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Justificativa do enredo 


Qual o Brasil que vivemos e queremos hoje?
Nosso país está em construção e disputa desde de seu surgimento. Se hoje estamos mergulhados numa crise de identidade, que permeia nossos símbolos e o que nos forma enquanto povo, essas dúvidas motivaram a obra e o pensamento de grandes intelectuais e estão presentes em cada cidadão brasileiro.
Afinal, isto aqui o que é? O que nos faz Brasil?
Um dos principais nomes da cultura brasileira, Mário de Andrade foi um dos pensadores a se debruçar sobre essas perguntas. Um dos autores mais celebrados e pesquisados, foi também um dos responsáveis pelo nosso modernismo e profundo curioso da cultura brasileira. 
Há exatos cem anos, em 1924, ele escreveu em certa carta: “É no Brasil que me acontece viver e agora só no Brasil eu penso e por ele tudo sacrifiquei”.
Em um dos seus livros mais famosos, “Paulicéia Desvairada”, o poeta já começava a pensar tais questões. Mas antes de cruzar o nosso território, olhou para sua própria cidade. Descreveu em seus poemas as transformações e contradições de São Paulo nos anos de 1920. 
Em 2024, a cidade celebra 470 anos da sua fundação, o que parece um momento oportuno para repensar a sua formação e um dos seus grandes pensadores. A metrópole é, afinal, síntese nossa. 
Nas palavras e pensamentos do escritor estão a urgência de pesquisar o Brasil, entender e construir essa nação, saber sobre suas nuances e o que lhe define, para assim ser possível articular o passado que fomos, o presente que somos e o futuro que ainda podemos ser. 
Essa busca incessante de Mário atravessou a sua obra em poemas, contos, romances, músicas, estudos, palestras e fotografias. 
Se permanecesse apenas em seu escritório estudando e pensando, jamais conseguiria responder tais dúvidas. Por isso, precisou sentir e desbravar pessoalmente todos os quatro cantos que constituíam esse país. Dar nome, rosto e sentimento a quem era esse tal de “povo brasileiro”.
Quando uma escola de samba pisa na Avenida, ela também reconstrói o seu país e está em busca de quem somos. Afinal, uma agremiação é feita dessas pessoas, de múltiplas origens e sotaques. Cada desfile é feito com encontros, da força coletiva que nos faz um só e do resgate das nossas múltiplas ancestralidades.
Construir mais uma vez um novo Brasil, rever a identidade brasileira e, ainda assim, festejar quem somos é o desejo e a missão da Mocidade Alegre para 2024. Uma escola que tem o povo e o compromisso de celebrar em seu próprio nome.


Carta de Mário de Andrade ao povo brasileiro (Sinopse)


I

Fui paulistano por demais.
A terra que eu nasci foi a que me formou de maneira mais forte.
Não à toa, nunca deixei São Paulo. Uma cidade que enamorei, vi se transformar completamente, numa relação de profundo zelo e asco simultaneamente.
Ainda que rusgas tenham surgido, sempre foi uma comoção na minha vida, uma cidade Arlequinal. Afinal, ela é feita de múltiplos recortes, sobreposições, camadas e sobretudo, gente.
Quanta gente há nessa Paulicéia! Burgueses, operários, imigrantes, vadios. É uma cidade das multidões, que tomava as fábricas e suas chaminés, que enchiam os bondes e automóveis. 
Quanta gente tomando as ruas! O cinza do concreto duro, a garoa que caia insistente.
Essa cidade sempre teve esse ritmo acelerado, insano e desvairado. 
Minha Paulicéia Desvairada, assim a batizei.
Ainda que fosse fascinante em diversos aspectos, São Paulo ainda era um pedaço muito pequeno de Brasil. Afinal, o quanto de país havia para além daqui. Tanto a conhecer, tantos sabores a degustar, lugares a visitar, ritmos a ouvir, pessoas a conhecer. 
Dar uma alma ao povo brasileiro, que eu não conhecia do meu gabinete de intelectual. 
Obviamente, não foi uma missão só minha. Outros intelectuais, artistas, escritores, músicos também estavam imbuídos desse sentimento durante o modernismo.

