendo com que, em toda sua carreira como mestre-sala oficial, Emerson somasse 5 títulos. Já Adriana, após sua completa recuperação, assumiu um novo desafio, agora pela Mancha Verde. Na verde e branca, a porta-bandeira conquistou dois títulos, sendo em 2016 pelo Grupo de Acesso e em 2019 pelo Especial. Em sua carreira vitoriosa como primeira porta-bandeira, Adriana possui 6 títulos. 

Pingo e Paulinha (4 campeonatos)

Pingo e Paulinha no Carnaval de 2018 pela Saracura. A dupla possui 4 campeonatos. 
(Foto: Armando Bruck)

Novamente temos mais um casal da Escola do Povo em nossa lista. Pingo e Paulinha possuem uma das parcerias mais longínquas em atuação do Carnaval de São Paulo. A porta-bandeira é bisneta de um dos fundadores do Vai-Vai, Frederico Penteado, e começou a desfilar pela alvinegra em 1986 ainda pela ala das crianças. Pingo chegou em 2001, desempenhando a função de terceiro mestre-sala. Receberam a difícil missão de substituir Renatinho e Fabíola, um casal vitorioso e que colecionou notas máximas. Mesmo com a grande responsabilidade que possuíam, a dupla tirou de letra e iniciou a parceria que permanece até hoje. O estilo de dança dos dois deu muito certo, já que Paulinha possui giros fortes e Pingo um riscado rápido e cortejo elegante. Juntos, conquistaram quatro campeonatos pela escola do Bexiga: 2008, 2011 e 2015 pelo Grupo Especial e 2020 pelo Acesso, sendo 16 anos de parceria e 16 anos de muito amor e lealdade ao pavilhão que defendem.

“Bem mais que preto, verde e branco ou colorido eu vejo o mundo no estandarte de um cordão. Saudade se traduz em poesia, num lindo pavilhão a tremular, és a bandeira do samba, manto sagrado... a ti vou me curvar.”

Chegamos ao fim a mais uma temporada da série Giro Ancestral. Em todas segunda-feiras de novembro, mergulhamos no universo de mestre-sala e porta-bandeira e conhecemos mais um pouco sobre essa importante e essencial arte para o Carnaval. Um quesito que merece ser cada vez mais valorizado e reconhecido por todos. O casal possui a difícil missão de carregar o manto sagrado de uma escola de samba, de defender e proteger um “pedaço de pano” que representa uma comunidade, que representa centenas de torcedores espalhados por todo o canto do país. Eles, que emanam ancestralidade por onde passam, levam uma enorme responsabilidade em suas mãos. Que continuemos vendo as porta-bandeiras com seus giros horário e anti-horário mantendo seu pavilhão desfraldado a uma altura que possa ser admirado por todos, que continuemos vendo os mestre-salas cortejando e protegendo suas damas com muita elegância, que continuemos vendo essas duplas com um sorriso cativante no rosto e que possamos continuar vendo essa nobre arte ser perpetuada por gerações e gerações.
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Texto: Juliana Yamamoto e Beatriz Freire
Revisão: Luise Campos

A série “Giro Ancestral” está na sua segunda temporada, na qual toda segunda-feira do mês de novembro mergulhamos no universo dos nossos mestres-salas e porta-bandeiras, compreendendo a magia que envolve sua arte. Iniciamos conhecendo algumas porta-bandeiras e mestre-salas históricos do Carnaval carioca e paulistano, esmiuçamos sobre um instrumento de trabalho essencial para as damas e, no último texto, superamos todas as imprevisibilidades de um desfile para traçar o caminho para a nota 10 dos casais. Hoje, iremos conhecer um pouco mais os ateliês que cuidam dos mínimos detalhes para a feitura de fantasias dos casais, dignos das melhores vestimentas.

Para vestir um casal de mestre-sala e porta-bandeira, há de se cuidar mais do que apenas da aparência, que também tem grande importância. A prioridade, na verdade, é que eles estejam seguros e confortáveis para que possam evoluir e executar seus movimentos. É impensável haver uma boa apresentação se a capa do mestre-sala o atrapalha, ou ainda se a porta-bandeira não tem a liberdade de que precisa para fazer os movimentos de braços com a amplitude necessária. Por isso, uma sábia equipe está envolvida nos bastidores desses verdadeiros figurinos de luxo. Tudo importa, desde uma boa modelagem até a colocação de pedras e penas, já que é perfeitamente possível que os jurados descontem pontos do casal pela impressão visual da fantasia e, principalmente, pela queda de alguma de suas partes.

No Rio de Janeiro, o Ateliê Aquarela Carioca é grife mais do que badalada do universo dos casais. Há quase vinte anos no mercado, Leonardo Leonel e Pedro dos Santos, responsáveis pelo ateliê, iniciaram os trabalhos em uma oficina de artes da Herdeiros da Vila, escola mirim da Unidos de Vila Isabel, onde começaram a confeccionar peças aqui e acolá até alcançarem bom desempenho. A realização do trabalho envolve muitas conversas com os carnavalescos, mestre-salas e porta-bandeiras, tendo como objetivo final sempre a reprodução material mais fiel ao desenho que chega às mãos dos profissionais do ateliê. A relação entre casais e profissionais dessas oficinas traz a lealdade de anos de parceria, com a plena confiança da possibilidade mútua de excelentes trabalhos de ambos os lados. Tanto é assim que nem só para brilhar no dia do desfile oficial os casais são vestidos pelas indumentárias de Leozinho e Pedrão. Na divisão das temporadas, em eventos nas quadras e apresentações de grande importância, o voto de confiança é dado mais uma vez para que estejam trajados com vestidos e ternos sem a opulência das fantasias, mas igualmente bem alinhados e apropriados à situação. 

Os trabalhos começam até oito meses antes do grande dia e chegam a demandar noites de sono perdidas para que as fantasias fiquem prontas, garantindo tempo, beleza e conforto para os mestres-salas e porta-bandeiras que as vestirão. Uma fantasia considerada leve não pesará menos que 10 kg ou 20 kg, o que exige, em virtude de um peso que já compõe um elemento a ser sustentado, funcionalidade para a dança.