II

Foi assim que decidimos, em 1924, desbravar essa imensidão com os nossos próprios olhos. Eu, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e outros amigos éramos um grupo de paulistas, curiosos de conhecer outros brasis. Após brincarmos o Carnaval no Rio de Janeiro, seguimos de trem para Minas Gerais. Chegamos em plena Semana Santa. Procissões por todos os lados, aquela gente simples com seus terços e orações se espalhando pelo chão de pedras.
As casas eram brancas e simples, se ouvia uma anedota a cada esquina.
A cada velha e preciosa igrejinha um assombro.
Naves douradas, fantasmas nos altares, peças escultóricas de tamanhos deslumbrantes.
Palácios, oratórios, casebres e mansões. Mariana, Ouro preto, São João Del Rei e Tiradentes.
Por mais que existam coisas monumentais, tudo é singelo em Minas.
Tarsila soube traduzir como ninguém as curvas das montanhas e as retas da arquitetura.
São lugares dum sublime pequenino, dum equilíbrio, duma pureza tão bem arranjadinha e sossegada, que são feitas pra querer bem ou pra acarinhar.
Dentre as riquezas dessa terra, estão ainda as obras de Aleijadinho, o arquiteto escultor.
Um gênio maior do nosso país com seus traços sinuosos e formas gloriosas.
Nas Gerais, reside o nosso passado esplendoroso e primordial, na ingenuidade de sua gente e nos traços de seus mestres barrocos.


III

Oswald de Andrade definiu essa viagem de 1924 como a de “descoberta do Brasil”.
Tudo havia sido tão proveitoso que planejamos repetir a experiência anos depois, mas agora indo mais ao norte. Por um infortúnio, Tarsila e Oswald não nos acompanharam, mas resolvi descer por todo o rio Amazonas ao lado de outros companheiros.
Foi aí que me tornei definitivamente um turista aprendiz.
Durante mais de três meses, fui sendo levado pela correnteza do rio-mar até dizer chega.
Tomei navios, embarquei em canoas, percorri trilhos de trem, subi em carroças.
A foz do Amazonas é uma dessas grandezas tão grandiosas que ultrapassam as percepções fisiológicas do homem. Tudo é tão vasto e encantador que nos coloca frente a nossa mortalidade.
Uma natureza pulsante, selvagem e voluptuosa. As belas vitórias-régias, o verde fortíssimo das folhagens, peixes saltando e o banzeiro dos rios.
A cada nova parada, refazia minha alegria, tomava nota, fotografava, experimentava novos sabores e recolhia histórias. Quantas histórias! Lendas e sabedorias daquele povo.
Pescadores, vendedores, artesãos, caciques e pajés, gente de todos os tipos.
Experimentei o açaí do mercado Ver-O-Peso, me deliciei com castanhas e peixes.
Uma enorme comoção senti em Marajó, verdadeiro paraíso com seus búfalos.
Mas de toda a gente que conheci, foi dos indígenas brasileiros que recolhi as melhores narrativas. Tanto que inventei minhas próprias tribos, com linguagens próprias e seus códigos.
Foi uma bonitíssima duma viagem. Por esse mundo das águas, vi as coisas bonitas que já enxerguei.

IV

Obviamente, meu desejo de devorar o Brasil não parou por aí. Depois de tantos bons sabores, precisava saborear mais.
A bordo do Vapor Manaus explorei do litoral cearense ao sertão pernambucano.
Em Recife, me hospedei na fazenda do grande pintor e amigo Cícero Dias.
Depois do nosso passado e da nossa gente, descobri a capacidade do nosso povo de festejar.
Recolhi cocos, cantigas, repentes e temas de cheganças. Fui a ensaios de Maracatus.
Anotei, registrei, mas também me esbaldei. Nunca me esqueço de um Carnaval que passei em Recife. Cai no frevo por demais. Tomei um porre daqueles.
Além da festa, também rezei terços. Fechei meu corpo num catimbó.
Quantos tambores formam nosso país? Seja nas umbigadas, pungas, frevos, macumbas e sambas.
Depois de cruzar o país, eu não queria mais parar de colecionar histórias, foi então que me embrenhei no interior de São Paulo. Lá encontrei as raízes do samba paulistano, no toque do bumbo na festa de Bom Jesus de Pirapora, que definiu as matrizes rítmicas deste gênero.
Nos Carnavais e nas batidas desses tambores, reencontrei uma mocidade alegre. Aquela mesma do Norte e do Nordeste, que são as múltiplas caras do nosso Brasil.
Não sei se até hoje encontrei o país que tanto procurei. Mas sei que nos batuques e nas festas, muitos países são formados, verdadeiras nações.
Em horas sentado numa rede, descrevi e imaginei com saudade de tudo aquilo que me tinha transformado. Pois agora, carregava comigo na bagagem novas crenças, afetos, macumbas, feitiçarias, crendices e tantas outras ciências.
A minha “Paulicéia” parecia pequena e provinciana, em um desvario meu seria mesmo uma verdadeira “Brasiléia”. Um mosaico arlequinal de tanta gente, tantas vozes, tantos saberes, que se somam e misturam.
Que nós, brasileiros, possamos sempre lutar e construir um novo país. Temos que dar uma alma a ele, isso é um sacrifício grandioso e sublime.


Criação e desenvolvimento do enredo: Jorge Silveira e Leonardo Antan
Texto: Leonardo Antan
Alguns trechos são adaptações dos escritos de Mário de Andrade em Turista Aprendiz. 


Referências bibliográficas

ANDRADE, Mário de. Danças dramáticas do Brasil I. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1982
ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz / edição por Telê Ancona Lopez, Tatiana Longo Figueiredo. Brasília, DF: Iphan, 2015.
ANDRADE, Mário de. O samba rural paulista. In: Aspectos da Música Brasileira. São Paulo: Martins, 1965.
ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. Barueri: Editora Novo Século, 2017. 
ANDRADE, Mário de. Seleta erótica /org. Eliane Robert Moraes. São Paulo: Ubu Editora, 2022.
ANDRADE, Maristela. Oliveira de. A viagem de Mário de Andrade ao Nordeste: missão cultural e pesquisa etnográfica. In: Cadernos De Estudos Sociais, v. 5, n. 2, 25(2), 2011.
BOTELHO, André. A viagem de Mário de Andrade à Amazônia entre raízes e rotas. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 57, p. 15-50, 2013.
DUARTE, Pedro. O Brasil e os brasis de Mário de Andrade: o fim do turista aprendiz?. In: Estudos Avançados, n. 36, 104 (fev. 2022), p. 35-52.
NATAL, Caion Meneguello. Mário de Andrade em Minas Gerais: Em busca das origens históricas e artísticas da nação. Artigo da História Social, (13), p. 193–207, 2011, Campinas. 
SANTOS, Marcelo Burgos Pimentel dos.Viagens de Mário de Andrade: A construção cultural do Brasil. Tese de doutorado em Ciências Sociais apresentada PUC, São Paulo, 2012.
TÉRCIO, Jason. Em busca da alma brasileira: biografia de Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019. 