Léo e Pedrão, responsáveis pelo ateliê Aquarela Carioca, são referências na confecção das fantasias de mestre-sala e porta-bandeira do Grupo Especial e da Série A do Rio de Janeiro. (Foto: Fernando Dias/O Globo)

Não é só no Rio de Janeiro que os ateliês de fantasias vêm se profissionalizando e crescendo cada vez mais. Em terras paulistanas, a quantidade de oficinas envolvidas com os casais de mestre-sala e porta-bandeira só aumenta com o decorrer dos anos. Um dos mais conhecidos e consolidados ateliês paulistanos é do Bruno Oliveira, que além de confeccionar indumentárias dos casais, também tem um grandioso trabalho com destaques, musas e rainhas de bateria. Bruno sempre foi um grande admirador da arte de mestre-sala e porta-bandeira: chegou até fazer cursos e exercer essa função. Começou a trabalhar com fantasias de casais a partir do Carnaval de 2009, quando recebeu o convite do carnavalesco Tito Arantes, da Águia de Ouro, que estava no Grupo de Acesso. A partir daí, Bruno não parou mais, firmando-se como um dos maiores nomes no segmento e sendo referência quando o assunto é figurino.

 
O croqui da fantasia do casal oficial da Nenê de Vila Matilde para o Carnaval 2015.(Foto: Bruno Oliveira - Instagram)

Jeff e Janny, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira na concentração para o desfile da Nenê de Vila Matilde em 2015. (Foto: Bruno Oliveira - Facebook)

O início da confecção da fantasia de um casal varia de escola para escola e a tendência é começar faltando 4 meses para o Carnaval, ficando pronta em 1 mês ou até 3 meses. No caso do ateliê do Bruno Oliveira, há agremiações que pedem para que ele e sua equipe desenvolvam o figurino, passando apenas o tema. Outras já dão o figurino, mas são flexíveis para alterações e, por fim, em algumas a indumentária é trabalhada em cima do croqui do carnavalesco. Sempre quando começam a produção é feito um “laboratório da roupa”: uma pesquisa inicial de materiais e de possibilidades que aquele figurino poderá oferecer. Após o início da elaboração das fantasias, há as provas com os casais, que acontecem de 2 a 3 vezes para ajustes em costuras e estruturação e de 3 a 4 quando já está em fase de acabamento e montagem. Por fim, há a prova final, na qual a indumentária já está finalizada e os casais se preparam como no dia do desfile. Os dançarinos são maquiados e realizam uma apresentação para a diretoria da escola. A entrega do figurino é realizada até a quarta-feira da semana dos desfiles e no dia oficial, o ateliê possui um “espaço” próximo à concentração do Anhembi, onde ajudam na montagem da fantasia com o casal. 

A estrutura da roupa se dá através de um tecido rígido, que não tenha elastano. Muitas das vezes são escolhidos tecidos mais resistentes, porém não muito pesados. Além disso, também há a presença de fitas de gorgurão para dar estrutura ao tecido e a fita de aço que arma o saiote da porta-bandeira. Há outros materiais que complementam os figurinos, como as famosas “bóias de piscina” que facilitam na montagem dos faisões e de outras penas e o velcro. O ateliê se preocupa muito com o conforto da roupa para a dupla e que ela não atrapalhe ou dificulte os movimentos na Avenida, por conta disso, o debate entre os dois lados acontece constantemente e é necessário para que se entre em um acordo. A relação do Bruno com os casais é a melhor possível, uma vez que sua equipe compreende as peculiaridades que envolvem cada dupla e suas necessidades.

Detalhes da preparação e montagem da fantasia no dia do desfile oficial. (Foto: Bruno Oliveira - Facebook)

Hoje, o ateliê Bruno Oliveira conta com 17 a 25 funcionários, mas é um número que varia de ano para ano. Há uma equipe que trabalha com os casais de mestre-sala e porta-bandeira, outra que cuida dos destaques centrais e uma terceira que trabalha com musas e rainhas, tudo isso para que consigam se dedicar integralmente e realizar os trabalhos com tranquilidade e qualidade. Isso apenas evidencia a geração de empregos nesse segmento e a quantidade de profissionais talentosos que surgem. Além do Bruno Oliveira, há outros ateliês paulistanos que também estão crescendo exponencialmente e fazendo grandes trabalhos, como o Ateliê Ribas de Azevedo, Atelier Rodrigo Andrett - que foi responsável pela confecção de uma das fantasias mais comentadas do Carnaval paulistano em 2020, a do primeiro casal da Colorado do Brás -, o Studio Art Diego Motta, que também é o terceiro mestre-sala da Mocidade Alegre e, ainda, o Hermann Atelier. Além das fantasias para os desfiles oficiais, muitos destes ateliês também produzem roupas para ensaios e eventos especiais para os casais, sempre entregando excelentes figurinos. 

Legenda: Bruno e sua equipe na concentração para o desfile da X9 Paulistana em 2018 com Daniel e Lyssandra. (Foto: Bruno Oliveira - Facebook)

Com o sucesso dos ateliês, muitos casais estão fazendo a famosa “ponte aérea” e tendo figurinos produzidos por equipes de outras cidades, como o caso do primeiro casal do Vai-Vai, Pingo e Paulinha, que, no Carnaval 2020, foram vestidos pelo Aquarela Carioca, famoso ateliê já citado acima. Mesmo com a distância, isso não impediu a produção da fantasia e também as provas para o grande dia. O resultado foi muito positivo e ajudou a dupla a garantir a nota máxima. A tendência é que aumente nos próximos anos esse “intercâmbio” entre os profissionais do segmento. 