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Quanta bravura cabe no coração de um homem?
Venceu a dor e o sofrimento para se tornar lenda. 
Não tinha medo do combate, na certeza de que a vitória vem da luta. 
Sangue guerreiro, instrumento da justiça. Herdeiro dos inquices de Nzuzu (águas) e Nzazi (justiça), trazia em si a força de duas afluentes.
Correntes se cruzaram em uma improvável mistura: Japão e África. 
Tambores ritmados ecoando no desaguar de diferentes sabedorias ancestrais. 
Das terras de Moçambique ao sol nascente, as marés da deusa Nzuzu conduziu um de seus filhos a um lugar distante. Pelo o vai e vem das ondas, no porto de Kyoto, esse jovem guerreiro foi guiado à nação de lendários samurais.
Vinha de mares distantes, esse tal detentor de valentia, cuja tamanha força o fazia alto e soberano. Havia sido levado de sua morada por jesuítas.
Durante o caminho das águas, aprendeu uma cultura que não era sua e acumulou muitas sabedorias, para além das que já trazia de seu povo. 
O Japão daquela época tinha escasso contato com o resto do mundo, mas os bárbaros do Sul vinham de além-mar. Faziam grande estardalhaço em prol de apenas um Deus.
Em meio às peles amarelas, a negrura reluziu à luz da lua.
Lugar de grandes templos e palácios, jardins de cervejeiras e lavouras de arroz. 
Toda aquela terra tinha um senhor, conhecido como daimyô. Seu nome era Oba Nobugara, quem possuía o desejo de unificar o Japão contra um período marcado por tantas guerras civis. Para isso, precisava de nobres guerreiros. 
O líder era receptivo aos forasteiros, ofertando um Templo dos Estrangeiros como moradia. Certo dia, um alvoroço tomou conta do local: todos queriam ver o homem que brilhava ao luar. Em um lugar no qual a pele preta assusta, o filho de Nzuzu e Nzazi despertou curiosidade.
Ao encontrar uma figura tão nobre, o senhor pensou que se tratava de uma artimanha dos estrangeiros para impressioná-lo. Ordenou que banhassem o homem alto, tentando limpar sua pele. Na água, escorrendo sobre a melanina, veio, em verdade, o motivo de orgulho. Sua cor reluziu. Não havia sujeira, havia beleza. Beleza guerreira. 
Escudo próprio forjado por seus ancestrais. Sua armadura, até ali, tinha sido sua raça. 
Convencido de seu erro, Nobugara reconheceu naquele homem a potência de um guerreiro. Nasceu uma bela amizade entre dois fortes combatentes.
O daimyô, então, batizou o forasteiro filho de Nzuzu e Nzazi: Yasuke. 
Além de seu vigor físico, Yasuke se destacou por sua sabedoria e sagacidade. Alinhava corpo e mente. Com sua alma nobre em território livre, poderia ser o que quisesse. 
Tornou-se aquele que serve a um senhor, um samurai.
A lenda do guerreiro com a força de dez homens correu os sete ventos.  
Além dos combates, passou muitas tardes tomando chá em animadas e prazerosas conversas com o senhor. Tornaram-se inseparáveis. 
Mostrando-se digno, a mais nobre honraria lhe foi dada. Espada forjada no fogo.
Instrumento de justiça, nobre obá. Herdeiro da bravura de Nzazi. 
Vermelho do justiceiro na Terra do Sol Nascente.
Entre lutas e guerras, o poder do senhor Nobugara só crescia, espalhando-se por mais lugares. O nobre, contudo, não contava com a traição de um dos seus. Foi assim que teve início um grande confronto que derramou muito sangue. 
Yasuke lutou até o último momento. Porém, derrotado por uma emboscada armada em um templo, o senhor se sacrificou. Coube ao negro samurai um último ato de coragem: o de tirar a vida de seu próprio mestre, levando a valentia do seu mentor adiante. Escorreu a lágrima clara sobre a pele escura. Entregou sua espada aos traidores, vendo o templo arder em chamas. As cinzas, então, espalharam ao vento mistério e incerteza. 
Não se sabe se ele sobreviveu ou qual foi o fim que levou o lendário guerreiro. 
De certo, tamanha bravura não pode ser apenas carregada pelo vento e, por isso, diz a lenda que o espírito de Yasuke ressurge no corpo de cada jovem preto. 
Principalmente, na São Paulo onde negros e asiáticos fazem Morada.
A cidade mais japonesa fora do arquipélago oriental. E, paradoxalmente, a que também mais mata jovens negros.
Diante de um mundo em que a pele preta assusta, é necessária uma armadura de samurai para enfrentar cada dia. Samurais da Quebrada, combinados em não morrer. 
Na Mocidade Alegre, todos possuem sangue guerreiro. Vestem-se de suas armaduras; trajam suas fantasias para enfrentar mais uma luta pela vitória no Anhembi. 
Benditos, louvados sejam! Aqueles que que encaram suas batalhas, independentemente dos temores do combate.



Texto: Leonardo Antan
Criação e desenvolvimento do enredo: Jorge Silveira e Ricardo Hessez


Glossário 


Nzuzu - É a deusa banto das águas, equivalente a Yemanjá. 
Nzazi - É o deus banto da justiça, equivalente a Xangô. 
Moçambique - País africano de onde Yasuke provavelmente é originário, optou-se pela denominação moderna do território para demarcá-lo. 
Kyoto - Antiga capital do Japão na época feudal.
Daymiô - Senhores de terra do Japão feudal.
Obá - Ministro de Xangô, orixá da justiça.






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Por Redação Carnavalize


Última escola a pisar na Marquês de Sapucaí no carnaval de 2023, a Unidos do Viradouro decidiu homenagear Rosa Courana, a primeira mulher negra a escrever um livro na história do Brasil. O carnavalesco Tarcísio Zanon assinou mais um projeto na agremiação de Niterói, mas desta vez como trabalho solo. Campeão com a vermelha e branca em 2020, ele desenvolveu o enredo intitulado “Rosa Maria Egipcíaca”, que contou a vida e a obra desta personagem fascinante e ainda desconhecida por muitos.

Na abertura do desfile, a comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Rodrigo Neri e Priscilla Mota, também conhecidos como o “Casal Segredo”, passou por diversas fases da vida de Rosa. A apresentação destacou a faceta mística da homenageada. Em determinado momento, uma ventania com petálas de rosa envolvia a personagem que representava a Santa aclamada pelo povo, que, no auge da performance, era coroada. A Viradouro talvez trouxe a melhor comissão do ano. Na sequência, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Julinho e Rute, fez referência à comunidade courana. Com uma dança enérgica, eles passaram muito bem e emocionaram.

A comissão da Viradouro emocionou e foi uma das melhores do ano (Foto: Diego Mendes/Rio Carnaval)

O enredo contou com um ótimo trabalho de pesquisa e foi muito bem contado. O carnavalesco teve bastante sensibilidade na abordagem de uma personagem controversa e não caiu em lugares comuns ao falar de escravidão. O que se viu foi um passeio interessante tanto em termos narrativos quanto estéticos. A abertura da escola exibiu um trabalho ousado de cores. Cada alegoria teve uma leitura e juntas formaram um conjunto consistente e de altíssimo nível. Os figurinos também mostraram um grande trabalho cromático. A plástica da escola foi muito regular, em todos os setores. Um trabalho que consagra Tarcísio Zanon como um dos grandes talentos artísticos do carnaval carioca.

Conjunto plástico da Viradouro exibiu um grande trabalho cromático (Foto: Diego Mendes/Rio Carnaval)

A Bateria Furacão Vermelho e Branco do Mestre Ciça passou pela Sapucaí com um andamento mais pra frente, porém nem tanto quanto em anos anteriores. O samba que tem um canto um tanto quanto complicado, foi favorecido por essa redução do ritmo. A bateria veio com um ritmo médio de 144bpm e o destaque foi para a bossa do refrão de meio, em que uma ala de timbaus fazia um solo enquanto a bateria toda abaixava. A ala de chocalhos por outro lado parecia que não estava uníssona e alguns pareciam sobrar. No mais, faltou um pouco mais da ousadia do mestre neste ano, porém, no geral, foi uma apresentação sólida dos comandados de Ciça.

Com um samba bonito e abraçado pela comunidade e uma evolução também impecável, a Viradouro deve brigar pelo título.




 

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Por Redação Carnavalize


Vice-campeã do último carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis escolheu abordar o bicentenário da Independência do Brasil de maneira crítica. Com o enredo intitulado “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”, os carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues procuraram questionar o caráter elitista e excludente da nossa Independência, tal como tratada nos discursos hegemônicos da “história oficial”.

Na abertura do desfile, a comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon, questionou os ditos heróis da Independência da história embranquecida e trouxe mensagens de protesto, exibidas por uma tela. A apresentação propunha o carnaval como responsável pela desmistificação da narrativa histórica hegemônica. A concepção era boa, mas a execução da performance, em alguns momentos, era um pouco confusa. O efeito de luz não ajudou, deixando escura demais a comissão. Na sequência, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Claudinho e Selminha Sorriso, mostrou sua experiência com uma coreografia bem executada. O único “porém” foi a ligeira impressão de um desencontro em uma pegada de mão, nos primeiros módulos. Vale ressaltar que houve momentos em que o casal ficou muito tempo parado, quando poderia ter aproveitado melhor o tempo.