A responsabilidade de um ateliê que veste um casal de mestre-sala e porta-bandeira é proporcional aos inúmeros ensaios que a dupla faz, já que a indumentária também é parte do julgamento do quesito. Eles são os responsáveis por dar vida a figurinos luxuosos e encantadores e contribuir para um bom desempenho do casal na Avenida, sendo parte do caminho para a nota 10. Muitas vezes, são desconhecidos do grande público, mas são peças fundamentais para a arte. Num trabalho que levam meses, a equipe que compõe os ateliês acompanha os casais até o momento que iniciam suas apresentações, dando o suporte e apoio necessário para o sucesso no desfile. Semana que vem é o último texto da segunda temporada da série Giro Ancestral. Não percam!

 


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Texto: Leonardo Bruno

Como será o amanhã? Quando a minha alegria atravessar o mar e ancorar novamente em quadras e avenidas cidade adentro, algo terá mudado para sempre na relação dos sambistas com seus símbolos mais benquistos. Alguns de nossos elixires de felicidade estarão lá, intocados, castos e salvaguardados: o arrepio no corpo quando toca a bateria; a energia que move nossos pés rumo ao passo sincopado; a batida forte do coração ao avistar águias, coroas, estrelas, tigres, pavões e leões imponentes; e o cerrar de olhos, acompanhado de sorriso largo, que acompanha letras e melodias de nossa preferência. Sim, virá o dia do reencontro com tudo isso. E estaremos todos juntos, balde no chão, copo na mão, chapéu da Velha Guarda na cabeça, sem hora pra chegar em casa. Mas uma peça desse quebra-cabeças promete não se encaixar da mesma forma quando a sirene do fim da pandemia tocar. Ou vocês acham realmente que, num futuro próximo, nós voltaremos a beijar os pavilhões com a mesma desenvoltura que exibíamos antes?

É, meus amigos, essa fratura exposta dolorida se avizinha para o povo do samba no mundo (imaginemos, ele há de vir) pós-pandemia. A volta às quadras será inevitável – em breve poderemos retomar espaços como os ensaios técnicos, as ruas do bairro, o Baródromo, a Cidade do Samba. Mas será razoável voltar a colocar a boca num pedaço de pano, um a um, em fila? Esfregando a bandeira na testa em oração? Colando os lábios de forma demorada? Alguns apenas simulando o beijo, mas aproximando o rosto com a mão na frente, nariz exposto, amor pela agremiação benzido em forma de perdigotos? Não, esse episódio relicário, infelizmente, será coisa do passado. É com pesar que decreto o fim dessa cerimônia mística-esotérica-sobrenatural-cósmica-apoteótica: beijar bandeira, nunca mais!

Quem já foi a uma quadra de escola de samba sabe como é, e não estranhou nenhum dos cinco adjetivos usados na frase anterior – eu poderia até ter usado expressões Milton-cúnhicas, como bafônica e divinérrima, que não estaria exagerando. Quando a porta-bandeira coloca o pavilhão na cintura, parece que a respiração da quadra fica em suspenso. A plateia se prepara para o momento mágico, o auge da noite, o espocar de fogos no réveillon, a transformação de água em vinho, o apito final do juiz na decisão de campeonato. O pavilhão, erguido, se torna o centro das atenções em qualquer terreiro. Afinal, a bandeira é usada como símbolo da agremiação porque pode ser vista de qualquer lugar, de longe, está acima de todos os componentes, tem visibilidade garantida. Não é à toa que o brasão da escola está estampado ali. De onde você estiver, pode até não enxergar sua detentora, a porta-bandeira, ou seu defensor, o mestre-sala; mas o pavilhão está sempre à vista, soberano e altaneiro.


O pavilhão é o símbolo mais sagrado de uma agremiação. Ele representa ancestralidade e toda uma comunidade.
Cumprimentar e beijar a bandeira da sua escola do coração é um dos atos mais sublimes. (Foto: JoBelli - Reprodução)

E aí começa o show. Conforme as dançarinas rodopiam com seus estandartes, é o mundo que gira à nossa volta. Entramos em estado de entorpecimento involuntário, mesmo sem álcool circulando no sangue, simplesmente pelo fato de participarmos daquele transe coletivo. E elas seguem desenhando sua melhor obra, algumas mais delicadas, outras incisivas, umas com mais ginga, outras com carisma transbordante, o estilo não importa, a hipnose é efeito colateral inevitável quando se avista a dança do casal ancestral.

Em determinado momento, porta-bandeira e mestre-sala param lado a lado. Estendem o pavilhão – mais esticado do que o couro do tamborim. Olham para os componentes. É chegado o clímax da noite. Eles, dois únicos seres abençoados com o privilégio de portar aquele manto, vão conceder a alguns poucos escolhidos, pobres mortais, a honraria de poder beijar o pavilhão. Dentre as centenas ou milhares de componentes presentes ao ensaio, apenas meia dúzia terá essa primazia. Nesta hora, vendo aquelas duas figuras se aproximarem, não existe no mundo comenda mais nobre – nem ser escolhido “Sir” pela Rainha da Inglaterra, muito menos figurar entre os mais influentes na lista da revista “Time”. Qualquer um de nós que faça parte daquela roda, tendo a possibilidade da escolha, optaria por receber a distinção de repousar os lábios no pavilhão. E aí se concretiza o gesto mais sublime já inventado na história do carnaval. Cheio de signos, significados, significantes, ritual puro, liturgia máxima da seita do deus Momo.

O cantor e compositor Chico Buarque beija a bandeira verde e rosa. Foto: Reprodução/Notícias UOL 

Aquele leve toque, de duração infinitesimal, parece durar uma eternidade – quando beijam suas bandeiras, portelenses se transportam para o hepta dos anos 40, mangueirenses reencontram Cartola, independentes regem ao lado de Mestre André e salgueirenses dançam o minueto. É revoar de borboletas, é tocar de sinos, é soco no estômago. Naquela noite, entramos para o rol dos escolhidos. Eleitos pela sua agremiação, nomeados pelo seu pavilhão. Carregamos aquela medalha no peito, aquele carimbo no rosto, até a hora de sair da quadra. Vamos dormir aconchegados, abençoados, iluminados, cobertos pelo divino manto. Alegria maior não há.

Pois essa alegria, meus caros, está com os dias contados. Mesmo que a pandemia abrande, mesmo que o corona vá embora, quem há de voltar aos velhos hábitos em que salivas coletivas são despejadas sem preocupação no mesmo recipiente – ainda que um tão nobre quanto o estandarte? Já imaginávamos que, depois de tudo isso, nunca mais seríamos os mesmos. Mas perder o encontro com essa luz divinal que emana de um estandarte... para isso não estávamos preparados. Já cansei de perguntar quando vou voltar a uma quadra livremente; já estamos exaustos de querer saber quando será o próximo carnaval. Mas, verdadeiramente, a questão que mais ocupa meus pensamentos é: quando vou poder voltar a beijar meu pavilhão novamente?


Leonardo Bruno é jornalista, escritor e roteirista. É autor de três livros: "Zeca Pagodinho - Deixa o samba me levar" (Editora Sonora), "Cartas para Noel - Histórias da Vila Isabel" e "Explode, coração - Histórias do Salgueiro" (ambos da Verso Brasil Editora). Durante 18 anos foi repórter, editor e gerente de negócios do jornal "Extra". Integra também o júri do Estandarte de Ouro há alguns carnavais. 


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Texto por Beatriz Freire e Juliana Yamamoto
Revisão de Luise Campos


A série “Giro Ancestral” está na sua segunda temporada, na qual toda segunda-feira do mês de novembro mergulhamos no universo dos nossos mestres-salas e porta-bandeiras, compreendendo sobre a magia que envolve sua arte. Iniciamos conhecendo algumas porta-bandeiras e mestre-salas históricos do Carnaval carioca e paulistano e, no texto passado, esmiuçamos sobre um instrumento de trabalho essencial para as damas: o mastro, responsável por deixar o pavilhão a uma altura que possa ser visualizado por todos e desfraldado com garbo e elegância. Agora, iremos desvendar os caminhos que levam um casal a alcançar a tão sonhada nota máxima na apuração. 

Todos os primeiros casais de mestre-sala e porta-bandeira almejam a nota 10 para, assim, ajudar suas respectivas agremiações. O trabalho para atingir essa nota é longo e inicia-se logo após o término de um Carnaval. Muito além de realizar os movimentos obrigatórios e cumprir sua função de apresentar o pavilhão da escola que defende, a dupla necessita se preparar fisicamente e psicologicamente para o grande dia. Ao longo dos últimos anos, essa arte vem se profissionalizando cada vez mais, tornando-se mais competitiva, exigente e se firmando como um quesito crucial, contribuindo diretamente para a disputa do título ou pela briga contra o rebaixamento. 

Como já abordamos na primeira temporada da série, os casais precisam realizar movimentos “padrões” durante suas apresentações, que vão desde apresentar o pavilhão até executar giros no sentido horário e anti-horário. Para realizá-los com perfeição durante o desfile, é necessário preparo físico e muita resistência, já que, além da coreografia, os dançarinos utilizam fantasias pesadas e podem sofrer com contratempos como o vento e a chuva. Em razão disso, muitos casais possuem seus preparadores, que trabalham o  condicionamento físico para que consigam executar seu bailado com o mesmo vigor a contar do momento que pisam na faixa amarela do início do desfile até chegarem à dispersão. Tanto o mestre-sala como a porta-bandeira são atletas, pois as apresentações são de alto nível de intensidade, há muito peso sob o corpo devido à indumentária e ainda carregam uma grande responsabilidade, assim como os atletas profissionais de vários esportes. 

 
Daniel e Taciana em preparação para o Carnaval. Na foto, o princípio da especificidade, que se baseia nas características específicas de cada atividade. Para que um exercício seja realmente específico, ele deve ser o mais semelhante possível àquela ação que se pretende melhorar. (Foto: Arquivo Pessoal - Bruno Germano)


Um dos preparadores físicos mais conhecidos do Carnaval é Bruno Germano, que cuida de vários casais cariocas do Grupo Especial e da Série A. Em 2020, o profissional trabalhou com os primeiros casais de Acadêmicos do Salgueiro (Sidclei e Marcella), Grande Rio (Daniel e Taciana), Unidos de Padre Miguel (Vinicius e  Jéssica) e Viradouro (apenas a Rute). Para Bruno, essa preparação é crucial para um bom desempenho na Avenida e, consequentemente, alcançar um bom resultado. O personal trainer, ao analisar os pontos que precisam ser melhorados, cria um repertório de treinos e exercícios específicos para cada dupla. A preparação inicia-se em outubro e é trabalhada a resistência, a agilidade e a coordenação motora, além do treino dos movimentos que fazem parte da coreografia oficial (princípio da especificidade). Todos os casais que o profissional ajudou diretamente no último Carnaval alcançaram a nota máxima, evidenciando assim seu papel e importância para os dançarinos. Em uma entrevista realizada para o Carnavalize, Bruno Germano enfatiza: “Eu ainda sonho em ver um casal envolvido em todos os aspectos que envolvem um atleta. Fisioterapia, nutricionistas pra cuidar dessa parte de alimentação e psicologia do esporte, porque ajuda trabalhar com a pressão e a responsabilidade. Sonho com uma equipe multidisciplinar envolvida com um mestre-sala e uma porta-bandeira, porque eles têm a responsabilidade como um atleta, têm peso de atleta e intensidade física de atleta. Então eles têm que se cercar de tudo que cerca um atleta, em todas as áreas de atuação [...]”