Bela indumentária do experiente casal (Foto: Diego Mendes/Rio Carnaval)

O enredo trouxe uma proposta provocadora. O que se viu foi uma escola contestadora, que passeou pelas revoltas e movimentos populares e tentou dar protagonismo aos excluídos. A linguagem do desfile, em termos visuais, também foi provocadora. Foi percebida uma estética de passeata em alguns setores. O abre-alas sofreu com um princípio de incêndio na entrada e o segundo chassi acabou passando apagado. Chamou a atenção a grande mescla de alegorias e tripés. O conjunto de figurinos apostou tanto em fantasias mais tradicionais quanto em outras com leitura mais arrojada, utilizando materiais alternativos. Visualmente, a escola se destacou pela abertura e perdeu um pouco do impacto no final.
Abertura da escola impactou (Foto: Diego Mendes/Rio Carnaval)

A Bateria Soberana, dos Mestres Rodney e Plínio fez um desfile com várias bossas e arranjos em cima da melodia do samba, mas nada muito extraordinário. Com o seu andamento característico de não ser uma bateria muito pra frente, o samba, que é um dos melhores da safra e foi interpretado por Neguinho e Ludmilla, rendeu bem e deixou Nilópolis cantar bastante. Destaque para a ala de tamborins, para as caixas tocando firme e as frigideiras e entrando na hora certa da melodia do samba. A escola foi mais uma em que o som da avenida atravessou e em certos momentos pareceu atrapalhar a bateria. No geral, foi uma apresentação sólida.

Com um chão muito forte em termos de canto e erros pontuais de evolução, a Beija-Flor deve brigar por boas posições.


 

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Por Redação Carnavalize


Desafiando a tradicional dicotomia entre bem e mal, a Imperatriz Leopoldinense escolheu como enredo a saga de um personagem que não pode ser simplesmente classificado como herói ou vilão. O carnavalesco da agremiação, Leandro Vieira, decidiu falar de Lampião ao assinar o enredo intitulado “O aperreio do cabra que o Excomungado tratou com má-querença e o Santíssimo não deu guarida”. Ele apostou em uma narrativa delirante na qual o Rei do Cangaço, depois de morrer, vai ao Inferno e é barrado pelo Diabo. Em seguida, tenta ir para o Céu e é novamente impedido de entrar.

Na abertura do desfile, a comissão de frente, comandada pelo coreógrafo Marcelo Misailidis, trouxe, com contornos lúdicos, cenas de Lampião e seu bando, apostando na teatralização. A apresentação propiciou uma boa leitura do enredo e se mostrou bastante correta em termos de execução da performance. Na sequência, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, voltou a dançar junto e se entendeu muito bem. Eles ostentaram uma bela indumentária em tons alaranjados, fazendo referência a Lampião e Maria Bonita. Diante dos primeiros módulos, o casal fez uma apresentação correta, mas poderia ter exibido maior fluidez.

Detalhes da comissão de frente (Foto: Vítor Melo)


Indumentária do casal era belíssima (Foto: Vítor Melo)

O enredo foi desenvolvido de maneira primorosa por Leandro Vieira, se mostrando muito claro e coeso. Uma história delirante e deliciosamente brasileira e nordestina rendeu um visual à altura. O conjunto plástico era de excelência e requinte, com destaque para o trabalho de pintura de arte em cada alegoria, para o trabalho cromático e para um conjunto de figurinos extremamente competente, bem solucionado e que manteve o nível elevado em cada setor.

O Mestre Lolo, em mais um ano à frente da Swing da Leopoldina, mostrou um trabalho incrível e deu toda a sustentação para que o bom samba da escola rendesse o esperado na avenida. Com um andamento animado, mas sem correria, a bateria brincou na avenida e apresentou várias bossas muito criativas e empolgou a Sapucaí. O momento alto foi a bossa que começa com um xote na parte do “pelos campos do sertão vagueia”, passa por um forró no meio e vai até o final do refrão da cabeça do samba “eis o destino do valente Lampião!”, chocalhos bem valentes, tamborins com desenhos bem em cima do samba e as marcações bem pesadas que são características do trabalho de Lolo. Outro ponto alto foi a tabelinha entre Pitty de Menezes e a bateria. Perfeitamente alinhados, deram show. Excelente apresentação da bateria!

Com uma evolução fluida, solta e vibrante, a Imperatriz mostrou as credenciais para brigar pelo título. 




 

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