Jeff Gomes, primeiro mestre-sala da Mocidade Unida da Mooca em treino e preparação física para o Carnaval 2020. (Foto: Arquivo Pessoal - Jeff Gomes)

Em São Paulo, também está cada vez mais comum o trabalho de preparação física envolvendo casais. Dany Romani, que é personal trainer e musa da Mocidade Alegre, além de se preparar para sua apresentação para o carnaval de 2020, ajudou dois grandes nomes do quesito: Jefferson Gomes, primeiro mestre-sala da Mocidade Unida da Mooca, e Adriana Gomes, primeira porta-bandeira da Mancha Verde. Em um trabalho intenso e de poucos meses, Dany montou um repertório voltado para potencializar o desempenho e resistência dos artistas no desfile e prevenir lesões. Com o suporte da profissional, os dois conseguiram a nota máxima pelas suas escolas paulistanas. 

Essa preparação foi crucial para o sucesso de Jeff Gomes, já que o mesmo fez uma “dobradinha” no Carnaval ao desfilar na sexta-feira na Série A pela Vigário Geral no Rio e domingo pela Mocidade Unida da Mooca em São Paulo. O mestre-sala explicou a importância da preparação física de um casal para o desfile: “O trabalho de preparação física em alto nível para desfile leva o corpo de dança para uma outra realidade enquanto executor de movimentos em alta performance. Por que usar essas palavras para falar sobre um estilo de dança tão instintivo? Foi-se o tempo em que nós, casais, tínhamos que nos preocupar somente com a travessia da Avenida executando um bailado que agradece os olhares dos jurados. Hoje temos diversas regras de execução de movimento que devemos seguir como a cartilha (literalmente) manda e com o ritmo de bateria acelerado se comparado com décadas passadas. A execução dos movimentos da maneira como é pedida tem que ocorrer em sua perfeição, exigindo muito mais do físico para sustentar os movimentos do que qualquer outra coisa, já que ensaios de coreografias e apresentações são realizados quase que exaustivamente. Esse tipo de preparação específica, que visa a fortalecer o corpo na sua totalidade, mas também busca ter um cuidado a mais com aquilo que você vai executar de movimento na Avenida, faz toda a diferença. Eu tive meu contato com esse tipo de preparação no Rio de Janeiro com o preparador físico Bruno Germano, que junto com a Marcella Alves desenvolveu essa metodologia, que atinge diretamente as áreas que são mais exigidas do seu corpo durante o desfile. Após esse contato, vim para São Paulo, onde junto com a Dany Romani, também profissional da área, montamos um preparo voltado para as necessidades do meu corpo e também das características do desfile de São Paulo, que é diferente do Rio de Janeiro: aqui precisamos muito mais de resistência e lá precisamos de explosão de força. Tive que me preparar para os dois e, sem a preparação, eu com certeza não teria feito dois desfiles com a qualidade física que consegui. Para que as pessoas nos vejam como profissionais, temos que agregar novas formas de trabalho para extrair o máximo do nosso corpo e isso ficar visível na nossa dança.”

Para além do condicionamento físico, outro fator muito importante para a busca pela nota 10 é a criação da coreografia. O entendimento da coreografia por parte dos preparadores físicos e a integração deles com os coreógrafos é fundamental para o sucesso completo em seus trabalhos. 

Por falar neles, muito tem a agregar o trabalho dos famosos coreógrafos que hoje marcam presença quase unânime no quesito. Também chamados de diretores coreográficos, eles e elas são ex-mestre-salas e porta-bandeiras ou profissionais do mundo da dança, todos dispostos a somar ao trabalho desenvolvido pelo casal nos ensaios que conduzem ao grande dia. Antes de apresentá-los, é importante ressaltar que a missão do coreógrafo jamais será ensinar o riscado ao mestre-sala ou o giro à porta-bandeira do jeito que lhe convém, já que sempre há a preocupação em respeitar as particularidades e a identidade corporal e de movimentos de cada um dos integrantes de um casal. Assim, seu papel será, tomando alguns exemplos, auxiliá-los no uso do espaço físico, desenhos coreográficos (círculos, diagonais etc.), na prática de exercícios que possam contribuir com um melhor desempenho dos passos que mestre-salas e porta-bandeiras executam tradicionalmente e, ainda, na postura dos defensores dos pavilhões.

O trabalho de Viviane Martins é mais do que conhecido no “mercado dos coreógrafos”. Formada em Educação Física, ela conhece bem as nuances do trabalho de um casal, principalmente pela rápida - mas importantíssima - trajetória que teve como defensora de pavilhões, além de ter sido jurada em São Paulo. Mais do que saber os passos básicos e ajudar a harmonizar a dança do casal, ela conta com um aliado que conhece como a palma da mão: o regulamento. É treinando movimentos e lendo as justificativas que ela atua auxiliando os casais em cima das dificuldades e qualidades de cada um e do que a apresentação precisa ter para ser caracterizada como a dança do mestre-sala e da porta-bandeira, somando-se aos gostos e critérios dos jurados. Não por acaso, já acompanhou dezenas de casais Rio de Janeiro afora, impulsionando e trabalhando o que há de melhor nesses bailarinos do samba.

Beth Bejani também é outro consagrado nome no meio. Bailarina, ela se tornou expert da preparação de casais de mestre-sala e porta-bandeira. A assessoria de Beth, antes de adentrar a coreografia, passa por exercícios, movimentos de força, equilíbrio e postura. Tudo que possa dar uma ajudinha fundamental para que os dois cheguem à Avenida do jeito que devem: aparentando executar seus movimentos com o menor esforço possível, no melhor estilo “parece mas não é” da facilidade. O trabalho com Marcella Alves e Sidclei durante os anos em que trabalharam juntos no Salgueiro disse muito sobre o talento da porta-bandeira, mas também sobre o trabalho fundamental da coreógrafa. Tanto é assim que bastou um intenso ano de trabalho com Taciana Couto e Daniel Werneck, mais tarde, na Grande Rio, para que o casal saísse de uma apresentação insegura para um desfile que arrebatou arquibancadas e garantiu aos dois a nota máxima. O segredo especial parece ser sempre - além das aulas de ballet e toda atividade que possa ser proveitosa - a relação de confiança estabelecida entre ela e o casal, caminho perfeito, dentro de todas as imprevisibilidades, para o sucesso.

 
Daniel, Beth e Taciana estabelecem, juntos, uma relação de confiança e troca para que, a partir de muito trabalho, a nota máxima chegue. Foto: Reprodução/Instagram

A verdade é que muitas são as possibilidades e requisitos para conduzir um casal a uma nota 10, mas não há receita pronta. Fosse assim, já teríamos atingido um patamar em que pouca coisa emocionaria e não haveria possibilidade de crescimentos desses homens e mulheres que ostentam o símbolo maior de uma agremiação. Ainda assim, se não fosse a preparação física e coreográfica, além do acompanhamento emocional do casal, o caminho certamente se tornaria mais árduo. Comparando-os a atletas de alta performance, é essencial para que conquistem a nota que lhes é cobrada que tenham um suporte nutricional, de ensaios e psicológico, ou seja, perfeitas condições para que possam exercer o ofício. Parece ter sido uma dose bem servida desses elementos que garantiu a Marcella e Sidclei, Rute e Julinho e Taciana e Daniel as notas máximas do Carnaval passado. Os 50 pontos não se somam por um simples rolar de dados que são lançados à própria sorte no momento da apresentação, mas pelo trabalho de um ano todo. 



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por Bernardo Pilotto

Há 61 anos atrás, os sambistas do bairro de Cavalcanti, no subúrbio do Rio de Janeiro, aproveitaram o feriado de 15 de novembro para fundar a G.R.E.S. Em Cima da Hora, originando uma escola de samba que é muito importante para o carnaval carioca e para o carnaval brasileiro. 
 
No começo de sua trajetória, a Em Cima da Hora fez desfiles nos grupos inferiores e foi ganhando espaço, até que no início dos anos 1970 conseguiu chegar no grupo de elite do carnaval (na época, o Grupo 1). Foi nessa década que a escola fez grandes contribuições para os desfiles de escola de samba e para o carnaval como um todo. 

Em 1976, por exemplo, a Em Cima da Hora trouxe para a avenida o enredo "Os Sertões", com um dos maiores sambas-enredo de todos os tempos. Composto por Edeor de Paula, a obra ganhou o Estandarte de Ouro daquele ano. Mesmo assim, muito por conta de um temporal durante o desfile, a escola ficou em 13º lugar e foi rebaixada.

Além de "Os Sertões", outros sambas-enredo da escola também tiveram destaque nessa década: "O Saber Poético da Literatura de Cordel" (de 1973) e “Festa dos Deuses Afro-brasileiros” (de 1974), ambos compostos por Baianinho. 

Nos anos 1980, a Em cima da Hora novamente trouxe um grande samba-enredo, com "33 – Destino Dom Pedro II" (de 1984), também ganhador de Estandarte de Ouro. Para 2021, a escola vai reeditar o samba, aproveitando sua volta para a Sapucaí no Grupo de Acesso.


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por Bernardo Pilotto


Dia 15 de novembro é aniversário da Unidos de Bangu, escola fundada em 1937. É a agremiação mais antiga da Zona Oeste da cidade, na região de diversas instituições carnavalescas importantes. Sua fundação, aliás, tem tudo a ver com a organização do bairro e da população que por lá vivia no começo do século XX. 

Em 1889, surgiu na região a Fábrica de Tecidos Bangu, que acabou trazendo grandes transformações para esse pedaço da cidade, que passou a se urbanizar rapidamente. Em 1903, os operários da fábrica fundaram o Grupo Carnavalesco Flor de Lira, uma das primeiras organizações de folia da região e uma das precursoras da Unidos de Bangu. 

De 1937 a 1956, a Unidos desfilou como bloco na sua própria região. A partir de 1957, já se entendendo como escola de samba, a agremiação passou a desfilar no centro da cidade e no seu primeiro ano já subiu de grupo, participando, portanto, da elite do carnaval em 1958. A presença entre as maiores escolas de samba ainda se repetiu em 1959, 1960 e 1963. 

Depois desse período inicial com grandes êxitos, a Bangu passou a figurar nos diferentes grupos de acesso. Em 1998, após sucessivos problemas administrativos, a escola “enrolou bandeira” e só foi reerguida em 2013, quando voltou a desfilar, agora pelo Grupo C (na época, a quarta divisão). 

De lá pra cá, a escola vem tentando se organizar e tem obtido um relativo sucesso: em 2017 foi campeã do Grupo B e está desfilando desde 2018 na Sapucaí, na Série A. Para o próximo carnaval, a Bangu vai apresentar o enredo "Deu Castor na cabeça", sobre Castor de Andrade, um dos personagens mais icônicos do seu bairro.


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por João Vitor Silveira 


Nascido no subúrbio nos melhores dias, João Nogueira marcou para sempre seu nome na história da cultura popular brasileira. Ávido representante do Méier, aprendeu desde cedo a conectar seus dedos com os braços do violão, tendo como referência seu próprio pai, o advogado e também músico João Batista Nogueira, e também a sua irmã mais velha, Gisa Nogueira, com quem compartilhou primeiro os seus talentos com a inspirada caneta, tendo sido sua primeira parceira de composições. Suas primeiras composições encontraram destino no bloco Labareda do Méier, onde começou sua carreira compondo sambas.

João Nogueira no conforto de sua poltrona - Foto: Cláudio Jorge de Barros/ Arquivo Pessoal

“Esse mar é meu”, clamou João ao adentrar de fato a cena da música brasileira com o sucesso “Das 200 pra Lá”. Ainda que ainda surfando as ondas de uma suposta inexperiência, João navegou como marinheiro experiente nas águas do grande Brasil, encontrando caminhos das por intermédio da voz de Eliana Pittman, alcançando o topo das paradas da época. Ainda que tenha precisado afastar alguns rumores de que seria um músico subserviente à ditadura, pelo viés nacionalista de sua canção, as portas foram se abrindo para um músico genial. 

“Trabalho é besteira, o negócio é sambar”, diria o bom João, enquanto continuava sua trajetória rumo ao reconhecimento que lhe era devido. Já havia gravado dois LPs que haviam tido boa repercussão no cenário da música, antes de lançar “Vem que tem”, em 1975, que gerou frutos inestimáveis para sua obra. Naquele momento, João se consolidava como um exímio compositor, sendo capaz de trabalhar com diversos parceiros e mesmo assim proporcionar belíssimas obras. Foi com Eugênio Monteiro que compôs Nó na Madeira, um dos grande sucessos da carreira e uma das principais obras do disco de 75. 

João Nogueira e seu cavaquinho - Foto: João Nogueira (Divulgação) 

Quebra no balacochê do cavaco! Era esse o mandamento do mineiro para Mineira cumprir. Foi também no LP de 75 que veio de uma só levada dois legados importantíssimos da carreira de João: A homenagem feita à Clara Nunes seria um dos maiores sucessos da carreira de João, se perpetuando nas rodas de samba e servindo até os dias de hoje como uma homenagem não somente para Clara, mas para o próprio cantor. Seria também a partir dessa homenagem a consolidação da parceria, que já fora frutífera no disco de 74, com P.C. Pinheiro.

É, vida voa. O tempo vai, e como vai. A cada ano João colecionava novos sucessos, e também versava cada vez mais profundo. Em 1977, o poeta do Méier abriu ainda mais seu coração, e versou sobre sua própria alma. Sua relação para com o pai, em quem se espelhava,  deixou transparecer um saudosismo da época em que tinha seu velho ao lado, e refletia seus passos e caminhos nos que seu pai havia trilhado. Queria poder fazer canções como as que fizera seu pai, e teve seu momento de não estar em paz com Deus por lhe tirá-lo. Mas João sabia que se olhar no espelho era abrir um portal em sua alma, para sentir o reflexo de seu pai, e ele sabia que podia continuar fazendo, ainda que narrasse seu maior medo.

Meu medo maior é o espelho se quebrar. E talvez fosse justamente a partir desse medo que João enxergava na cultura do samba a maneira de manter o seu espelho intacto. Mergulhando de vez na Vida Boêmia, lançou em 1978 disco com esse mesmo título. João firmou de vez os pés na vida noturna, e cantou os Bares da Cidade, narrou um instigante Baile no Elite e também falou sobre o que era um Amor de Fato. Entretanto, talvez o maior sucesso daquele disco tenha sido Forças da Natureza, com seu prolífico e histórico parceiro, Paulo César Pinheiro. 

Paulo César Pinheiro e João Nogueira - Foto: Arquivo Pessoal

“E é por isso que eu vivo no Clube do Samba”, versaria anos após a fundação do clube original a Acadêmicos do Cubango, ao homenagear João em 2017. Fundamentando ainda mais o seu papel e o seu legado para o mundo do samba, o poeta do Méier fundou em 1979 o Clube do Samba. O clube, que teria diversas sedes ao longo dos anos, tendo inclusive funcionado inicialmente na casa do próprio João, seria um reduto para os sambistas, promovendo noites memoráveis para o gênero, contando com a participação de compositores das escolas de samba, dos sambas de roda, cantores, músicos e intérpretes. Era uma verdadeira celebração que ajudaria a fincar ainda mais fundo o nome de João, e do samba, na história do país. E, como o criador que ama sua criação, lançou ainda disco homônimo com direito a mais sucessos com P.C. Pinheiro como Súplica e Canto do Trabalhador. 

Não, ninguém faz samba só por que prefere. Como poderia ser apenas preferência, não foi à toa que João fez seus versos, que se tornaram um elo de identificação com todos os outros artistas do gênero. Havia coisas mais profundas do que apenas uma possível preferência por aquele trabalho, era uma magia, uma força interior que levava os músicos naquele caminho. Até porque não era o próprio João um espelho de seu próprio pai? As reflexões e os anseios que moravam no âmago de João e P.C. Pinheiro sobre a função renderam Poder da Criação, do disco Boca do Povo,  em 1980. E João tinha no que afirmava, já que ele tinha um estilo próprio cativante.

Era diferente, com jeito de Wilson, Geraldo e Noel. João se estabeleceu como um artista único; suas composições tinham um estilo de fácil identificação com a sua personalidade, assim como seu cantar tinha uma cadência inigualável. Suas influências eram claras, pois o próprio Nogueira não fazia questão de escondê-las. Gravara ao longo dos anos diversas músicas de Noel Rosa, Geraldo Pereira e Wilson Batista. Para além das gravações que fizera, João lançou também disco, em 1981, de nome “Wilson, Geraldo, Noel”, para render uma definitiva homenagem às suas maiores inspirações. 

 
Clara Nunes e João Nogueira dividindo o palco - Foto: Arquivo Rede Globo

A vida é mesmo uma missão, bem sabia João. Sua carreira não encontrou ponto baixo nos anos que se seguiram, continuando a lançar discos e músicas de sucesso, além de participar em gravações de outros artistas. Mas, para além disso, João pareceu compreender também que a sua missão havia sido cumprida, pois mantivera o espelho do pai intacto com seu trabalho. E para além de mantê-lo intacto, virou ele próprio um espelho. Quando lançou Além do Espelho, seus versos indicavam claramente que ele entendia a sua missão, e enxergava em Diogo, seu filho, o espelho do espelho que ele era. 


“Que falta faz tua alegria,” poderia dizer para Clara ou para João. No que foi talvez a epítome da parceria entre P.C. Pinheiro e João Nogueira, o disco de 1994 intitulado “Parceria” trouxe consigo uma belíssima coletânea dos grandes sucessos feitos pela dupla. E era difícil não se atentar para as maravilhosas homenagens que ambos os poetas haviam construído ao longo dos anos à querida Sabiá, que infelizmente havia nos deixado. Talvez fosse luz demais para um mundo cheio de trevas, e era possível apenas lembrar do seu canto. Poucos anos depois da gravação do disco, seria a vez de João Nogueira encontrar o descanso eterno. 

Diogo Nogueira caracterizado como o pai João, em homenagem realizada no programa Domingão. Ao seu lado, a mãe Ângela Nogueira, que esteve na plateia para assistir - Foto: Reprodução: Instagram)


A vida é sempre uma missão. A morte, uma ilusão. Se pudesse de alguma forma dizer palavras de conforto para o poeta do Méier no momento de sua despedida, seriam essas que começaram esse parágrafo. Que a sua partida poderia ser em paz, pois seu maior medo jamais iria se concretizar. Testemunhamos desde sua partida o “Espelho do Espelho que não quebrou”. Por isso é que as palavras escritas e cantadas por João são tão verdadeiras e realistas. A morte é uma ilusão. Ele está vivo desde que partiu.

Pois quando o espelho é bom, ninguém jamais morreu. 


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por Bernardo Pilotto

Nesse dia 12 novembro de 2020, a Unidos de Padre Miguel comemora mais um aniversário. Fundada em 1957 a partir do bloco de carnaval do mesmo nome, a escola da Zona Oeste, nos últimos anos, ficou no “quase” para chegar ao Grupo Especial por diversas vezes. 

Nos anos 1950, dois blocos dividiam as atenções do carnaval na Zona Oeste: o “Mocidade do Independente” e o “Unidos de Padre Miguel”. O último, por suas cores, era também conhecido como “Boi Vermelho”. Em 1955, o “Mocidade” se transformou em escola de samba, movimento seguido pelo “Unidos” apenas dois anos depois, com poucos dias de diferença da fundação das duas escolas. 

O primeiro desfile da UPM foi no carnaval de 1959, quando já se consagrou campeã do Grupo 2. Apresentando-se entre as principais escolas em 1960 e 1961, a escola não conseguiu se firmar e acabou sendo rebaixada, voltando ao grupo de elite do carnaval apenas em mais 3 ocasiões: 1964, 1971 e 1972. 

Com o crescimento da Mocidade Independente nos anos 1970, a UPM ficou em segundo plano nas atenções dos foliões do bairro, entrando num período em que na maioria das vezes não emplacou grandes desfiles. Por conta disso, a agremiação chegou a desfilar na terceira divisão no final dos anos 1980. Em 1990, teve seu pior momento, quando não se apresentou. 

Por conta da sua ausência, a escola teve que retornar ao “Grupo de Avaliação”, a quinta divisão dos desfiles no Rio de Janeiro. Tentando retomar seus bons desfiles dos primeiros anos de existência, a Unidos foi se reestruturando e pouco a pouco subindo de divisão, até que em 2010 chegou ao Grupo A. 

O rebaixamento em 2010 não teve o mesmo efeito que os reveses de outros momentos tiveram e a escola voltou à Séria A já em 2013, com a criação da Lierj e a fundição de dois grupos. A partir de 2014, começou a figurar entre as grandes do grupo. 

Com ótimos enredos, boa estrutura financeira e sambas que caíram no gosto popular, a UPM foi vice-campeã do principal grupo de Acesso em 4 ocasiões. E mesmo quando não ficou com o vice a escola quase “chegou lá”: em 2017, por exemplo, sua porta-bandeira Jéssica torceu o joelho durante o desfile. A apresentação, até então arrebatadora, acabou perda notas no segmento do casal e em evolução, que a deixou em 4º lugar, impossibilitando o campeonato. 

Para o próximo carnaval, a UPM vai trazer o enredo "Iroko - É tempo de Xirê" e pretende deixar a sina de “bater na trave” definitivamente de lado. Edson Pereira retorna à agremiação ao lado de sua equipe criativa que assinará o desfile junto com o carnavalesco.  


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por Bernardo Pilotto

Em 10 de novembro de 1969, foi fundada a Acadêmicos do Sossego, escola do Largo da Batalha, em Niterói, que completa hoje seu 51º ano de existência. Muita gente passou a conhecer ela nos últimos a partir de sua chegada à Sapucaí em 2017. Mas, muito antes disso, a escola já se destacava no carnaval niteroiense. 

Como tantas outras agremiações, a Sossego nasceu como um bloco e fazia seus desfiles nos concursos da sua cidade de origem. Foi assim até o início dos anos 1980 quando, já se reconhecendo como escola de samba, ela passou a frequentar grupo de elite do carnaval de Niterói. 

Em 1985, a escola começou a se destacar ao ficar na frente das duas grandes escolas do carnaval niteroiense (Acadêmicos do Cubando e Unidos do Viradouro) e conquistar o 2º lugar, após uma polêmica apuração. Nos anos seguintes, aproveitando-se do espaço aberto a partir da ida das duas maiores agremiações para o carnaval carioca, a Sossego se sagrou tricampeã. Em 1990, a escola sagrou-se novamente campeã. 

Após uma sequência de vice-campeonatos, a escola decidiu se aventurar do outro lado da baía, estreando no carnaval carioca em 1996. Em poucos anos, a escola chegou ao Grupo B, que nessa época se apresentava na Sapucaí. Foi assim, portanto, que a escola teve, em 2002 e 2003, sua primeira passagem pelo principal palco do carnaval. 

Depois de ser rebaixada e também após mudanças na organização dos grupos de acesso na cidade, a Sossego voltou a ficar “na beirada” da Sapucaí em 2013, quando chegou novamente ao Grupo B. Em 2016, com um enredo dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad (atualmente na Grande Rio) sobre o poeta Manoel de Barros e que contou com um destacado samba-enredo, sem rimas (tal qual as poesias do homenageado), a escola foi a grande campeã do Grupo B e conquistou o direito a voltar para a Sapucaí. 

De lá pra cá, a escola vem se firmando no Grupo de Acesso, trazendo enredos culturais e algumas inovações em seus sambas-enredo. Depois do samba-enredo sem rima, a escola apostou num samba com diálogos de teatro para homenagear Zezé Motta em 2017 e em um samba sem verbos em 2018 para o enredo “Ritualis). Para o próximo carnaval, a escola aposta no enredo “Visões Xamânicas”, com uma promissora participação na Série A. 



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